LANÇAMENTO DE "O PIANISTA "

Estivemos na sessão para a imprensa do filme "O Pianista , um filme que se passa na Segunda Guerra Mundial, extremamente sensível (nunca vi tantos críticos e jornalistas sairem chorando do cinema em muitos anos...), retrata, através do personagem principal, o pianista Wladyslaw Szpilman os horrores da guerra, de uma forma impressionante, até mesmo chocante, pois realmente mostra a guerra como ela foi, suja, sem "pirotecnia" ou imagens "hollywwodyanas", ceia de explosões, efeitos especiais etc. O "efeito especial" vem da própria história, verídica. Não li o livro, mas me parece que o filme foi bem fiel a ele. Polanski deu ao filme o tom certo, numa narrativa de perder o fôlego. Os cenários estão brilhantes, os da cidade de Varsóvia destruída no final da guerra (realizada por computação gráfica) são perfeitos (conversei com algumas pessoas que estudaram o assunto, a Segunda Guerra, após o filme, que me confirmaram isto). Um dos favoritos ao Oscar deste ano, sem dúvida.

Vejam abaixo o release distribuído à imprensa pela distribuidora Europa Filmes:


O PIANISTA

FILME DE ROMAN POLANSKI
baseado nas memórias de
Wladyslaw Szpilman

ROTEIRO
Ronald HARWOOD

ESTRELANDO
Adrien BRODY
Thomas KRETSCHMANN

SINOPSE

Wladyslaw Szpilman, brilhante pianista polonês judeu, escapa da deportação. Forçado a viver no coração do gueto de Varsóvia, ele compartilha o sofrimento, a humilhação e a luta pela vida. Wladyslaw consegue escapar e se esconder nas ruínas da capital. Um oficial alemão, admirador de música, encontra-o e o ajuda a sobreviver.

ELENCO

Wladyslaw Szpilman ADRIEN BRODY
Oficial Alemão THOMAS KRETSCHMAN
Pai FRANK FINLAY
Mãe MAUREEN LIPMAN
Henryk ED STOPPARD
Regina JULIA RAYNER
Halina JESSICA KATE MEYER
Dorota EMILIA FOX
Janina RUTH PLATT, dentre outros

EQUIPE DE PRODUÇÃO

Diretor / Produtor ROMAN POLANSKI
Produtores ROBERT BENMUSSA, ALAIN SARDE
Co-produtor GENE GUTOWSKI
Produtor Executivo LEW RYWIN
Produtor Associado TIMOTHY BURILL
Roteiro RONALD HARWOOD
Produtor Artístico ALLAN STARSKI
Diretor de Fotografia PAWEL EDELMAN
Figurino ANNA SHEPPARD
Trilha Sonora Original WOJCIECH KILAR, dentre outros


ROMAN POLANSKI

Nascido em Paris e filho de poloneses, Roman Polanski cresceu na Polônia, onde estudou na Escola de Artes de Cracóvia e na Escola Nacional de Cinema em Lodz. Estreou como ator aos 14 anos e participou do popular programa de rádio The Merry Gang. Ainda adolescente, atuou no filme Three Stories, e, a seguir, interpretou pequenos papéis em diversos filmes poloneses, incluindo Generation, de Andrzej Wadja. Ainda na Escola de Cinema, Polanski dirigiu vários filmes de curta-metragem incluindo Dois Homens e um Guarda-roupa (1957); Quando os Anjos Caem (1958); O Gordo e o Magro (1958), e Os Mamíferos (1961), todos premiados em vários festivais de cinema. Seu primeiro filme foi A Faca na Água (Knife in the Water, 1962), que ganhou o Prêmio da Crítica no Festival de Veneza, também indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O primeiro filme de Polanski em língua inglesa foi Repulsa do Sexo (Repulsion), realizado na Inglaterra em 1964 e estrelado por Catherine Deneuve, ganhou o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim.

A seguir, dirigiu Armadilha do Destino (Cul-De-Sac, 1966), que ganhou o Urso de Ouro, no mesmo festival. O filme seguinte, A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampires Killers, 1967), Polanski interpretou o papel principal. Seu primeiro filme de produção americana foi O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968), pelo qual recebeu uma indicação para o Oscar de Melhor Filme. Em 1972, Polanski voltou à Europa para dirigir uma adaptação de Macbeth (que escreveu com Kenneth Tynan) e, em 1973, dirigiu Marcello Mastroianni em Quê? (What?). O ano de 1974, marcou a volta de Polanski a Holywood com Chinatown, vencedor do Globo de Ouro e indicado para onze estatuetas do Oscar, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Diretor, mas ganhou apenas o de Melhor Roteiro Original. Em 1976, Polanski voltou à Europa e dirigiu O Inquilino (The Tenant), com Isabelle Adjani e Shelly Winters, estrelado por ele mesmo. Seu filme seguinte, Tess de Polanski (1979), foi indicado para seis categorias do Oscar, incluindo o de Melhor Diretor; ganhou três por Melhor Direção de Fotografia, Direção de Arte e Figurino. Em 1984, Polanski escreveu sua autobiografia, Roman, que foi best-seller, em diversos idiomas. Em 1986, filmou a aventura Piratas (Pirates), com Walther Matthau, seguido do thriller Busca Frenética (Frantic, 1988), com Harrison Ford e Emmanuelle Seigner, que marcou o primeiro grande papel no cinema; Lua de Fel (Bitter Moon, 1992), com Hugh Grant e Peter Coyote; O Último Portal (The Ninth Gate, 1998), com Johnny Depp e Lena Olin.

Nos palcos, Polanski dirigiu a ópera Lulu de Alban Berg no Festival Spoleto; Rigoleto de Verdi no Ópera de Munique, e Tales of Hoffman, no Paris Opera Bastille. Em 1981, dirigiu e estrelou Amadeus, de Peter Shaffers, primeiro em Varsóvia e, depois, em Paris. Em 1988, interpretou o papel principal na adaptação de Stephan Berkoff para Metamorfose de Kafka. Polanski dirigiu a comédia musical Taz der Vampire em 1996 em Viena. Em 1993, Polanski atuou ao lado de Gerard Depardieu em Uma Simples Formalidade (A Pure Formality), de Giuseppe Tornatore.

