Depois da 27ª...

por Carlos Motta

...a vida volta ao normal. Em termos, porque estrearam, em São Paulo, vários filmes na sexta-feira passada e outro no meio da semana. Sete ao todo. Ararat, exibido na Mostra do ano passado só agora estreou. Dirigido por Atom Egoyan, é talvez o mais acessível dele, apesar de evocar um fato histórico não muito conhecido e ter roteiro complexo - um filme dentro do filme - mas não confuso, com algumas cenas fora da ordem cronológica (se nossa memória não falha, pois o assistimos há um ano). Tudo envolve uma superprodução sobre o massacre de um milhão, ou mais, de armênios pelo exército turco em 1915, antes da Armênia tornar-se república independente, em 1918.

Da Armênia, passamos para o Canadá ou, mais exatamente, a As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand. Uma viagem político-sentimental, de reencontro, perdão, memórias e amizade. Arcand traz de novo, 16 anos depois, de seu excelente O Declínio do Império Americano, os mesmos personagens (e alguns novos), vividos pelos mesmos atores, do filme anterior. Um, Remy (Remy Girard) tem doença terminal e a esposa, da qual se divorciou, convoca o filho (Stephane Rousseau) que, por sua vez, convoca os amigos dele para uma visita alegre, confortadora, onde lembram os velhos tempos e refletem sobre o que se tornaram, se concretizaram os sonhos, e sobre o status de seu país (pelo que se vê, a saúde pública lá não é exatamente um paraíso e é vista com realismo e humor). O filme toca particularmente na relação magoada entre pai e filho (um capitalista puritano e ambicioso, nas palavras do pai), mas que se resolve de forma tocante na seqüência final.

Pauline na Praia, de Erich Rohmer, de 83, ocupa uma das salas do Top Cine e é parte da série dos chamados contos morais do cineasta, um artista para platéias especiais. Envolve Marion (Arielle Dombasle), que vai passar as férias de outono com a sobrinha Pauline (Amandfa Langlet), quando encontram um conhecido de Marion que se interessa por Pauline. Só que ela prefere um outro rapaz, Sylvain. Um exercício de estilo, com muito diálogo, como de hábito nos filmes dele. Para gostar ou detestar.

A viagem cinematográfica desvia-se para a Inglaterra, com o simpático Driblando o Destino (Bend it Like Beckham), sobre uma jovem filha de indianos, que adora futebol e em especial o craque David Beckham, e que é convidada a jogar num time profissional feminino. Só que a família, particularmente a mãe, que como todas quer que seu(sua) filho(a) se case, tenha filhos e preserve os valores culturais de sua ascendência. Um filme leve e agradável, bem diferente de outras duas fitas que estrearam: Freddy vs.Jason, que não assistimos (nem queremos) e é mais um capítulo da franquia Sexta Feira 13 acrescida de outra, a iniciada com A Hora do Pesadelo.

O outro é Era uma Vez no México, de Robert Rodriguez. Tolerância zero para este exercício de violência explícita ou espetaculosa,que parece uma refilmagem da refilmagem do primeiro filme do diretor, El Mariachi. Com uma série de periódicos (como as lutas nos filmes de kung fu) tiroteios em que corpos voam, depencam ou vão de encontro às paredes com o impacto dos tiros (que no cinema são sempre estrondos). Com cenas do passado, para complicar ainda mais um roteiro confuso, com uma overdose de vilões, três (ou seriam quatro? - Mickey Rourke, com aquele cachorrinho, o que era mesmo?) e um virtuosismo de câmera e de montagem que não disfarçam a única intenção de mostrar matanças. Rodriguez ingressa definitivamente na categoria dos diretores carniceiros. E ele mesmo diz que filmou e editou o filme (além de outras funções, incluindo som!) Na cena finalíssima, com Banderas, por sinal, há um corte brusco para entrar os letreiros finais. A outra das sete estréias (31 a 05/11) é Matrix Revolutions, da qual sabemos apenas que é a última parte da trilogia dos irmãos Warchovski.