Estivemos na sessão para a imprensa do filme "O
Pianista , um filme que se passa na Segunda Guerra Mundial,
extremamente sensível (nunca vi tantos críticos
e jornalistas sairem chorando do cinema em muitos anos...),
retrata, através do personagem principal, o pianista
Wladyslaw Szpilman os horrores da guerra, de uma forma impressionante,
até mesmo chocante, pois realmente mostra a guerra
como ela foi, suja, sem "pirotecnia" ou imagens
"hollywwodyanas", ceia de explosões, efeitos
especiais etc. O "efeito especial" vem da própria
história, verídica. Não li o livro,
mas me parece que o filme foi bem fiel a ele. Polanski deu
ao filme o tom certo, numa narrativa de perder o fôlego.
Os cenários estão brilhantes, os da cidade
de Varsóvia destruída no final da guerra (realizada
por computação gráfica) são
perfeitos (conversei com algumas pessoas que estudaram o
assunto, a Segunda Guerra, após o filme, que me confirmaram
isto). Um dos favoritos ao Oscar deste ano, sem dúvida.
Vejam abaixo o release distribuído à imprensa
pela distribuidora Europa Filmes:

O PIANISTA
FILME DE ROMAN POLANSKI
baseado nas memórias de
Wladyslaw Szpilman
ROTEIRO
Ronald HARWOOD
ESTRELANDO
Adrien BRODY
Thomas KRETSCHMANN
SINOPSE
Wladyslaw Szpilman, brilhante pianista polonês judeu,
escapa da deportação. Forçado a viver
no coração do gueto de Varsóvia, ele
compartilha o sofrimento, a humilhação e a
luta pela vida. Wladyslaw consegue escapar e se esconder
nas ruínas da capital. Um oficial alemão,
admirador de música, encontra-o e o ajuda a sobreviver.
ELENCO
Wladyslaw Szpilman ADRIEN BRODY
Oficial Alemão THOMAS KRETSCHMAN
Pai FRANK FINLAY
Mãe MAUREEN LIPMAN
Henryk ED STOPPARD
Regina JULIA RAYNER
Halina JESSICA KATE MEYER
Dorota EMILIA FOX
Janina RUTH PLATT, dentre outros
EQUIPE DE PRODUÇÃO
Diretor / Produtor ROMAN POLANSKI
Produtores ROBERT BENMUSSA, ALAIN SARDE
Co-produtor GENE GUTOWSKI
Produtor Executivo LEW RYWIN
Produtor Associado TIMOTHY BURILL
Roteiro RONALD HARWOOD
Produtor Artístico ALLAN STARSKI
Diretor de Fotografia PAWEL EDELMAN
Figurino ANNA SHEPPARD
Trilha Sonora Original WOJCIECH KILAR, dentre outros
ROMAN POLANSKI
Nascido em Paris e filho de poloneses, Roman Polanski cresceu
na Polônia, onde estudou na Escola de Artes de Cracóvia
e na Escola Nacional de Cinema em Lodz. Estreou como ator
aos 14 anos e participou do popular programa de rádio
The Merry Gang. Ainda adolescente, atuou no filme Three
Stories, e, a seguir, interpretou pequenos papéis
em diversos filmes poloneses, incluindo Generation, de Andrzej
Wadja. Ainda na Escola de Cinema, Polanski dirigiu vários
filmes de curta-metragem incluindo Dois Homens e um Guarda-roupa
(1957); Quando os Anjos Caem (1958); O Gordo e o Magro (1958),
e Os Mamíferos (1961), todos premiados em vários
festivais de cinema. Seu primeiro filme foi A Faca na Água
(Knife in the Water, 1962), que ganhou o Prêmio da
Crítica no Festival de Veneza, também indicado
ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O primeiro filme de
Polanski em língua inglesa foi Repulsa do Sexo (Repulsion),
realizado na Inglaterra em 1964 e estrelado por Catherine
Deneuve, ganhou o Urso de Prata no Festival de Cinema de
Berlim.
A seguir, dirigiu Armadilha do Destino (Cul-De-Sac, 1966),
que ganhou o Urso de Ouro, no mesmo festival. O filme seguinte,
A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampires Killers,
1967), Polanski interpretou o papel principal. Seu primeiro
filme de produção americana foi O Bebê
de Rosemary (Rosemary's Baby, 1968), pelo qual recebeu uma
indicação para o Oscar de Melhor Filme. Em
1972, Polanski voltou à Europa para dirigir uma adaptação
de Macbeth (que escreveu com Kenneth Tynan) e, em 1973,
dirigiu Marcello Mastroianni em Quê? (What?). O ano
de 1974, marcou a volta de Polanski a Holywood com Chinatown,
vencedor do Globo de Ouro e indicado para onze estatuetas
do Oscar, incluindo o de Melhor Filme e Melhor Diretor,
mas ganhou apenas o de Melhor Roteiro Original. Em 1976,
Polanski voltou à Europa e dirigiu O Inquilino (The
Tenant), com Isabelle Adjani e Shelly Winters, estrelado
por ele mesmo. Seu filme seguinte, Tess de Polanski (1979),
foi indicado para seis categorias do Oscar, incluindo o
de Melhor Diretor; ganhou três por Melhor Direção
de Fotografia, Direção de Arte e Figurino.
Em 1984, Polanski escreveu sua autobiografia, Roman, que
foi best-seller, em diversos idiomas. Em 1986, filmou a
aventura Piratas (Pirates), com Walther Matthau, seguido
do thriller Busca Frenética (Frantic, 1988), com
Harrison Ford e Emmanuelle Seigner, que marcou o primeiro
grande papel no cinema; Lua de Fel (Bitter Moon, 1992),
com Hugh Grant e Peter Coyote; O Último Portal (The
Ninth Gate, 1998), com Johnny Depp e Lena Olin.
Nos palcos, Polanski dirigiu a ópera Lulu de Alban
Berg no Festival Spoleto; Rigoleto de Verdi no Ópera
de Munique, e Tales of Hoffman, no Paris Opera Bastille.
Em 1981, dirigiu e estrelou Amadeus, de Peter Shaffers,
primeiro em Varsóvia e, depois, em Paris. Em 1988,
interpretou o papel principal na adaptação
de Stephan Berkoff para Metamorfose de Kafka. Polanski dirigiu
a comédia musical Taz der Vampire em 1996 em Viena.
Em 1993, Polanski atuou ao lado de Gerard Depardieu em Uma
Simples Formalidade (A Pure Formality), de Giuseppe Tornatore.