Filmografia:

Longa-metragem

O Último Portal (The Ninth Gate), 1999
A Morte e a Donzela (Death and the Maiden), 1994
Lua de Fel (Bitter Moon), 1992
Busca Frenética (Frantic), 1988
Piratas (Pirates), 1986
Tess, 1979
O Inquilino (The Tenant), 1976
Chinatown, 1974
O Quê? (What?), 1973
Macbeth 1971
O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby), 1968
A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampires Killers), 1967
Armadilha do Destino (Cul-De-Sac), 1966
Repulsa do Sexo (Repulsion), 1965
A Faca na Água (Knife in the Water)

Curta-Metragem:

Os Mamíferos - Mammals, 1962
O Gordo e o Magro - The Fat and the Lean, 1961
Quando os Anjos Caem - When Angels Falls, 1959
A Lâmpada - Lampa, 1959
Dois Homens e um Guarda-roupa - Two Men and a Wardrobe, 1958
A Murder, 1957
Termine a Dança - Rosbijemy Zabawe, 1957
Teeth Smile, 1957
A Moto - Bicycle, 1955

OBSERVAÇÕES DO DIRETOR

por Roman Polanski

Eu sempre soube que um dia faria um filme sobre esse período muito doloroso da história da Polônia, mas não queria que fosse autobiográfico. Assim que li os primeiros capítulos das memórias de Wladyslaw Szpilman, soube que O PIANISTA seria o meu próximo filme. Aquela era a história que procurava e, apesar de todo o horror, ela tinha uma visão otimista e era cheio de esperança.

Eu assisti ao bombardeio de Varsóvia e queria recriar tudo o que me lembrava da minha infância. Queria me manter fiel à realidade o máximo possível e evitar qualquer "mentirinha" ao estilo hollywoodiano.

Assim como nas minhas próprias experiências, eu podia confiar na autenticidade da história de Szpilman, que a escreveu logo depois da guerra. É por isso que ela é tão forte e autêntica. Ele descreve a realidade da época com uma objetividade surpreendente, quase indiferente. No livro, existem poloneses bons e poloneses ruins, judeus bons e judeus ruins, alemães bons e alemães ruins. Antes de começarmos a filmar, é claro, consultamos historiadores e sobreviventes do gueto e, também, exibi a toda a equipe uma série de documentários sobre o gueto de Varsóvia.

Quanto ao ator que interpretaria Szpilman, não estava interessado em semelhança física. Queria um ator que conseguisse personificar o personagem como eu o havia imaginado ao escrever o roteiro. Era importante que não fosse um nome conhecido. Como o filme iria ser realizado na Inglaterra, precisávamos de alguém que falasse o idioma fluentemente. Organizamos testes em Londres e para a nossa surpresa, apareceram 1.400 pessoas, incluindo mulheres, asiáticos e negros. Depois dos testes, percebemos que seria difícil encontrar alguém sem qualquer experiência, então estendemos a nossa busca aos atores profissionais. Não consegui encontrar ninguém na Inglaterra que se encaixasse, então ampliei minhas buscas aos Estados Unidos. Queria um ator jovem e, quando vi o trabalho de Adrien Brody, não hesitei: ele era O PIANISTA.

POLÔNIA

Se não for agora, quando?

"Eu sempre soube," diz Polanski, "que um dia faria um filme sobre esse período muito doloroso da história da Polônia, mas não queria que fosse sobre a minha própria vida."

"Ao visitar Cracóvia em busca de locações para O PIANISTA, as lembranças ressurgiram. Caminhando pelas ruas do que um dia foi o gueto, o que eu senti naquele momento provou que não poderia fazer o filme em Cracóvia. Nunca fiz e nem pretendi fazer nada autobiográfico, mas usei a experiência de ter passado por tudo aquilo para fazer o filme."

O desejo de Polanski de voltar a Polônia se cristalizou quando ele leu o relato autobiográfico de Wladyslaw Szpilman sobre sua extraordinária fuga do gueto. "Assim que li os primeiros capítulos das memórias de Wladyslaw Szpilman, soube que aquele seria o assunto do meu próximo filme. Era a história que procurava. Sabia como contá-la. Era uma obra positiva; apesar de todo o horror, havia esperança."

O PASSADO

Autenticidade

"Assisti ao bombardeio de Varsóvia e queria recriar tudo o que me lembrava da minha infância. Queria me manter fiel à realidade o máximo possível e evitar qualquer "mentirinha" ao estilo hollywoodiano."

Além de suas lembranças pessoais, Polanski confiava nas autenticidade das memórias de Szpilman. "O livro foi escrito logo depois da guerra e, talvez por isso, ele seja tão verdadeiro. O livro mostra a realidade da época com uma objetividade fria e surpreendente. Existem no livro poloneses maus e poloneses decentes, judeus maus e judeus decentes, alemães maus e alemães decentes." Assim que os alemães entraram em Varsóvia em setembro de 1939, a perseguição contra os judeus começou. O gueto cresceu até que os 360.000 judeus de Varsóvia com outros 100.000 de cidades próximas foram confinados dentro de suas paredes. Quando a brutalidade nazista superou a relutância do povo em acreditar nos rumores de massacres e em campos de extermínio, a resistência cresceu, culminando no heróico levante de abril de 1943. O sucesso da revolta precipitou os planos alemães. A maior comunidade judia na Europa foi cruelmente exterminada.

Além de consultar historiadores e sobreviventes do gueto, como Marek Edelman, antes de começar as filmagens, Polanski decidiu exibir para a equipe de produção vários documentários sobre o gueto de Varsóvia. Ninguém tinha mais qualquer dúvida da importância de reconstituir totalmente os detalhes da sobrevivência miraculosa de Szpilman.


ENTREVISTA COLETIVA À IMPRENSA EM VARSÓVIA

(28 de Março de 2001)

- Por que você ficou tão atraído pelo livro de Wladyslaw Szpilman? O que havia nele de tão importante e por que, como você mesmo disse, acredita neste filme como não acreditou em nenhum outro antes?

Roman Polanski: Este livro descreve os eventos que lembro de minha juventude. Por muitos anos, planejei fazer um filme sobre esta época, mas não conseguia encontrar o assunto certo, a história certa. O livro de Szpilman não é mais um capítulo da história sobre o martírio judeu que todos conhecemos. O livro descreve esses eventos sob o ponto de vista de um homem que viveu nele. Ele mostra a realidade dessa época com uma objetividade fria e surpreendente. Existem no livro poloneses maus e poloneses decentes, judeus maus e judeus decentes, alemães maus e alemães decentes. Como sabemos, o livro foi escrito logo depois da guerra e, talvez por isso, ele seja tão verdadeiro, diferente do que foi escrito 20, 30 anos depois da guerra. Assim que li os primeiros capítulos soube que aquele seria o tema do meu próximo filme.

