DE-LOVESTORY

As referências não eram boas, por isso esperávamos um misto da versão cantada de Horizonte Perdido com show de fim-de-ano escolar. Contudo, produzido com todos os requintes de que Hollywood é capaz, De-Lovely, mais que uma biografia não censurada do autor de Night and Day, é uma bela história de amor. A de Linda Lee Porter e o notável Cole. Ela foi sua musa e responsável pela ascensão dele como compositor de gênio. E uma mulher extraordinária, para ter convivido com as ligações dele - que também a amava - com homens, a ponto de manter o casamento com apenas uma breve separação, até a morte dela (em 1954)!

O filme (certamente para um público especializado) tem uma estrutura que difere em alguns aspectos das biografias cinematográficas mais convencionais. Um clima de fantasia e irrealidade se estabelece logo no começo, com Porter sendo procurado por um homem misterioso (Jonathan Pryce, de Brazil, o Filme e Evita - seria uma espécie de anjo da morte, como em All That Jazz, de Bob Fosse) que o leva a assistir um show sobre sua vida, com os personagens com quem conviveu. A maior parte das canções são inseridas também de maneira menos tradicional (repare-se na utilização de Love for Sale, na voz de Vivian Green). No filme, Porter não compõe Night and Day como Cary Grant na sua biografia anterior, Canção Inesquecível (1946), criando a canção após ouvir ruídos de chuva e o tique-taque de um relógio. Aqui, a canção aparece na cena em que Porter (Kevin Kline) guia um cantor (John Barrowman) na verdadeira interpretação da música, acentuando as palavras. O repertório musical é extenso, de épocas e espetáculos diferentes.

A bela So in Love, que vem de Kiss me Kate (que gerou Dá-me um Beijo, de 1954), o qual é reproduzido em cena interpretada por Lara Fabian e Mario Frangoulis. De-Lovely pode não ser um grande sucesso, mas com essas músicas, como diz a velha canção, who could ask for anything more?

Carlos M. Motta