Filmografia:
Longa-metragem
O Último Portal (The Ninth Gate), 1999
A Morte e a Donzela (Death and the Maiden), 1994
Lua de Fel (Bitter Moon), 1992
Busca Frenética (Frantic), 1988
Piratas (Pirates), 1986
Tess, 1979
O Inquilino (The Tenant), 1976
Chinatown, 1974
O Quê? (What?), 1973
Macbeth 1971
O Bebê de Rosemary (Rosemary's Baby), 1968
A Dança dos Vampiros (The Fearless Vampires Killers),
1967
Armadilha do Destino (Cul-De-Sac), 1966
Repulsa do Sexo (Repulsion), 1965
A Faca na Água (Knife in the Water)
Curta-Metragem:
Os Mamíferos - Mammals, 1962
O Gordo e o Magro - The Fat and the Lean, 1961
Quando os Anjos Caem - When Angels Falls, 1959
A Lâmpada - Lampa, 1959
Dois Homens e um Guarda-roupa - Two Men and a Wardrobe,
1958
A Murder, 1957
Termine a Dança - Rosbijemy Zabawe, 1957
Teeth Smile, 1957
A Moto - Bicycle, 1955
OBSERVAÇÕES DO DIRETOR
por Roman Polanski
Eu sempre soube que um dia faria um filme sobre esse período
muito doloroso da história da Polônia, mas
não queria que fosse autobiográfico. Assim
que li os primeiros capítulos das memórias
de Wladyslaw Szpilman, soube que O PIANISTA seria o meu
próximo filme. Aquela era a história que procurava
e, apesar de todo o horror, ela tinha uma visão otimista
e era cheio de esperança.
Eu assisti ao bombardeio de Varsóvia e queria recriar
tudo o que me lembrava da minha infância. Queria me
manter fiel à realidade o máximo possível
e evitar qualquer "mentirinha" ao estilo hollywoodiano.
Assim como nas minhas próprias experiências,
eu podia confiar na autenticidade da história de
Szpilman, que a escreveu logo depois da guerra. É
por isso que ela é tão forte e autêntica.
Ele descreve a realidade da época com uma objetividade
surpreendente, quase indiferente. No livro, existem poloneses
bons e poloneses ruins, judeus bons e judeus ruins, alemães
bons e alemães ruins. Antes de começarmos
a filmar, é claro, consultamos historiadores e sobreviventes
do gueto e, também, exibi a toda a equipe uma série
de documentários sobre o gueto de Varsóvia.
Quanto ao ator que interpretaria Szpilman, não estava
interessado em semelhança física. Queria um
ator que conseguisse personificar o personagem como eu o
havia imaginado ao escrever o roteiro. Era importante que
não fosse um nome conhecido. Como o filme iria ser
realizado na Inglaterra, precisávamos de alguém
que falasse o idioma fluentemente. Organizamos testes em
Londres e para a nossa surpresa, apareceram 1.400 pessoas,
incluindo mulheres, asiáticos e negros. Depois dos
testes, percebemos que seria difícil encontrar alguém
sem qualquer experiência, então estendemos
a nossa busca aos atores profissionais. Não consegui
encontrar ninguém na Inglaterra que se encaixasse,
então ampliei minhas buscas aos Estados Unidos. Queria
um ator jovem e, quando vi o trabalho de Adrien Brody, não
hesitei: ele era O PIANISTA.
POLÔNIA
Se não for agora, quando?
"Eu sempre soube," diz Polanski, "que um
dia faria um filme sobre esse período muito doloroso
da história da Polônia, mas não queria
que fosse sobre a minha própria vida."
"Ao visitar Cracóvia em busca de locações
para O PIANISTA, as lembranças ressurgiram. Caminhando
pelas ruas do que um dia foi o gueto, o que eu senti naquele
momento provou que não poderia fazer o filme em Cracóvia.
Nunca fiz e nem pretendi fazer nada autobiográfico,
mas usei a experiência de ter passado por tudo aquilo
para fazer o filme."
O desejo de Polanski de voltar a Polônia se cristalizou
quando ele leu o relato autobiográfico de Wladyslaw
Szpilman sobre sua extraordinária fuga do gueto.
"Assim que li os primeiros capítulos das memórias
de Wladyslaw Szpilman, soube que aquele seria o assunto
do meu próximo filme. Era a história que procurava.
Sabia como contá-la. Era uma obra positiva; apesar
de todo o horror, havia esperança."
O PASSADO
Autenticidade
"Assisti ao bombardeio de Varsóvia e queria
recriar tudo o que me lembrava da minha infância.
Queria me manter fiel à realidade o máximo
possível e evitar qualquer "mentirinha"
ao estilo hollywoodiano."
Além de suas lembranças pessoais, Polanski
confiava nas autenticidade das memórias de Szpilman.
"O livro foi escrito logo depois da guerra e, talvez
por isso, ele seja tão verdadeiro. O livro mostra
a realidade da época com uma objetividade fria e
surpreendente. Existem no livro poloneses maus e poloneses
decentes, judeus maus e judeus decentes, alemães
maus e alemães decentes." Assim que os alemães
entraram em Varsóvia em setembro de 1939, a perseguição
contra os judeus começou. O gueto cresceu até
que os 360.000 judeus de Varsóvia com outros 100.000
de cidades próximas foram confinados dentro de suas
paredes. Quando a brutalidade nazista superou a relutância
do povo em acreditar nos rumores de massacres e em campos
de extermínio, a resistência cresceu, culminando
no heróico levante de abril de 1943. O sucesso da
revolta precipitou os planos alemães. A maior comunidade
judia na Europa foi cruelmente exterminada.
Além de consultar historiadores e sobreviventes
do gueto, como Marek Edelman, antes de começar as
filmagens, Polanski decidiu exibir para a equipe de produção
vários documentários sobre o gueto de Varsóvia.
Ninguém tinha mais qualquer dúvida da importância
de reconstituir totalmente os detalhes da sobrevivência
miraculosa de Szpilman.
ENTREVISTA COLETIVA À IMPRENSA EM VARSÓVIA
(28 de Março de 2001)
- Por que você ficou tão atraído pelo
livro de Wladyslaw Szpilman? O que havia nele de tão
importante e por que, como você mesmo disse, acredita
neste filme como não acreditou em nenhum outro antes?
Roman Polanski: Este livro descreve os eventos que lembro
de minha juventude. Por muitos anos, planejei fazer um filme
sobre esta época, mas não conseguia encontrar
o assunto certo, a história certa. O livro de Szpilman
não é mais um capítulo da história
sobre o martírio judeu que todos conhecemos. O livro
descreve esses eventos sob o ponto de vista de um homem
que viveu nele. Ele mostra a realidade dessa época
com uma objetividade fria e surpreendente. Existem no livro
poloneses maus e poloneses decentes, judeus maus e judeus
decentes, alemães maus e alemães decentes.