- O Sr. Ronald Harwood, co-autor do roteiro, disse: "A contribuição de Roman Polanski ao roteiro foi enorme. Muitas soluções, que ninguém mais teria pensado, foram tiradas de suas próprias experiências." Até que ponto este filme é sua criação pessoal?

R.P.: Veja, por muitas vezes, li coisas que poderiam ou não ser o tema de um filme como este, mas estavam sempre muito próximos das minhas experiências da guerra. Não era isso que eu queria. Neste aqui, entretanto, temos a descrição do gueto de Varsóvia, eu estava no gueto de Cracóvia, o que significa que eu vivi naquele período, que conheci os alemães da época, bem como os judeus e poloneses. Ao mesmo tempo, poderia usar a minha própria experiência enquanto escrevia o roteiro, sem torná-lo biografia. Era tudo o que queria evitar. Foi fácil para mim trabalhar neste roteiro, porque ele não estava relacionado aos eventos, ruas e pessoas que eu me lembro da época.

- Falando de Ronald Harwood, qual foi o motivo que o levou a escolhê-lo para escrever o roteiro, considerando que ele é um dramaturgo muito conhecido?

R.P.: Precisava de alguém que soubesse como escrever este tipo de roteiro, isto é, alguém que já tivesse alguma experiência no assunto. Ronald Harwood já escreveu peças e roteiros relacionados a este período na história. Eu o admiro enormemente tanto como escritor quanto dramaturgo, principalmente por suas peças, a já mencionada O Fiel Camareiro (The Dresser) e... não me lembro do título em polonês da outra peça, Taking Sides, que foi recentemente montada em Varsóvia. É uma peça sobre Furgwegler, o condutor que foi acusado de colaboração com os nazistas. Qual é o título mesmo? "Za i przeciw". Depois de assistir a esta peça, grande sucesso em Paris do ano passado, que me convenci de que ele era perfeito para o trabalho.

- Você disse muitas vezes que tratou a história contada em O PIANISTA de forma muito pessoal. Você planeja dar seu testemunho, aparecendo pessoalmente em alguma das cenas?

R.P.: Absolutamente não. Quero que tudo no filme pareça o mais realista possível. Fazer aparições em filmes é uma das características de Hitchcock e... isto deixa no ar uma sensação de uma brincadeira pessoal, o que quero evitar neste tema em particular. É claro que seria simbólico, mas já que sou conhecido e as pessoas costumam me reconhecer pelas ruas, provavelmente provocaria conotações enganosas. Todos logo dirão: "É o Polanski, o Polanski!", prefiro evitar.

- Qual foi o maior desafio de seu filme?
R.P.: Provavelmente todos sabem que interpretar é, de certa forma, uma profissão pouco saudável. Isso porque a verdadeira interpretação requer a vivência do papel. Quando você diz isso a pessoas que não entendem muito sobre interpretação, elas normalmente reagem com um sorriso condescendente. Mas como alguém que tem experiência nesta profissão, posso garantir que é totalmente viciante. Um bom ator, que incorpora realmente o que interpreta, vive o seu papel por 12, 14, ou, como foi no nosso caso, 16 semanas até o final, raramente sai ileso.

- Falando nisso, como você imaginou o ator para interpretar o papel principal? Que características especiais queria? E como procurou e o que o fez escolher o Sr. Adrien Brody?

R.P.: Posso lhe dizer uma coisa com certeza: nunca procurei semelhança física, porque na minha opinião, isso não importava. O que eu queria era um ator que se encaixasse no personagem que tinha em mente enquanto escrevia o roteiro com Ronald Harwood. Era muito importante que ele não fosse uma celebridade, um ator muito conhecido, pela mesma razão que já falei antes com relação a minha participação no filme. Foi por isso que decidimos, desde o começo, tentar encontrar um ator iniciante. Mas já que o filme seria filmado na Inglaterra, precisávamos de alguém que falasse inglês fluentemente. Então, procuramos em Londres, por talentos ainda não descobertos. Fizemos o casting lá. Os organizadores ficaram surpresos ao ver tantos candidatos; 1.400 pessoas se candidataram, dentre eles algumas mulheres, alguns chineses, alguns negros, etc. Depois dos testes, percebemos que seria difícil encontrar alguém sem nenhuma experiência; então, começamos a procurar entre os atores profissionais. Não encontrei ninguém na Inglaterra, então resolvi ampliar a minha busca. A América era a escolha óbvia, pois como todos sabem, fala-se inglês fluentemente lá.

- Quando se lê O PIANISTA, tem-se a impressão que Szpilman se culpa por não tentar encontrar Hosenfeld, o oficial alemão. Você concorda com isso? E neste caso, há algum momento de hesitação em seu filme, enfatizando a tragédia do oficial alemão?

R.P.: Há um momento assim no filme, mas não concordo que Szpilman tenha tido algum tipo de arrependimento, ou tenha se culpado. Na minha opinião, a questão é a expressão de sua modéstia. Como sabemos, ele fez tudo que pode para salvar a vida de Hosenfeld. Ele até recorreu às autoridades comunistas e não teve sucesso, é claro. Todos sabem que era uma causa perdida. Nós também sabemos que ele foi procurado pela família de Hosenfeld e que eles tiveram contato. Creio que a família esteve em Varsóvia duas vezes. A propósito, nós também procuramos o filho de Hosenfeld em Berlim.

- Como você ajudou o seu ator a entender a realidade mostrada no filme, a atmosfera da época?

R.P.: É difícil de explicar verbalmente. Você teria de ir até o set e ver como é feito. Depende do momento, da cena e, é claro, do autor. Não quero falar demais sobre Adrien aqui, para que não vire uma troca de elogios. Ia virar o próprio clubinho de elogios mútuos. Espero que o filme chegue em breve aos cinemas poloneses e que vocês possam assistir.

- Gostaria de perguntar sobre o impacto psicológico ao realizar este filme. Como se sentiu filmando na Polônia? Sei que é o seu primeiro filme realizado aqui depois de A Faca na Água Este fato dá um toque diferente, principalmente quando o tema central do filme está enraizado em suas próprias experiências? Ele é totalmente diferente de "O Último Portal". Como se você preparou emocionalmente para isto?

