O tema do filme de Bertrand Tavernier, que estréia
hoje pelo Filmes do Estação, é aparentemente
inédito, o cinema francês durante a Ocupação
(O Último Metrô, de Truffaut era sobre teatro)
nazista na II Guerra Mundial. Os personagens são reais,
cineasta, roteiristas, atores, centrados na pessoa de Jean
Devaivre (Jacques Gamblin), que é assistente de direção
num estúdio encampado por uma produtora alemã,
a Continental desde 1940, mas produzindo filmes franceses.
Devraive era também um lutador da Resistência.
Outros personagens importantes são um roteirista, Jean
Aurenche e um diretor, Maurice Tourneur, nessa
ocasião
filmando sua obra-prima, A Mão do Diabo (1943),
do qual se vê alguns trechos. Devraive é casado
e com um filho e Aurenche se divide entre mais de uma amante,
incluindo
uma atriz, e luta para recusar qualquer oferta de trabalho
vinda dos alemães. Longo (quase 3 horas), mas nunca
cansativo, graças à eficiente direção
de Tavernier, o filme exige um certo conhecimento dos nomes
e filmes e, por isso, merece a atenção das novas
gerações de críticos e aficionados.
Veja
uma espécie de glossário de algumas personalidades
citadas ou aparecendo como personagem:
Jean Devraive:
foi cenógrafo,
depois assistente de filmes de Maurice Tourneur e
outros, realizou também curtas. Primeiro filme em 1945, Le
Roi des Resquilleurs.
Ficou conhecido no Brasil por Caprichos de uma Mulher (Un
Caprice de Caroline Chèrie, 52), Os Amores do Filho
de Carolina (Le Fil de Caroline Chèrie,
54) e Arrojada Decisão (LÌnspecteur
Aime la Bagarre - 56).
Jean Aurenche: escreveu
roteiros em colaboração com Pierre Bost (também
personagem no filme) para filmes como Dulce, Paixão
de uma Noite, de Claude Autant-Lara, que é citado
e
A Lei de Quem Tem o Poder (Coup de Torchon, 81, do
próprio
Bertrand Tavernier.
Maurice Tourneur: Também
trabalhou em Hollywood (seus filmes franceses influenciaram
diretores
americanos). Pai do também diretor Jacques Tourneur.
Charles Spaak: Um dos melhores roteiristas
da França,
nascido na Bélgica. Esteve preso pelos alemães
(no filme o vemos escrevendo na prisão). Escreveu A
Grande Ilusão, de Jean Renoir. Sua bonita filha
Catherine foi estrela nos anos 60 e 70.
Pierre
Fresnay: Um do mais prestigiados atores de seu cinema,
muitos filmes além dos citados A Grande Ilusão e A
Mão
do Diabo.
Jean Paul LeChanois: Diretor
de origem judia, de sobrenome real Dreyfuss, realizou uma das
várias versões
de Os Miseráveis, um episódio de A
Francesa e o Amor (1960), Papai, Mamãe, a Criada
e Eu, de 56, seu
maior sucesso.
Richard Pottier: Diretor aqui
conhecido por Os Amores de Carolina (50), com Martine
Carol, que teve duas continuações dirigidas por Devaivre
(ver acima).
Harry Baur: Um dos monstros sagrados da França,
de físico
avantajado, interpretou personagens como Jean Valjean de Os
Miseráveis, o inspetor Maigret de Simenon, o juiz
Porphyre de Crime e Castigo. Denunciado como judeu
(não
era) ficou sem trabalho, foi reabilitado, mas morreu pouco
depois,
em 1943.
Por Carlos M. Motta
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