Como sabemos, o livro foi escrito logo depois da guerra
e, talvez por isso, ele seja tão verdadeiro, diferente
do que foi escrito 20, 30 anos depois da guerra. Assim que
li os primeiros capítulos soube que aquele seria
o tema do meu próximo filme.
- O Sr. Ronald Harwood, co-autor do roteiro, disse: "A
contribuição de Roman Polanski ao roteiro
foi enorme. Muitas soluções, que ninguém
mais teria pensado, foram tiradas de suas próprias
experiências." Até que ponto este filme
é sua criação pessoal?
R.P.: Veja, por muitas vezes, li coisas que poderiam ou
não ser o tema de um filme como este, mas estavam
sempre muito próximos das minhas experiências
da guerra. Não era isso que eu queria. Neste aqui,
entretanto, temos a descrição do gueto de
Varsóvia, eu estava no gueto de Cracóvia,
o que significa que eu vivi naquele período, que
conheci os alemães da época, bem como os judeus
e poloneses. Ao mesmo tempo, poderia usar a minha própria
experiência enquanto escrevia o roteiro, sem torná-lo
biografia. Era tudo o que queria evitar. Foi fácil
para mim trabalhar neste roteiro, porque ele não
estava relacionado aos eventos, ruas e pessoas que eu me
lembro da época.
- Falando de Ronald Harwood, qual foi o motivo que o levou
a escolhê-lo para escrever o roteiro, considerando
que ele é um dramaturgo muito conhecido?
R.P.: Precisava de alguém que soubesse como escrever
este tipo de roteiro, isto é, alguém que já
tivesse alguma experiência no assunto. Ronald Harwood
já escreveu peças e roteiros relacionados
a este período na história. Eu o admiro enormemente
tanto como escritor quanto dramaturgo, principalmente por
suas peças, a já mencionada O Fiel Camareiro
(The Dresser) e... não me lembro do título
em polonês da outra peça, Taking Sides, que
foi recentemente montada em Varsóvia. É uma
peça sobre Furgwegler, o condutor que foi acusado
de colaboração com os nazistas. Qual é
o título mesmo? "Za i przeciw". Depois
de assistir a esta peça, grande sucesso em Paris
do ano passado, que me convenci de que ele era perfeito
para o trabalho.
- Você disse muitas vezes que tratou a história
contada em O PIANISTA de forma muito pessoal. Você
planeja dar seu testemunho, aparecendo pessoalmente em alguma
das cenas?
R.P.: Absolutamente não. Quero que tudo no filme
pareça o mais realista possível. Fazer aparições
em filmes é uma das características de Hitchcock
e... isto deixa no ar uma sensação de uma
brincadeira pessoal, o que quero evitar neste tema em particular.
É claro que seria simbólico, mas já
que sou conhecido e as pessoas costumam me reconhecer pelas
ruas, provavelmente provocaria conotações
enganosas. Todos logo dirão: "É o Polanski,
o Polanski!", prefiro evitar.
- Qual foi o maior desafio de seu filme?
R.P.: Provavelmente todos sabem que interpretar é,
de certa forma, uma profissão pouco saudável.
Isso porque a verdadeira interpretação requer
a vivência do papel. Quando você diz isso a
pessoas que não entendem muito sobre interpretação,
elas normalmente reagem com um sorriso condescendente. Mas
como alguém que tem experiência nesta profissão,
posso garantir que é totalmente viciante. Um bom
ator, que incorpora realmente o que interpreta, vive o seu
papel por 12, 14, ou, como foi no nosso caso, 16 semanas
até o final, raramente sai ileso.
- Falando nisso, como você imaginou o ator para interpretar
o papel principal? Que características especiais
queria? E como procurou e o que o fez escolher o Sr. Adrien
Brody?
R.P.: Posso lhe dizer uma coisa com certeza: nunca procurei
semelhança física, porque na minha opinião,
isso não importava. O que eu queria era um ator que
se encaixasse no personagem que tinha em mente enquanto
escrevia o roteiro com Ronald Harwood. Era muito importante
que ele não fosse uma celebridade, um ator muito
conhecido, pela mesma razão que já falei antes
com relação a minha participação
no filme. Foi por isso que decidimos, desde o começo,
tentar encontrar um ator iniciante. Mas já que o
filme seria filmado na Inglaterra, precisávamos de
alguém que falasse inglês fluentemente. Então,
procuramos em Londres, por talentos ainda não descobertos.
Fizemos o casting lá. Os organizadores ficaram surpresos
ao ver tantos candidatos; 1.400 pessoas se candidataram,
dentre eles algumas mulheres, alguns chineses, alguns negros,
etc. Depois dos testes, percebemos que seria difícil
encontrar alguém sem nenhuma experiência; então,
começamos a procurar entre os atores profissionais.
Não encontrei ninguém na Inglaterra, então
resolvi ampliar a minha busca. A América era a escolha
óbvia, pois como todos sabem, fala-se inglês
fluentemente lá.
- Quando se lê O PIANISTA, tem-se a impressão
que Szpilman se culpa por não tentar encontrar Hosenfeld,
o oficial alemão. Você concorda com isso? E
neste caso, há algum momento de hesitação
em seu filme, enfatizando a tragédia do oficial alemão?
R.P.: Há um momento assim no filme, mas não
concordo que Szpilman tenha tido algum tipo de arrependimento,
ou tenha se culpado. Na minha opinião, a questão
é a expressão de sua modéstia. Como
sabemos, ele fez tudo que pode para salvar a vida de Hosenfeld.
Ele até recorreu às autoridades comunistas
e não teve sucesso, é claro. Todos sabem que
era uma causa perdida. Nós também sabemos
que ele foi procurado pela família de Hosenfeld e
que eles tiveram contato. Creio que a família esteve
em Varsóvia duas vezes. A propósito, nós
também procuramos o filho de Hosenfeld em Berlim.
- Como você ajudou o seu ator a entender a realidade
mostrada no filme, a atmosfera da época?
R.P.: É difícil de explicar verbalmente.
Você teria de ir até o set e ver como é
feito. Depende do momento, da cena e, é claro, do
autor. Não quero falar demais sobre Adrien aqui,
para que não vire uma troca de elogios. Ia virar
o próprio clubinho de elogios mútuos. Espero
que o filme chegue em breve aos cinemas poloneses e que
vocês possam assistir.
- Gostaria de perguntar sobre o impacto psicológico
ao realizar este filme. Como se sentiu filmando na Polônia?