R.P.: Não precisei me preparar, foi suficiente ler o livro para voltar imediatamente àqueles momentos, psicologicamente falando. Voltar fisicamente, sem dúvida, ajuda, o idioma polonês, os costumes poloneses, a atmosfera do país, etc. Tudo aconteceu automaticamente. Devo admitir, entretanto, que filmar com alemães em Berlim foi muito mais fácil para nós. Ao ouvir os alemães gritarem e ao vê-los vestidos em seus uniformes, dei-me conta que não poderia filmar em outro lugar que não fosse a Polônia.

- Deve ter sido uma experiência significante filmar na Polônia depois de tantos anos. A Faca na Água marcou sua estréia, é um dos melhores filmes que eu já vi. Gostaria de lhe fazer uma pergunta técnica: você filmará em locações originais em Varsóvia, como a Avenida Niepodlegosci, na rua Noakowskiego, ou na rua Puawaska?

R.P.: Não. Infelizmente essas ruas não existem mais. Mas temos que dar um jeito. Devo dizer que, felizmente, a tecnologia atual nos permite recriar certas coisas que já não existem mais. Estou falando do uso do computador que é tão comum em outros filmes, mas no nosso, passará despercebido. Com relação às locações originais, só iremos filmar nas ruas Kralowskie Przedmiescie e na Kozia. As outras locações serão na cidade de Praga. Devo admitir que tive muita sorte. Não sei se é a palavra certa. Em 1939, logo depois que a guerra começou, todos os homens foram para o leste por alguma razão que não sei, visto que eu, minha mãe e irmã fomos para Varsóvia. Eu sobrevivi ao bombardeio de Varsóvia e vivi aqui por duas semanas. Lembro-me de tudo muito bem. Queria recriar tudo o que me lembro de minha infância. Não me lembro da Avenida Ujazdowskie, eu me lembro de uma Varsóvia igual à Praga de hoje: ruas escuras, tráfego intenso, prédios da virada do século. Foi por isso que filmamos lá.

- Mais uma pergunta técnica que esteve presente em nossa discussão desde o princípio. Gostaria de lhe pedir que comentasse sobre a ironia da história, você filmando O PIANISTA simultaneamente ao caso Jedwabno. Poderia comentar a coincidência?

R.P.: É, como você falou, uma coincidência e é difícil para mim relacionar isto à minha própria experiência de fazer o filme na Polônia. As pessoas continuarão a descobrir outros casos, talvez porque muitos anos se passaram daquela época e os poloneses têm, agora, uma perspectiva maior e mais objetiva da história de seu país. E mais, a geração de hoje não precisa sentir qualquer responsabilidade pelo que aconteceu naquela época.

- Por quanto tempo vocês filmarão em Varsóvia?

R.P.: Resta ainda mais 11 semanas.

- Já considerou fazer um filme sobre Abi Rozner? Sua biografia foi mostrada recentemente na TV, acho que talvez mereça um roteiro para cinema? Estou segurando um livro "Roman by Polanski". Você vai filmá-lo ou entregará o roteiro para outra pessoa?

R.P.: Quanto a primeira pergunta, nunca pensei em desenvolver este projeto. Acho que já respondi a sua segunda pergunta. Voltando a primeira, posso garantir que não. Definitivamente, não estou fazendo a minha biografia, porque não me interessa. Faço filmes e não documentários. Espero que nunca realizem um filme sobre a minha vida.

- Pode nos falar sobre sua relação com o Sr. Szpilman? Vocês conversaram sobre o filme? Quais foram suas exigências? Quais foram suas sugestões?

R.P.: O Sr. Szpilman não fez nenhuma sugestão em particular, ele apenas se limitou a dizer como estava feliz de ver seu livro virar filme e ser dirigido por mim. Eu só vi o Sr. Szpilman três vezes. A primeira vez, em Los Angeles, muito tempo atrás, durante uma de suas visitas a América. A segunda vez foi aqui, no Clube dos Jornalistas, cerca de 12 anos atrás. Jantava com Morgenstern, Szpilman apareceu e se sentou conosco, e jantamos juntos. Depois que resolvi fazer o filme, nós nos vimos pela terceira vez; visitei Szpilman com Gene Gutowski, tomamos chá e conversamos sobre o filme.

- Seus filmes normalmente criam a realidade, mais do que a recriam. Depois do que disse hoje, posso assumir que você tentará recriar a realidade de Szpilman e não acrescentar nada de si mesmo?

R.P.: A minha aproximação neste filme é, definitivamente, diferente. Cada assunto requer um tratamento diferente.

- Existem atores poloneses famosos no elenco de O PIANISTA. Nós os identificaremos no filme?

R.P.: Você verá atores poloneses em pequenos papéis, pois como já falei, o filme é filmado em inglês. Por isso nossa escolha ficou limitada a atores poloneses que falassem bem inglês..

- Por que você se desviou da área do grotesco, em direção aos valores fundamentais como lágrimas, medo, fuga? O que aconteceu? Spielberg passou muito tempo lhe pedindo que fizesse um filme assim?

R.P.: A decidi, subitamente, fazer este filme. Essa situação pode ser comparada a escolha de um prato no cardápio de um restaurante. Meus mais recentes filmes foram puro entretenimento e careciam de profundos valores filosóficos e sociais. O PIANISTA é, sem dúvida, um prato mais elaborado. Com relação a A Lista de Schindler, ele estava muito próximo das minhas experiências pessoais. Evito situações assim, porque sei que não faria um bom filme. Acho que Spielberg fez um grande trabalho. Ninguém mais poderia fazê-lo tão bem quanto ele. Ele contou uma história sobre uma época, pessoas e até mesmo de ruas muitos familiares para mim. Enquanto procurava as locações para O PIANISTA, fomos com o Sr. Starski a Cracóvia, já que não existem mais muitas ruas antigas em Varsóvia. Estávamos caminhando pelas ruas do antigo gueto e o que senti comprovou que não deveria filmar em Cracóvia. Até mesmo por razões pessoais. Eu raramente visito ruas que um dia significaram muito para mim e estive em Cracóvia uma segunda vez. Se eu trabalhasse nos lugares que tiveram valores históricos e pessoais para mim, certamente eles perderiam estes valores e se tornariam apenas um cenário para mim. O fato é que não conseguia encontrar o tema certo. Perguntaram-me diversas vezes se eu faria um filme na Polônia e sempre respondi: "Sim, e planejo fazer, só não sei quando." Eu sempre soube que queria fazer um filme na Polônia sobre a Segunda Guerra Mundial ou sobre o período pós-guerra, só não conseguia encontrar o tema certo. O livro de Szpilman foi este tema.

