por Carlos Motta
...a vida volta ao normal. Em termos, porque estrearam, em
São Paulo, vários
filmes na sexta-feira passada e outro no meio
da semana. Sete ao todo. Ararat, exibido na Mostra do ano passado
só agora
estreou. Dirigido por Atom Egoyan, é talvez o mais acessível
dele, apesar de evocar um fato histórico não
muito conhecido e ter roteiro complexo - um filme dentro do
filme - mas não confuso, com algumas cenas fora da ordem
cronológica (se nossa memória não falha,
pois o assistimos há um ano). Tudo envolve uma superprodução
sobre o massacre de um milhão, ou mais, de armênios
pelo exército turco em 1915, antes da Armênia
tornar-se república independente, em 1918.
Da Armênia, passamos para o Canadá ou, mais exatamente,
a As Invasões Bárbaras, de Denys Arcand. Uma
viagem político-sentimental, de reencontro, perdão,
memórias e amizade. Arcand traz de novo, 16 anos depois,
de seu excelente O Declínio do Império Americano,
os mesmos personagens (e alguns novos), vividos pelos mesmos
atores, do filme anterior. Um, Remy (Remy Girard) tem doença
terminal e a esposa, da qual se divorciou, convoca o filho
(Stephane Rousseau) que, por sua vez, convoca os amigos dele
para uma visita alegre, confortadora, onde lembram os velhos
tempos e refletem sobre o que se tornaram, se concretizaram
os sonhos, e sobre o status de seu país (pelo que se
vê, a saúde pública lá não é exatamente
um paraíso e é vista com realismo e humor). O
filme toca particularmente na relação magoada
entre pai e filho (um capitalista puritano e ambicioso, nas
palavras do pai), mas que se resolve de forma tocante na seqüência
final.
Pauline na Praia, de Erich Rohmer, de 83, ocupa uma das salas
do Top Cine e é parte da série dos chamados contos
morais do cineasta, um artista para platéias especiais.
Envolve Marion (Arielle Dombasle), que vai passar as férias
de outono com a sobrinha Pauline (Amandfa Langlet), quando
encontram um conhecido de Marion que se interessa por Pauline.
Só que ela prefere um outro rapaz, Sylvain. Um exercício
de estilo, com muito diálogo, como de hábito
nos filmes dele. Para gostar ou detestar.
A viagem cinematográfica desvia-se para a Inglaterra,
com o simpático Driblando o Destino (Bend it Like Beckham),
sobre uma jovem filha de indianos, que adora futebol e em especial
o craque David Beckham, e que é convidada a jogar num
time profissional feminino. Só que a família,
particularmente a mãe, que como todas quer que seu(sua)
filho(a) se case, tenha filhos e preserve os valores culturais
de sua ascendência. Um filme leve e agradável,
bem diferente de outras duas fitas que estrearam: Freddy
vs.Jason,
que não assistimos (nem queremos) e é mais um
capítulo da franquia Sexta Feira 13 acrescida de outra,
a iniciada com A Hora do Pesadelo.
O outro é Era uma Vez no México, de Robert
Rodriguez. Tolerância zero para este exercício
de violência
explícita ou espetaculosa,que parece uma refilmagem
da refilmagem do primeiro filme do diretor, El Mariachi.
Com uma série de periódicos (como as lutas nos
filmes de kung fu) tiroteios em que corpos voam, depencam ou
vão
de encontro às paredes com o impacto dos tiros (que
no cinema são sempre estrondos). Com cenas do passado,
para complicar ainda mais um roteiro confuso, com uma overdose
de vilões, três (ou seriam quatro? - Mickey Rourke,
com aquele cachorrinho, o que era mesmo?) e um virtuosismo
de câmera
e de montagem que não disfarçam a única
intenção de mostrar matanças. Rodriguez
ingressa definitivamente na categoria dos diretores carniceiros.
E ele mesmo diz que filmou e editou o filme (além de
outras funções, incluindo som!) Na cena finalíssima,
com Banderas, por sinal, há um corte brusco para entrar
os letreiros finais. A outra das sete estréias (31 a
05/11) é Matrix Revolutions, da qual sabemos apenas
que é a última parte da trilogia dos irmãos
Warchovski.