Sei que é o seu primeiro filme realizado aqui depois
de A Faca na Água Este fato dá um toque diferente,
principalmente quando o tema central do filme está
enraizado em suas próprias experiências? Ele
é totalmente diferente de "O Último Portal".
Como se você preparou emocionalmente para isto?
R.P.: Não precisei me preparar, foi suficiente ler
o livro para voltar imediatamente àqueles momentos,
psicologicamente falando. Voltar fisicamente, sem dúvida,
ajuda, o idioma polonês, os costumes poloneses, a
atmosfera do país, etc. Tudo aconteceu automaticamente.
Devo admitir, entretanto, que filmar com alemães
em Berlim foi muito mais fácil para nós. Ao
ouvir os alemães gritarem e ao vê-los vestidos
em seus uniformes, dei-me conta que não poderia filmar
em outro lugar que não fosse a Polônia.
- Deve ter sido uma experiência significante filmar
na Polônia depois de tantos anos. A Faca na Água
marcou sua estréia, é um dos melhores filmes
que eu já vi. Gostaria de lhe fazer uma pergunta
técnica: você filmará em locações
originais em Varsóvia, como a Avenida Niepodlegosci,
na rua Noakowskiego, ou na rua Puawaska?
R.P.: Não. Infelizmente essas ruas não existem
mais. Mas temos que dar um jeito. Devo dizer que, felizmente,
a tecnologia atual nos permite recriar certas coisas que
já não existem mais. Estou falando do uso
do computador que é tão comum em outros filmes,
mas no nosso, passará despercebido. Com relação
às locações originais, só iremos
filmar nas ruas Kralowskie Przedmiescie e na Kozia. As outras
locações serão na cidade de Praga.
Devo admitir que tive muita sorte. Não sei se é
a palavra certa. Em 1939, logo depois que a guerra começou,
todos os homens foram para o leste por alguma razão
que não sei, visto que eu, minha mãe e irmã
fomos para Varsóvia. Eu sobrevivi ao bombardeio de
Varsóvia e vivi aqui por duas semanas. Lembro-me
de tudo muito bem. Queria recriar tudo o que me lembro de
minha infância. Não me lembro da Avenida Ujazdowskie,
eu me lembro de uma Varsóvia igual à Praga
de hoje: ruas escuras, tráfego intenso, prédios
da virada do século. Foi por isso que filmamos lá.
- Mais uma pergunta técnica que esteve presente
em nossa discussão desde o princípio. Gostaria
de lhe pedir que comentasse sobre a ironia da história,
você filmando O PIANISTA simultaneamente ao caso Jedwabno.
Poderia comentar a coincidência?
R.P.: É, como você falou, uma coincidência
e é difícil para mim relacionar isto à
minha própria experiência de fazer o filme
na Polônia. As pessoas continuarão a descobrir
outros casos, talvez porque muitos anos se passaram daquela
época e os poloneses têm, agora, uma perspectiva
maior e mais objetiva da história de seu país.
E mais, a geração de hoje não precisa
sentir qualquer responsabilidade pelo que aconteceu naquela
época.
- Por quanto tempo vocês filmarão em Varsóvia?
R.P.: Resta ainda mais 11 semanas.
- Já considerou fazer um filme sobre Abi Rozner?
Sua biografia foi mostrada recentemente na TV, acho que
talvez mereça um roteiro para cinema? Estou segurando
um livro "Roman by Polanski". Você vai filmá-lo
ou entregará o roteiro para outra pessoa?
R.P.: Quanto a primeira pergunta, nunca pensei em desenvolver
este projeto. Acho que já respondi a sua segunda
pergunta. Voltando a primeira, posso garantir que não.
Definitivamente, não estou fazendo a minha biografia,
porque não me interessa. Faço filmes e não
documentários. Espero que nunca realizem um filme
sobre a minha vida.
- Pode nos falar sobre sua relação com o
Sr. Szpilman? Vocês conversaram sobre o filme? Quais
foram suas exigências? Quais foram suas sugestões?
R.P.: O Sr. Szpilman não fez nenhuma sugestão
em particular, ele apenas se limitou a dizer como estava
feliz de ver seu livro virar filme e ser dirigido por mim.
Eu só vi o Sr. Szpilman três vezes. A primeira
vez, em Los Angeles, muito tempo atrás, durante uma
de suas visitas a América. A segunda vez foi aqui,
no Clube dos Jornalistas, cerca de 12 anos atrás.
Jantava com Morgenstern, Szpilman apareceu e se sentou conosco,
e jantamos juntos. Depois que resolvi fazer o filme, nós
nos vimos pela terceira vez; visitei Szpilman com Gene Gutowski,
tomamos chá e conversamos sobre o filme.
- Seus filmes normalmente criam a realidade, mais do que
a recriam. Depois do que disse hoje, posso assumir que você
tentará recriar a realidade de Szpilman e não
acrescentar nada de si mesmo?
R.P.: A minha aproximação neste filme é,
definitivamente, diferente. Cada assunto requer um tratamento
diferente.
- Existem atores poloneses famosos no elenco de O PIANISTA.
Nós os identificaremos no filme?
R.P.: Você verá atores poloneses em pequenos
papéis, pois como já falei, o filme é
filmado em inglês. Por isso nossa escolha ficou limitada
a atores poloneses que falassem bem inglês..
- Por que você se desviou da área do grotesco,
em direção aos valores fundamentais como lágrimas,
medo, fuga? O que aconteceu? Spielberg passou muito tempo
lhe pedindo que fizesse um filme assim?
R.P.: A decidi, subitamente, fazer este filme. Essa situação
pode ser comparada a escolha de um prato no cardápio
de um restaurante. Meus mais recentes filmes foram puro
entretenimento e careciam de profundos valores filosóficos
e sociais. O PIANISTA é, sem dúvida, um prato
mais elaborado. Com relação a A Lista de Schindler,
ele estava muito próximo das minhas experiências
pessoais. Evito situações assim, porque sei
que não faria um bom filme. Acho que Spielberg fez
um grande trabalho. Ninguém mais poderia fazê-lo
tão bem quanto ele. Ele contou uma história
sobre uma época, pessoas e até mesmo de ruas
muitos familiares para mim. Enquanto procurava as locações
para O PIANISTA, fomos com o Sr. Starski a Cracóvia,
já que não existem mais muitas ruas antigas
em Varsóvia. Estávamos caminhando pelas ruas
do antigo gueto e o que senti comprovou que não deveria
filmar em Cracóvia. Até mesmo por razões
pessoais. Eu raramente visito ruas que um dia significaram
muito para mim e estive em Cracóvia uma segunda vez.