WLADYSLAW SZPILMAN

O PIANISTA

A vida em duas partes

Aos 27 anos, quando a guerra começou, Wladyslaw Szpilman já era reconhecido como um dos mais promissores pianistas poloneses. Ele tocava o Noturno de Chopin numa rádio polonesa quando a Luftwaffe a bombardeou.

Como todos os judeus, Szpilman e sua família foram expulsos de seu apartamento e, com milhares de outros, mandados para o gueto de Varsóvia, onde o pianista passou a ganhar a vida tocando em bares onde colaboradores e negociantes do mercado negro se reuniam. Foi um destes colaboradores judeu que salvou Szpilman do trem que levou toda a sua família para a morte no campo de concentração. Graças a um grupo de amigos de antes da guerra, de combatentes da resistência e, surpreendentemente, com a ajuda de um oficial alemão, Szpilman sobreviveu à guerra.

Depois da guerra, a rádio polonesa voltou a funcionar e, apropriadamente, com Szpilman terminando o Noturno de Chopin tão brutalmente interrompido seis anos antes. O pianista escreveu suas memórias em 1946, mas o livro foi censurado pelas autoridades comunistas. O filho de Szpilman, que nunca havia falado com seu pai sobre a guerra, encontrou o manuscrito e republicou as memórias em 1999, com reconhecimento internacional. O livro de Szpilman é um relato vívido e enriquecedor da vida no gueto e de sua incrível fuga e sobrevivência. O tema forte e as emoções provenientes dele, aliado a um belo e interessante grupo de personagens secundários, tornou-se fonte de inspiração para Roman Polanski, que já encontrara Szpilman em outras duas ocasiões.

Em seu terceiro encontro, no começo do anos 2000, Szpilman se mostrou satisfeito com a idéia de seu livro virar filme e ser dirigido por um compatriota. Wladyslaw Szpilman faleceu em 6 de julho de 2000, antes do início das filmagens.

Sunday Time, 20/11/99
As memórias de Szpilman assustam um pouco. Você chorará, eu chorei, mas, por favor, leia.

The Guardian, 03/12/99
As lembranças de vida e de morte de Wladyslaw Szpilman no gueto de Varsóvia é uma obra de arte.

Boston Globe, 22/10/99
Szpilman perdeu toda a sua família, mas foi salvo, particularmente, por outros músicos poloneses e amantes da música.

The Wall Street Journal, 02/09/99
O Pianista está repleto de incidentes, imagens e pessoas inesquecíveis.

The Washington Post, 11/11/99
Sua história é tão inacreditável, que é preciso ler para se acreditar.

SOBRE A PRODUÇÃO

Por Gene Gutowski/ abril de 2001

As observações que se seguem são de Gene Gutowski, co-produtor de O PIANISTA e amigo de Roman Polanski há 36 anos, com quem fez "A Repulsa do Sexo" e "A Dança dos Vampiros". Depois de um longo intervalo, eles voltam a trabalhar juntos em um tema que ambos vivenciaram pessoalmente: sobreviver durante os anos de guerra na Polônia, Roman em Cracóvia e Gene em Varsóvia.

Cidades em ruínas eram a visão mais comum na Europa Central e Oriental ao fim da Segunda Guerra Mundial. Cinqüenta e cinco anos depois, meses de trabalho e meio milhão de dólares para recriar as ruínas de Varsóvia para o filme de Roman Polanski, O PIANISTA, em Juterborg, uma antiga cidade da Alemanha Oriental, a 90km de Berlim.

A Varsóvia da história de Wladyslaw Szpilman nos anos da ocupação nazista de 1939-45 não existe mais, ela foi toda reconstruída, ruas e prédios, em sua maioria na antiga Praga, distrito de Varsóvia. Ruas inteiras precisaram ser recriadas até o último detalhe nos fundos do Babelsberg Studio em Berlim, a partir das especificações e plantas do Produtor Artístico Allan Starski, premiado com o Oscar por A Lista de Schindler, e sua equipe de diretores de arte. Na Polônia, que vem sendo reconstruída desde a devastação da guerra, restavam poucas ruínas que eram essenciais à história, como também a cidade vazia, totalmente destruída, onde Szpilman (Adrien Brody) se escondeu. E assim, depois de muitos meses de extensa e intensiva busca, foi nos alojamentos do antigo exército soviético abandonados localizadas em Juterborg destinados à demolição que Allan Starski criou a paisagem aterrorizante de uma cidade totalmente destruída, com apenas alguns poucos postes de luz de pé. Foi ali que, sob frio e vento intenso, começaram as filmagens de O PIANISTA em 19 de fevereiro, convenientemente com as cena em que Szpilman salta o muro e vê uma cidade deserta e em ruínas coberta por um tapete de neve.

Com o apoio de muitos equipamentos, caminhões de apoio, geradores, gruas, trailers de figurinos, maquiagem, diretor, elenco e equipe de produção, tendas enormes aquecidas e um restaurante, todos alinhados com precisão militar, e uma equipe de mais de 100 pessoas, poloneses, alemães e franceses, trabalharam juntas, motivadas pelo tema e pela oportunidade de trabalhar com Roman Polanski. Dentre eles, alguns técnicos que já trabalharam com ele em outros filmes, como o diretor de fotografia Pawel Edelman e sua equipe. O diretor poliglota comunicava-se com a produção em seus próprios idiomas. Depois de dois dias de filmagem, a unidade se mudou para uma antiga villa em Potsdam, adaptada e aparelhada retratar um quartel-general temporário do exército alemão, onde, no sótão, Szpilman encontrou refúgio e onde ele foi descoberto pelo capitão alemão (Thomas Kretschmann), para quem tocou piano para provar que era realmente músico. Para essa importante cena, um famoso pianista polonês, Janusz Olejniczak foi chamado para gravar a Balada no. 1 em Sol Menor OP. 23 de Chopin. Enquanto a cena estava sendo gravada, comovidos pela música e pela emoção da cena em que um judeu faminto e congelado toca para não morrer e, visivelmente, comove o capitão alemão, todas as mulheres da equipe e alguns homens tentaram conter as lágrimas.