Se eu trabalhasse nos lugares que tiveram valores históricos
e pessoais para mim, certamente eles perderiam estes valores
e se tornariam apenas um cenário para mim. O fato
é que não conseguia encontrar o tema certo.
Perguntaram-me diversas vezes se eu faria um filme na Polônia
e sempre respondi: "Sim, e planejo fazer, só
não sei quando." Eu sempre soube que queria
fazer um filme na Polônia sobre a Segunda Guerra Mundial
ou sobre o período pós-guerra, só não
conseguia encontrar o tema certo. O livro de Szpilman foi
este tema.
WLADYSLAW SZPILMAN
O PIANISTA
A vida em duas partes
Aos 27 anos, quando a guerra começou, Wladyslaw
Szpilman já era reconhecido como um dos mais promissores
pianistas poloneses. Ele tocava o Noturno de Chopin numa
rádio polonesa quando a Luftwaffe a bombardeou.
Como todos os judeus, Szpilman e sua família foram
expulsos de seu apartamento e, com milhares de outros, mandados
para o gueto de Varsóvia, onde o pianista passou
a ganhar a vida tocando em bares onde colaboradores e negociantes
do mercado negro se reuniam. Foi um destes colaboradores
judeu que salvou Szpilman do trem que levou toda a sua família
para a morte no campo de concentração. Graças
a um grupo de amigos de antes da guerra, de combatentes
da resistência e, surpreendentemente, com a ajuda
de um oficial alemão, Szpilman sobreviveu à
guerra.
Depois da guerra, a rádio polonesa voltou a funcionar
e, apropriadamente, com Szpilman terminando o Noturno de
Chopin tão brutalmente interrompido seis anos antes.
O pianista escreveu suas memórias em 1946, mas o
livro foi censurado pelas autoridades comunistas. O filho
de Szpilman, que nunca havia falado com seu pai sobre a
guerra, encontrou o manuscrito e republicou as memórias
em 1999, com reconhecimento internacional. O livro de Szpilman
é um relato vívido e enriquecedor da vida
no gueto e de sua incrível fuga e sobrevivência.
O tema forte e as emoções provenientes dele,
aliado a um belo e interessante grupo de personagens secundários,
tornou-se fonte de inspiração para Roman Polanski,
que já encontrara Szpilman em outras duas ocasiões.
Em seu terceiro encontro, no começo do anos 2000,
Szpilman se mostrou satisfeito com a idéia de seu
livro virar filme e ser dirigido por um compatriota. Wladyslaw
Szpilman faleceu em 6 de julho de 2000, antes do início
das filmagens.
Sunday Time, 20/11/99
As memórias de Szpilman assustam um pouco. Você
chorará, eu chorei, mas, por favor, leia.
The Guardian, 03/12/99
As lembranças de vida e de morte de Wladyslaw Szpilman
no gueto de Varsóvia é uma obra de arte.
Boston Globe, 22/10/99
Szpilman perdeu toda a sua família, mas foi salvo,
particularmente, por outros músicos poloneses e amantes
da música.
The Wall Street Journal, 02/09/99
O Pianista está repleto de incidentes, imagens e
pessoas inesquecíveis.
The Washington Post, 11/11/99
Sua história é tão inacreditável,
que é preciso ler para se acreditar.
SOBRE A PRODUÇÃO
Por Gene Gutowski/ abril de 2001
As observações que se seguem são de
Gene Gutowski, co-produtor de O PIANISTA e amigo de Roman
Polanski há 36 anos, com quem fez "A Repulsa
do Sexo" e "A Dança dos Vampiros".
Depois de um longo intervalo, eles voltam a trabalhar juntos
em um tema que ambos vivenciaram pessoalmente: sobreviver
durante os anos de guerra na Polônia, Roman em Cracóvia
e Gene em Varsóvia.
Cidades em ruínas eram a visão mais comum
na Europa Central e Oriental ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Cinqüenta e cinco anos depois, meses de trabalho e
meio milhão de dólares para recriar as ruínas
de Varsóvia para o filme de Roman Polanski, O PIANISTA,
em Juterborg, uma antiga cidade da Alemanha Oriental, a
90km de Berlim.
A Varsóvia da história de Wladyslaw Szpilman
nos anos da ocupação nazista de 1939-45 não
existe mais, ela foi toda reconstruída, ruas e prédios,
em sua maioria na antiga Praga, distrito de Varsóvia.
Ruas inteiras precisaram ser recriadas até o último
detalhe nos fundos do Babelsberg Studio em Berlim, a partir
das especificações e plantas do Produtor Artístico
Allan Starski, premiado com o Oscar por A Lista de Schindler,
e sua equipe de diretores de arte. Na Polônia, que
vem sendo reconstruída desde a devastação
da guerra, restavam poucas ruínas que eram essenciais
à história, como também a cidade vazia,
totalmente destruída, onde Szpilman (Adrien Brody)
se escondeu. E assim, depois de muitos meses de extensa
e intensiva busca, foi nos alojamentos do antigo exército
soviético abandonados localizadas em Juterborg destinados
à demolição que Allan Starski criou
a paisagem aterrorizante de uma cidade totalmente destruída,
com apenas alguns poucos postes de luz de pé. Foi
ali que, sob frio e vento intenso, começaram as filmagens
de O PIANISTA em 19 de fevereiro, convenientemente com as
cena em que Szpilman salta o muro e vê uma cidade
deserta e em ruínas coberta por um tapete de neve.
Com o apoio de muitos equipamentos, caminhões de
apoio, geradores, gruas, trailers de figurinos, maquiagem,
diretor, elenco e equipe de produção, tendas
enormes aquecidas e um restaurante, todos alinhados com
precisão militar, e uma equipe de mais de 100 pessoas,
poloneses, alemães e franceses, trabalharam juntas,
motivadas pelo tema e pela oportunidade de trabalhar com
Roman Polanski. Dentre eles, alguns técnicos que
já trabalharam com ele em outros filmes, como o diretor
de fotografia Pawel Edelman e sua equipe. O diretor poliglota
comunicava-se com a produção em seus próprios
idiomas. Depois de dois dias de filmagem, a unidade se mudou
para uma antiga villa em Potsdam, adaptada e aparelhada
retratar um quartel-general temporário do exército
alemão, onde, no sótão, Szpilman encontrou
refúgio e onde ele foi descoberto pelo capitão
alemão (Thomas Kretschmann), para quem tocou piano
para provar que era realmente músico. Para essa importante
cena, um famoso pianista polonês, Janusz Olejniczak
foi chamado para gravar a Balada no. 1 em Sol Menor OP.
23 de Chopin. Enquanto a cena estava sendo gravada, comovidos
pela música e pela emoção da cena em
que um judeu faminto e congelado toca para não morrer
e, visivelmente, comove o capitão alemão,
todas as mulheres da equipe e alguns homens tentaram conter
as lágrimas.
Chove e a programação da produção
é alterada para que a unidade retorne a Juterborg
para filmar a seqüência final do filme, quando
Szpilman, vestido como casacão do oficial alemão
que o salvou sai de seu esconderijo cercado de neve que
cobria uma cidade em ruínas e encontra seus libertadores,
os soldados poloneses. Se não fosse por esta providencial
nevasca, teria de ser usado um caro equipamento de neve
artificial para cobrir as ruínas. O diretor aproveitou
a oportunidade e mandou que a produção "segurasse
a neve". Esse tipo de sorte providencial aconteceu
mais uma vez e a seqüência final do filme foi
filmada exatamente como estava no roteiro. Foi uma benção
dos céus para Roman Polanski e o filme e muitos da
equipe de produção pensavam assim, quando
uma pequena cruz de um metro com Jesus Cristo crucificado
foi levada para o set. Ela era uma réplica perfeita
de uma estátua de bronze enorme que ficava diante
da igreja barroca da Cruz Sagrada no centro de Varsóvia.
Como resultado do levante, quando o exército da resistência
polonesa enfrenta o poderoso exército alemão,
a cidade fica reduzida a entulhos. A igreja foi destruída
e a estátua de Jesus Cristo cravada de balas, estava
caída no chão, com uma das mãos apontando
para o céu. Antes da batalha acabar, ela foi devolvida
ao seu pedestal entre as ruínas, como um símbolo
da grande dor do Senhor. O técnico em maquiagem Waldemar
Pokromski e sua equipe de escultores trabalharam noite e
dia e criaram uma réplica perfeita, que foi, então,
colocada sob as ruínas e filmada.
Assim que o diretor Roman Polanski decidiu fazer o filme
O PIANISTA, o elogiado livro de Wladyslaw Szpilman sobre
sua vida no gueto, sua fuga e sobrevivência na ruínas
da cidade deserta, estava determinado a contar essa angustiante
história da forma que foi escrita, com total imparcialidade
e riquezas de detalhes. Enquanto as equipes de cinema da
Gestapo documentavam a vida no gueto de Varsóvia
para fins de propaganda, Szpilman procurou mostrar as condições
indescritíveis da vida de sua família, não
poupando o leitor de uma paisagem de terror, com toda a
objetividade.
Enquanto Ronald Harwood (O Fiel Camareiro e Taking Sides)
fazia a adaptação do livro para roteiro, o
produtor artístico Allan Starski e sua equipe dedicava-se
a documentar e a projetar os cenários e as locações,
retratando fielmente a Varsóvia anterior do início
da guerra em 1939, durante a criação do gueto,
através da degradação gradual das condições
de vida e, finalmente, a extinção de seus
habitantes. No final, após os levantes testemunhados
por Szpilman, só restaram ruínas.
Influenciado fortemente pelas suas próprias experiências
no gueto de Cracóvia, Polanski e Allan Starski passaram
meses trabalhando para criar uma atmosfera absolutamente
autêntica. Eles pesquisaram arquivos, fotografias
e documentários, além de consultarem sobreviventes
como Marek Edelman. Foram feitas buscas intermináveis
para as locações e milhares de fotografias
tiradas e, no final, Polanski e Starski chegaram a um consenso,
que resultou num extensivo e caro programa de estúdio,
construção de cenários para as externas
e adaptações. Esforço semelhante foi
feito na escolha do elenco. Um jovem brilhante ator americano,
Adrien Brody, (Pão e Rosas, Além da Linha
Vermelha) foi selecionado para interpretar o personagem
principal, Szpilman, ao lado de um talentoso elenco de atores
ingleses e de um jovem ator estreante alemão, Thomas
Kretschmann (U 571), que interpreta o Capitão Hosenfeld.
Já que o filme estava sendo rodado em inglês,
a decisão de usar um elenco de atores ingleses foi
determinada pela necessidade de uniformizar as pronúncias.
O PIANISTA era uma produção inteiramente européia
e os técnicos que Roman Polanski reuniu a sua volta
eram de várias nacionalidades. Da Polônia vieram
o produtor executivo Lew Rywin e seu chefe de produção
Michal Szczerbic, Allan Starski seus diretores e designers,
Pawel Edelman, diretor de fotografia (Os Anjos da Guerra),
seus câmeras e sua equipe de iluminação.
Anna Sheppard (A Lista de Schindler), polonesa de nascimento
mas morando na Inglaterra, ficou responsável pelo
figurino e a aquisição de milhares de costumes
de época e uniformes recolhidos por toda a Europa.
Ainda da Polônia, o internacionalmente conhecido Waldemar
Pokromski, um artista da maquiagem. Da França vieram
Sylvette Baudrot (continuista), Didier Lavergne e Jean-Max
Guerin (maquiagem e cabelo), Jean Marie Blondel (som), Guy
Ferandis (fotógrafo de still), alguns deles veteranos
dos filmes de Polanski. Da Grã-Bretanha vieram o
produtor associado Timothy Burrill, o consultor militar
Andrew Mollo e o coordenador de stunt, Jim Dowfdall, a diretora
de elenco Celestia Fox, bem como o serviço de duas
excelentes equipes de pintores. O Estúdio Babelsberg
da Alemanha ofereceu apoio incondicional para a produção
na construção dos cenários, adaptações
e gerenciamento da produção. A este complexo
e ambicioso projeto juntaram-se a Roman Polanski, o produtor
Robert Benmussa, Alain Sarde, o co-produtor Gene Gutowski,
o produtor executivo Lew Rywin e sua Heritage Films de Varsóvia,
para realizar a produção de O PIANISTA na
Polônia em parceria com a TVP 1 e o Canal +. Embora
com várias nacionalidades, os produtores e os técnicos
assumiram um senso de lealdade com o diretor e seu projeto.
"Nihil magnum sine ardore", não há
grandeza sem paixão é o lema de vida de Roman
Polanski, inscrito na espada de honra que recebeu ao se
tornar membro da Academia Francesa. É com esta paixão
quase palpável que Polanski dirige, agora, o filme;
uma paixão compartilhada com os atores e com a equipe
internacional. Como a grande maioria da equipe de produção
é composta de homens e mulheres jovens, eles pouco
sabiam sobre a brutalidade da ocupação nazista
a Polônia e o tratamento animal dados aos judeus de
Varsóvia. Foi feita uma exibição de
documentários da época para toda equipe de
produção antes das filmagens. A reação
foi de choque e incredulidade, mas ao final, todos sabiam
os fatos reais da história de O PIANISTA.