Chove e a programação da produção é alterada para que a unidade retorne a Juterborg para filmar a seqüência final do filme, quando Szpilman, vestido como casacão do oficial alemão que o salvou sai de seu esconderijo cercado de neve que cobria uma cidade em ruínas e encontra seus libertadores, os soldados poloneses. Se não fosse por esta providencial nevasca, teria de ser usado um caro equipamento de neve artificial para cobrir as ruínas. O diretor aproveitou a oportunidade e mandou que a produção "segurasse a neve". Esse tipo de sorte providencial aconteceu mais uma vez e a seqüência final do filme foi filmada exatamente como estava no roteiro. Foi uma benção dos céus para Roman Polanski e o filme e muitos da equipe de produção pensavam assim, quando uma pequena cruz de um metro com Jesus Cristo crucificado foi levada para o set. Ela era uma réplica perfeita de uma estátua de bronze enorme que ficava diante da igreja barroca da Cruz Sagrada no centro de Varsóvia. Como resultado do levante, quando o exército da resistência polonesa enfrenta o poderoso exército alemão, a cidade fica reduzida a entulhos. A igreja foi destruída e a estátua de Jesus Cristo cravada de balas, estava caída no chão, com uma das mãos apontando para o céu. Antes da batalha acabar, ela foi devolvida ao seu pedestal entre as ruínas, como um símbolo da grande dor do Senhor. O técnico em maquiagem Waldemar Pokromski e sua equipe de escultores trabalharam noite e dia e criaram uma réplica perfeita, que foi, então, colocada sob as ruínas e filmada.

Assim que o diretor Roman Polanski decidiu fazer o filme O PIANISTA, o elogiado livro de Wladyslaw Szpilman sobre sua vida no gueto, sua fuga e sobrevivência na ruínas da cidade deserta, estava determinado a contar essa angustiante história da forma que foi escrita, com total imparcialidade e riquezas de detalhes. Enquanto as equipes de cinema da Gestapo documentavam a vida no gueto de Varsóvia para fins de propaganda, Szpilman procurou mostrar as condições indescritíveis da vida de sua família, não poupando o leitor de uma paisagem de terror, com toda a objetividade.

Enquanto Ronald Harwood (O Fiel Camareiro e Taking Sides) fazia a adaptação do livro para roteiro, o produtor artístico Allan Starski e sua equipe dedicava-se a documentar e a projetar os cenários e as locações, retratando fielmente a Varsóvia anterior do início da guerra em 1939, durante a criação do gueto, através da degradação gradual das condições de vida e, finalmente, a extinção de seus habitantes. No final, após os levantes testemunhados por Szpilman, só restaram ruínas.

Influenciado fortemente pelas suas próprias experiências no gueto de Cracóvia, Polanski e Allan Starski passaram meses trabalhando para criar uma atmosfera absolutamente autêntica. Eles pesquisaram arquivos, fotografias e documentários, além de consultarem sobreviventes como Marek Edelman. Foram feitas buscas intermináveis para as locações e milhares de fotografias tiradas e, no final, Polanski e Starski chegaram a um consenso, que resultou num extensivo e caro programa de estúdio, construção de cenários para as externas e adaptações. Esforço semelhante foi feito na escolha do elenco. Um jovem brilhante ator americano, Adrien Brody, (Pão e Rosas, Além da Linha Vermelha) foi selecionado para interpretar o personagem principal, Szpilman, ao lado de um talentoso elenco de atores ingleses e de um jovem ator estreante alemão, Thomas Kretschmann (U 571), que interpreta o Capitão Hosenfeld.

Já que o filme estava sendo rodado em inglês, a decisão de usar um elenco de atores ingleses foi determinada pela necessidade de uniformizar as pronúncias. O PIANISTA era uma produção inteiramente européia e os técnicos que Roman Polanski reuniu a sua volta eram de várias nacionalidades. Da Polônia vieram o produtor executivo Lew Rywin e seu chefe de produção Michal Szczerbic, Allan Starski seus diretores e designers, Pawel Edelman, diretor de fotografia (Os Anjos da Guerra), seus câmeras e sua equipe de iluminação. Anna Sheppard (A Lista de Schindler), polonesa de nascimento mas morando na Inglaterra, ficou responsável pelo figurino e a aquisição de milhares de costumes de época e uniformes recolhidos por toda a Europa. Ainda da Polônia, o internacionalmente conhecido Waldemar Pokromski, um artista da maquiagem. Da França vieram Sylvette Baudrot (continuista), Didier Lavergne e Jean-Max Guerin (maquiagem e cabelo), Jean Marie Blondel (som), Guy Ferandis (fotógrafo de still), alguns deles veteranos dos filmes de Polanski. Da Grã-Bretanha vieram o produtor associado Timothy Burrill, o consultor militar Andrew Mollo e o coordenador de stunt, Jim Dowfdall, a diretora de elenco Celestia Fox, bem como o serviço de duas excelentes equipes de pintores. O Estúdio Babelsberg da Alemanha ofereceu apoio incondicional para a produção na construção dos cenários, adaptações e gerenciamento da produção. A este complexo e ambicioso projeto juntaram-se a Roman Polanski, o produtor Robert Benmussa, Alain Sarde, o co-produtor Gene Gutowski, o produtor executivo Lew Rywin e sua Heritage Films de Varsóvia, para realizar a produção de O PIANISTA na Polônia em parceria com a TVP 1 e o Canal +. Embora com várias nacionalidades, os produtores e os técnicos assumiram um senso de lealdade com o diretor e seu projeto.

"Nihil magnum sine ardore", não há grandeza sem paixão é o lema de vida de Roman Polanski, inscrito na espada de honra que recebeu ao se tornar membro da Academia Francesa. É com esta paixão quase palpável que Polanski dirige, agora, o filme; uma paixão compartilhada com os atores e com a equipe internacional. Como a grande maioria da equipe de produção é composta de homens e mulheres jovens, eles pouco sabiam sobre a brutalidade da ocupação nazista a Polônia e o tratamento animal dados aos judeus de Varsóvia. Foi feita uma exibição de documentários da época para toda equipe de produção antes das filmagens. A reação foi de choque e incredulidade, mas ao final, todos sabiam os fatos reais da história de O PIANISTA.