Notório perfeccionista, Polanski exigiu autenticidade
de cenários, figurino, uniformes e acessórios,
até mesmo o rosto dos atores e dos extras entrevistados,
forma fotografados e gravados. Era essencial que se encontrasse
os tipos certos para representar os poloneses, judeus e
alemães, como eram 60 anos atrás. No final,
foram os atores alemães e os dublês, que vestidos
com os uniformes do temível Schutzpolizei, da SS
Sonderdienst e falando alemão, deram ao filme um
toque deprimente, que até mesmo diretor e suas lembranças
de criança, achou desconfortável.
Para o esconderijo final de Szpilman, foi escolhida uma
elegante villa hoje abandonada numa rua residencial de Potsdam.
Construída em vários níveis, da cozinha
no porão passando pelo espaçoso salão
de recepção, no qual ficou instalado um quartel-general
do exército alemão comandado pelo Capitão
Hosenfeld, até o sótão e acima dele,
um cubículo debaixo do telhado, onde Szpilman faminto
e delirante, encontrou um lugar para se esconder. Foi ali
que o alemão e seu salvador lhe deu comida e seu
próprio casacão do exército.
O piano de cauda empoeirado, uma relíquia da antes
elegante villa, estava no meio de um salão vazio,
agora sala do Capitão. Foi nele que Szpilman, com
os dedos enrijecidos e semi-congelados, tocou para o alemão,
a Balada nr. 1 em Sol Menor OP. 23. Insistindo em realismo
total, as filmagens foram até tarde da noite. Polanski
levou os atores e a equipe até a exaustão,
até que essa importante e pungente seqüência
ficasse pronta em 1 de março.
Se ensaiando com os atores ou preparando a cena com os
câmeras e a equipe de efeitos especiais, com seu corpo
compacto e jovem em estado de movimento constante, Polanski
trabalha com concentração e confiança,
buscando a melhor performance e a melhor tomada onde cada
fotograma é importante e nenhum detalhe é
trivial demais para escapar aos seus olhos atentos. Em reconhecimento
de sua grande habilidade e talento, os atores e a produção
trabalharam com rara devoção, cientes da importância
do filme e as emoções que estão envolvidas
e compartilharam com o diretor em uma jornada à sua
infância.
Em 2 de março, a unidade de produção
e sua frota de veículos de apoio foram para Belitz,
uma pequena cidade ao sul de Berlim na antiga Alemanha Oriental.
Aqui, em um grande e atualmente abandonado complexo hospitalar
construído na virada do século e recentemente
usado pelo exército soviético onde letras
do idioma russo ainda estão em evidência nas
paredes, cenas importantes estão sendo filmadas,
quando Szpilman se esconde num hospital militar alemão
em chamas em Varsóvia, procurando desesperadamente
por comida e, por fim, encontra água e come uma "gororoba'
que cozinha. Ainda em momento de sua fuga, Szpilman foge
pela escada de um prédio fora bombardeado e está
em chamas, tropeça e cai sobre o corpo de um homem
queimado, cujas ferimentos chocantes, pele descascada e
bolhas enormes, foram recriadas com exata perfeição
pelo mestre da maquiagem, Waldemar Pokromski.
Por fim, a unidade de produção foi para Babelsberg
Studio, onde um complexo de ruas de Varsóvia e casas
de cinco andares foram construídas com um realismo
de tirar o fôlego. As ruas foram pavimentadas com
pedras de verdades, que tinham marcas dos bondes que circulavam
na época em Varsóvia. Construída com
atenção infinita a cada detalhe de arquitetura,
cenários, placas de ruas e de lojas e cartazes do
tempo da guerra, esse cenário foi usado para uma
série de seqüências de ação
importantes, todas elas observadas por Szpilman de seu esconderijo
no alto de um prédio. De lá, ele vê
quando explode o levante de Varsóvia em agosto de
1944, a resistência polonesa atacar um posto policial
alemão do outro lado da rua. Numa violenta batalha
pelas ruas, o prédio é demolido com granadas
e incendiado com um "Panzerfaust" e muitos homens
da SS morrem. O hospital contíguo é evacuado,
os civis capturados são mortos nas ruas e, depois,
um tanque ressoa pelas ruas e atira no edifício onde
Szpilman está escondido. Os combatentes poloneses
recuam para trás de um muro, que está em um
dos lados da rua e são mortos pelos soldados da SS.
Por sugestão do diretor, o tanque foi usado novamente,
quando outros meios falharam, para tombar um bonde. O evento
foi aplaudido por toda a equipe e filmado por Polanski com
sua própria câmera.
Em outra seqüência aterrorizante, a rua e os
prédios agora totalmente reformados para ser o local
do gueto de Varsóvia, são observados por Szpilman
e sua família de seus apartamento. Uma pequena unidade
da SS entra no prédio oposto e, da varanda do último
andar, atira um velho judeu inválido e sua cadeira
de rodas. Os moradores da casa são perseguidos pelas
ruas e forçados a correr para salvar suas vidas,
enquanto os alemães atiram e os matam a sangue frio.
Ao deixar o local, o carro da SS passa por cima dos corpos
sem vida. A queda livre da varanda foi filmada em uma única
tomada e entrou pela noite, e diretor, equipe de produção
e atores terminaram a cena exaustos às 7 horas da
manhã.
Começou em 15 de março uma das mais importante
e tecnicamente complicadas cenas do filme, que utilizou
simultaneamente três câmeras em vários
níveis: o ataque ao gueto. A tropa da SS avança
em direção ao muro do gueto, sob tiros de
um prédio do lado judeu. Uns dois soldados atiram
granadas por cima do muro, incendiando os prédios
e recuam. Retornam, exatamente como fizeram 24 anos atrás,
com uma pequena tropa de ataque. Uma granada explode e abre
uma grande fenda no muro, atirando tijolos pela rua e quase
atingindo a produção. Os soldados da SS entram
com lançadores de chama. Os prédios queimam
e alguns judeus, em chamas, se atiram pelas janelas para
a morte. A batalha é contemplada por um passivo comandante
da SS, que de dentro de sua limusine e protegido por guarda-costas,
uma remontagem deprimente de uma fotografia tirada na época.
Os últimos combatentes são aprisionados, colocados
contra o muro e executados a sangue frio.
Em 26 de março, época de andar agasalhado
em Babelsberg e, novamente, os deuses dos cineastas sorriram.
Para a cena de inverno, quando Szpilman atravessa a rua
e entra em um prédio onde se esconderá com
seus amigos poloneses, foi preciso colocar neve artificial
no chão. Quando as câmeras se preparavam para
rodar, começou a nevar, contra todas as previsões
meteorológicas, dando à cena maior realismo.
Dias depois, o cenário da enorme rua já estava
vazio. Rápido e eficientemente, todo o equipamento
foi removido. Sumiram as gruas, os cabos de iluminação,
os geradores, os caminhões com suprimentos, o tanque.
Alguns dos prédios estavam meio queimados. As lojas
com suas placas em polonês e alemão estavam,
agora, vazias. Os cartazes de época ainda estavam
pendurados nas paredes e os jornais antigos permaneciam
na banca vazia. Sumiram, também, a equipe de produção,
os atores, os dublês e extras poloneses, judeus e
alemães da SS, todos parte deste drama humano. Não
estava mais lá, também, a presença
dominante do diretor, sempre visível com sua parka
vermelha que contrastava com as roupas escuras da equipe
de produção e o figurino dos atores.
Visitantes curiosos chegavam, agora, e ficavam inertes
e maravilhados diante daquele cenário silencioso
e vazio, que logo se tornou atração turística
e parte do tour ao Babelsberg Studio. Foi com uma certa
nostalgia que o diretor e os membros poloneses e franceses
da equipe de produção deixaram o Babelsberg
Studio e seus colegas alemães com quem trabalharam
por tantos meses, preparando e construindo cenários,
e finalmente, filmando por cinco semanas. A súbita
e inesperada morte do presidente do Babelsberg Studio, Rainer
Schapper, ex-produtor artístico de muito talento
(O Nome da Rosa) e muito querido, que deixou saudades graças
a uma cooperação de sucesso e muito feliz.
Rainer foi o grande responsável pelo O PIANISTA ir
para o Babelsberg e durante as negociações,
tornou-se amigo pessoal do diretor. No funeral, Roman Polanski
fez um discurso carinhoso, saudando a partida do amigo,
dizendo que seu rosto sempre sorridente de radiante otimismo,
ele jamais esquecerá.
Com somente dois dias para transferir toda a equipe de
produção, equipamentos e figurinos, as filmagens
de O PIANISTA começaram, novamente, em 29 de março,
em locações nas ruas de Praga, distrito de
Varsóvia. Lá, do outro lado do rio, o tempo
parece que parou, diferente do centro de Varsóvia,
onde toda a parte histórica foi restaurada e agora
elegantes arranha-céus estão por todo lado.
Praga foi poupada da destruição, uma vez
que aqui foi onde o exército soviético se
instalou e, relutante de atravessar o rio, permitiu que
os nazistas dominassem o levante polonês do outono
de 1944. Aqui, na parte mais pobre da cidade, antigos prédios
de tijolos ainda pode se ver os buracos deixados pelas balas,
muito parecido com as casas e ruas do antigo gueto de Varsóvia.
Aquele bairro era muito perigoso e dominado pelo crime,
o que levou à produção a tomar medidas
para que as filmagens corressem sem atropelos. Valendo-se
de material documental, Allan Starski e sua equipe recriaram,
a rua principal que cruzava o gueto de Varsóvia,
e ao longo dela placas de lojas, cartazes, decretos oficiais
e até mesmo mensagens pessoais escritas em pequenos
cartões eram afixados nas paredes. Na manhã
do primeiro dia, foi como se o relógio da história
retornasse 60 anos. De ambos os lados dos portões
de vaivém que ligavam os grandes e pequenos guetos
e guardados pela polícia alemã, polonesa e
judia, multidões de judeus definhando em roupas esfarrapadas
e usando as braçadeiras com a Estrela de Davi esperavam
que os portões se abrissem, que o intenso tráfego
de bondes e carroças fosse interrompido, para que
atravessassem correndo a rua ariana. Uma pequena banda de
judeus tocava e só por diversão, os policiais
alemães puxavam brutalmente homens e mulheres do
meio da multidão e, deliberadamente, formavam casais
absurdos e os forçavam a dançar. "Mais
rápido, mais rápido", dizem eles. Tal
era o realismo da cena, do cenário e de todos os
atores que foi difícil assistí-la. Roman me
pediu para olhar na tela do monitor: "Parece real,
Gene?", ele me perguntou. E nós, que já
tínhamos visto aquilo antes, olhamo-nos com tristeza.
Nos dias que se seguiram, outras cenas foram filmadas;
uma ponte de madeira sobre uma rua ariana, onde uma fila
sem fim de homens e mulheres judias caminhavam com seus
rostos magros e tristes, carregando seus poucos pertences
em maletas e fardos a caminho do gueto. Entre eles, Szpilman,
seu pai (Frank Finlay, Otelo), sua mãe, (Maureen
Lipman, O Despertar de Rita - Educating Rita), o irmão
Henryk (Ed Stoppard, O Pequeno Vampiro), e as irmãs
Regina (Jessica Meyer, Alta Freqüência - Frequency)
e Halina (Julia Rayner, Topsy Turvy).
Em outra área, um grande prédio está
sendo construído. Lá o enfraquecido Szpilman
em frangalhos trabalha em sua construção ao
lado de amigos do gueto e alguns trabalhadores poloneses.
Sua falta de jeito provoca a fúria do policial alemão,
Schupo, que o empurra na lama e segura sua cabeça
entre as pernas e o açoita. "Und Zig. Und Zag.
Und Zig. Und Zag."
Os filhos de Roman Polanski visitaram o set. Eles vieram
para almoçar com o pai e se divertiram brincando
com toda a equipe de produção. A constante
movimentação das crianças, suas risadas
e brincadeiras contrastavam com a seriedade do tema, as
roupas e os rostos dos atores e extras. A presença
deles ajudou a quebrar a tensão e seus rostos iluminavam
as sombras do passado. Outro momento relaxante aconteceu
quando uma grua foi usada para retirar uma toalha colorida
de uma janela, ou quando a filmagem parou esperando a volta
do condutor do bonde que tinha ido ao banheiro. "Quantos
anos você tem?", perguntou Polanski. "Somente
30 anos e já não consegue segurar sua urina?"
Roman Polanski é um ícone polonês e
os habitantes das ruas principais de Praga observavam as
filmagens em silêncio e pacientemente seguiam as instruções
do grupo de jovens assistentes de direção.
Para os mais velhos, foi reviver um passado distante e,
para os mais jovens, uma lição de história.
Em 24 horas os muros do gueto, os portões e a ponte
foram retirados e a vida nas ruas voltou ao normal, a não
ser por algumas placas de lojas, anúncios e cartazes
colados nas paredes, fantasmas distantes de um terrível
passado. Muitas pessoas paravam para ler e continuavam caminhando
sacudindo as cabeças.
Por Edinho Pasquale
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