Notório perfeccionista, Polanski exigiu autenticidade de cenários, figurino, uniformes e acessórios, até mesmo o rosto dos atores e dos extras entrevistados, forma fotografados e gravados. Era essencial que se encontrasse os tipos certos para representar os poloneses, judeus e alemães, como eram 60 anos atrás. No final, foram os atores alemães e os dublês, que vestidos com os uniformes do temível Schutzpolizei, da SS Sonderdienst e falando alemão, deram ao filme um toque deprimente, que até mesmo diretor e suas lembranças de criança, achou desconfortável.

Para o esconderijo final de Szpilman, foi escolhida uma elegante villa hoje abandonada numa rua residencial de Potsdam. Construída em vários níveis, da cozinha no porão passando pelo espaçoso salão de recepção, no qual ficou instalado um quartel-general do exército alemão comandado pelo Capitão Hosenfeld, até o sótão e acima dele, um cubículo debaixo do telhado, onde Szpilman faminto e delirante, encontrou um lugar para se esconder. Foi ali que o alemão e seu salvador lhe deu comida e seu próprio casacão do exército.

O piano de cauda empoeirado, uma relíquia da antes elegante villa, estava no meio de um salão vazio, agora sala do Capitão. Foi nele que Szpilman, com os dedos enrijecidos e semi-congelados, tocou para o alemão, a Balada nr. 1 em Sol Menor OP. 23. Insistindo em realismo total, as filmagens foram até tarde da noite. Polanski levou os atores e a equipe até a exaustão, até que essa importante e pungente seqüência ficasse pronta em 1 de março.

Se ensaiando com os atores ou preparando a cena com os câmeras e a equipe de efeitos especiais, com seu corpo compacto e jovem em estado de movimento constante, Polanski trabalha com concentração e confiança, buscando a melhor performance e a melhor tomada onde cada fotograma é importante e nenhum detalhe é trivial demais para escapar aos seus olhos atentos. Em reconhecimento de sua grande habilidade e talento, os atores e a produção trabalharam com rara devoção, cientes da importância do filme e as emoções que estão envolvidas e compartilharam com o diretor em uma jornada à sua infância.

Em 2 de março, a unidade de produção e sua frota de veículos de apoio foram para Belitz, uma pequena cidade ao sul de Berlim na antiga Alemanha Oriental. Aqui, em um grande e atualmente abandonado complexo hospitalar construído na virada do século e recentemente usado pelo exército soviético onde letras do idioma russo ainda estão em evidência nas paredes, cenas importantes estão sendo filmadas, quando Szpilman se esconde num hospital militar alemão em chamas em Varsóvia, procurando desesperadamente por comida e, por fim, encontra água e come uma "gororoba' que cozinha. Ainda em momento de sua fuga, Szpilman foge pela escada de um prédio fora bombardeado e está em chamas, tropeça e cai sobre o corpo de um homem queimado, cujas ferimentos chocantes, pele descascada e bolhas enormes, foram recriadas com exata perfeição pelo mestre da maquiagem, Waldemar Pokromski.

Por fim, a unidade de produção foi para Babelsberg Studio, onde um complexo de ruas de Varsóvia e casas de cinco andares foram construídas com um realismo de tirar o fôlego. As ruas foram pavimentadas com pedras de verdades, que tinham marcas dos bondes que circulavam na época em Varsóvia. Construída com atenção infinita a cada detalhe de arquitetura, cenários, placas de ruas e de lojas e cartazes do tempo da guerra, esse cenário foi usado para uma série de seqüências de ação importantes, todas elas observadas por Szpilman de seu esconderijo no alto de um prédio. De lá, ele vê quando explode o levante de Varsóvia em agosto de 1944, a resistência polonesa atacar um posto policial alemão do outro lado da rua. Numa violenta batalha pelas ruas, o prédio é demolido com granadas e incendiado com um "Panzerfaust" e muitos homens da SS morrem. O hospital contíguo é evacuado, os civis capturados são mortos nas ruas e, depois, um tanque ressoa pelas ruas e atira no edifício onde Szpilman está escondido. Os combatentes poloneses recuam para trás de um muro, que está em um dos lados da rua e são mortos pelos soldados da SS. Por sugestão do diretor, o tanque foi usado novamente, quando outros meios falharam, para tombar um bonde. O evento foi aplaudido por toda a equipe e filmado por Polanski com sua própria câmera.

Em outra seqüência aterrorizante, a rua e os prédios agora totalmente reformados para ser o local do gueto de Varsóvia, são observados por Szpilman e sua família de seus apartamento. Uma pequena unidade da SS entra no prédio oposto e, da varanda do último andar, atira um velho judeu inválido e sua cadeira de rodas. Os moradores da casa são perseguidos pelas ruas e forçados a correr para salvar suas vidas, enquanto os alemães atiram e os matam a sangue frio. Ao deixar o local, o carro da SS passa por cima dos corpos sem vida. A queda livre da varanda foi filmada em uma única tomada e entrou pela noite, e diretor, equipe de produção e atores terminaram a cena exaustos às 7 horas da manhã.

Começou em 15 de março uma das mais importante e tecnicamente complicadas cenas do filme, que utilizou simultaneamente três câmeras em vários níveis: o ataque ao gueto. A tropa da SS avança em direção ao muro do gueto, sob tiros de um prédio do lado judeu. Uns dois soldados atiram granadas por cima do muro, incendiando os prédios e recuam. Retornam, exatamente como fizeram 24 anos atrás, com uma pequena tropa de ataque. Uma granada explode e abre uma grande fenda no muro, atirando tijolos pela rua e quase atingindo a produção. Os soldados da SS entram com lançadores de chama. Os prédios queimam e alguns judeus, em chamas, se atiram pelas janelas para a morte. A batalha é contemplada por um passivo comandante da SS, que de dentro de sua limusine e protegido por guarda-costas, uma remontagem deprimente de uma fotografia tirada na época. Os últimos combatentes são aprisionados, colocados contra o muro e executados a sangue frio.

Em 26 de março, época de andar agasalhado em Babelsberg e, novamente, os deuses dos cineastas sorriram. Para a cena de inverno, quando Szpilman atravessa a rua e entra em um prédio onde se esconderá com seus amigos poloneses, foi preciso colocar neve artificial no chão. Quando as câmeras se preparavam para rodar, começou a nevar, contra todas as previsões meteorológicas, dando à cena maior realismo. Dias depois, o cenário da enorme rua já estava vazio. Rápido e eficientemente, todo o equipamento foi removido. Sumiram as gruas, os cabos de iluminação, os geradores, os caminhões com suprimentos, o tanque. Alguns dos prédios estavam meio queimados. As lojas com suas placas em polonês e alemão estavam, agora, vazias. Os cartazes de época ainda estavam pendurados nas paredes e os jornais antigos permaneciam na banca vazia. Sumiram, também, a equipe de produção, os atores, os dublês e extras poloneses, judeus e alemães da SS, todos parte deste drama humano. Não estava mais lá, também, a presença dominante do diretor, sempre visível com sua parka vermelha que contrastava com as roupas escuras da equipe de produção e o figurino dos atores.

Visitantes curiosos chegavam, agora, e ficavam inertes e maravilhados diante daquele cenário silencioso e vazio, que logo se tornou atração turística e parte do tour ao Babelsberg Studio. Foi com uma certa nostalgia que o diretor e os membros poloneses e franceses da equipe de produção deixaram o Babelsberg Studio e seus colegas alemães com quem trabalharam por tantos meses, preparando e construindo cenários, e finalmente, filmando por cinco semanas. A súbita e inesperada morte do presidente do Babelsberg Studio, Rainer Schapper, ex-produtor artístico de muito talento (O Nome da Rosa) e muito querido, que deixou saudades graças a uma cooperação de sucesso e muito feliz. Rainer foi o grande responsável pelo O PIANISTA ir para o Babelsberg e durante as negociações, tornou-se amigo pessoal do diretor. No funeral, Roman Polanski fez um discurso carinhoso, saudando a partida do amigo, dizendo que seu rosto sempre sorridente de radiante otimismo, ele jamais esquecerá.

Com somente dois dias para transferir toda a equipe de produção, equipamentos e figurinos, as filmagens de O PIANISTA começaram, novamente, em 29 de março, em locações nas ruas de Praga, distrito de Varsóvia. Lá, do outro lado do rio, o tempo parece que parou, diferente do centro de Varsóvia, onde toda a parte histórica foi restaurada e agora elegantes arranha-céus estão por todo lado.

Praga foi poupada da destruição, uma vez que aqui foi onde o exército soviético se instalou e, relutante de atravessar o rio, permitiu que os nazistas dominassem o levante polonês do outono de 1944. Aqui, na parte mais pobre da cidade, antigos prédios de tijolos ainda pode se ver os buracos deixados pelas balas, muito parecido com as casas e ruas do antigo gueto de Varsóvia. Aquele bairro era muito perigoso e dominado pelo crime, o que levou à produção a tomar medidas para que as filmagens corressem sem atropelos. Valendo-se de material documental, Allan Starski e sua equipe recriaram, a rua principal que cruzava o gueto de Varsóvia, e ao longo dela placas de lojas, cartazes, decretos oficiais e até mesmo mensagens pessoais escritas em pequenos cartões eram afixados nas paredes. Na manhã do primeiro dia, foi como se o relógio da história retornasse 60 anos. De ambos os lados dos portões de vaivém que ligavam os grandes e pequenos guetos e guardados pela polícia alemã, polonesa e judia, multidões de judeus definhando em roupas esfarrapadas e usando as braçadeiras com a Estrela de Davi esperavam que os portões se abrissem, que o intenso tráfego de bondes e carroças fosse interrompido, para que atravessassem correndo a rua ariana. Uma pequena banda de judeus tocava e só por diversão, os policiais alemães puxavam brutalmente homens e mulheres do meio da multidão e, deliberadamente, formavam casais absurdos e os forçavam a dançar. "Mais rápido, mais rápido", dizem eles. Tal era o realismo da cena, do cenário e de todos os atores que foi difícil assistí-la. Roman me pediu para olhar na tela do monitor: "Parece real, Gene?", ele me perguntou. E nós, que já tínhamos visto aquilo antes, olhamo-nos com tristeza.

Nos dias que se seguiram, outras cenas foram filmadas; uma ponte de madeira sobre uma rua ariana, onde uma fila sem fim de homens e mulheres judias caminhavam com seus rostos magros e tristes, carregando seus poucos pertences em maletas e fardos a caminho do gueto. Entre eles, Szpilman, seu pai (Frank Finlay, Otelo), sua mãe, (Maureen Lipman, O Despertar de Rita - Educating Rita), o irmão Henryk (Ed Stoppard, O Pequeno Vampiro), e as irmãs Regina (Jessica Meyer, Alta Freqüência - Frequency) e Halina (Julia Rayner, Topsy Turvy).

Em outra área, um grande prédio está sendo construído. Lá o enfraquecido Szpilman em frangalhos trabalha em sua construção ao lado de amigos do gueto e alguns trabalhadores poloneses. Sua falta de jeito provoca a fúria do policial alemão, Schupo, que o empurra na lama e segura sua cabeça entre as pernas e o açoita. "Und Zig. Und Zag. Und Zig. Und Zag."

Os filhos de Roman Polanski visitaram o set. Eles vieram para almoçar com o pai e se divertiram brincando com toda a equipe de produção. A constante movimentação das crianças, suas risadas e brincadeiras contrastavam com a seriedade do tema, as roupas e os rostos dos atores e extras. A presença deles ajudou a quebrar a tensão e seus rostos iluminavam as sombras do passado. Outro momento relaxante aconteceu quando uma grua foi usada para retirar uma toalha colorida de uma janela, ou quando a filmagem parou esperando a volta do condutor do bonde que tinha ido ao banheiro. "Quantos anos você tem?", perguntou Polanski. "Somente 30 anos e já não consegue segurar sua urina?" Roman Polanski é um ícone polonês e os habitantes das ruas principais de Praga observavam as filmagens em silêncio e pacientemente seguiam as instruções do grupo de jovens assistentes de direção. Para os mais velhos, foi reviver um passado distante e, para os mais jovens, uma lição de história.

Em 24 horas os muros do gueto, os portões e a ponte foram retirados e a vida nas ruas voltou ao normal, a não ser por algumas placas de lojas, anúncios e cartazes colados nas paredes, fantasmas distantes de um terrível passado. Muitas pessoas paravam para ler e continuavam caminhando sacudindo as cabeças.

Por Edinho Pasquale