O DVD E AS SUAS PIORES PRAGAS

(por Ricardo Ribeiro do site português DVD MANIA)

Sei bem que muitos dos leitores da DVD Mania estão limitados às edições de região 2. Nuns casos porque não desejam arriscar o desbloqueio do seu leitor; noutros, porque necessitam das legendagens em português. E por vezes pela conjugação destes dois factores. Essas pessoas são vitimas mais ou menos conscientes dos abusos verificados no mercado nacional, onde os preços são elevados e a qualidade é muitas vezes reduzidas. Mas também há aqueles que já se aventuram nas compras na Internet, encomendando de fora, sobretudo de Espanha e Inglaterra, títulos que para além de não estarem ainda disponíveis em Portugal, são de região 2 e podem mesmo ter legendas na nossa língua. Mas todos estão sujeitos a algumas pragas que assolam o mundo do DVD.

As Caixas da Warner

Desde o início que a Warner adoptou um modelo de caixa diferente das restantes editoras. O figurino de embalagem, igualmante utilizado pela editora associada Buena Vista, é geralmente odiado pelo coleccionador de DVD, pois estas caixas de cartão danificam-se facilmente, e quando tal acontece não há hipótese de as substituir, tal como sucede com as normais caixas de plástico. O problema é que a capa está impressa no próprio cartão, e uma vez este danificado, acabou-se. Além disto as dimensões destas caixas são diferentes, ligeiramente superiores, o que estraga qualquer tentativa de uniformidade numa prateleira. Apesar de todas as pressões do mercado a Warner continua com a produção destes moldes, o que inclusive já lhe valeu algumas ameaças de boicote.

As Regiões

A questão das regiões é amplamente conhecida, e os menos informados poderão ler a explicação básica no artigo adequado. Esta é talvez a pior praga para o utilizador de DVD, limitado à leitura de discos da sua região. Felizmente existem meios para evitar o espartilho, que os mais interessados podem atingir com alguma facilidade.

As Edições sem Legendas

Já é suficientemente mau que tenhamos que recorrer a mercados estrangeiros para rechear a nossa colecção de DVD's, perdendo na maioria dos casos o direito à legendagem na nossa língua. O pior mesmo é quando a edição daquele filme que tanto desejamos nos aparece sem qualquer tipo de legendas. É que se há muitos de nós que se safam bem lendo as legendas em inglês, já poucos são os que entendem claramente o inglês falado pelos actores. Pessoalmente tenho uma longa lista de frustrações deste tipo, quase todas provocadas pela MGM. É que este tipo de situação é frequente com edições de pequenos estúdios, supostamente com um orçamento mais apertado e sem espaço para encomendar estes expedientes. Mas a MGM assumiu há algum tempo a política oficial de legendar os seus filmes em DVD apenas em francês e espanhol. Imagino que os deficientes auditivos lá pelos EUA não devem achar piada nenhuma a esta ideia. Pelo menos a editora já anunciou que irá alterar a sua posição e teremos de novo direito à língua de Shakespeare nas suas edições.

O Mercado Português

Palavras para quê? No que toca a DVD quase tudo é errado neste país. Editoras que não sabem o que estão a fazer. Preços exorbitantes. Edições com defeitos. Os selos injustificados e mesmo ilgeais à luz da legislação europeia, que atrasam a saida para as lojas das edições e penalizam os consumidores com o respectivo acréscimo ao preço final do produto. Atrasos na chegada dos novos e velhos títulos, lançados nos EUA muito antes.

Edições sem extras

Se ficamos deliciados com os extras incluidos em edições de grande qualidade, e mesmo satisfeitos com algumas mais parcas em materiais adicionais, a decepção é grande quando sabemos que vai ser lançado aquele velho filme que tanto apreciámos há uns anos, mas que no disco DVD apenas vamos poder ver o filme. Devia haver uma lei que proibia as editoras de espalmar num DVD um filme sem mais nada a acompanhar. Sobretudo quando se tratam de grandes títulos que de uma forma ou de outra marcaram a História do cinema, e que aparecm agora, timidamente, em DVD, sem grande divulgação e em edição pobre.

Os Preços Exagerados

A justeza do preço é algo subjectivo. Sem vasculhar em detalhe os custos de produção, os custos comerciais (direito de autor, licenças, etc), será dificil determinar com exactidão o que é umpreço justo. Mas temos sempre o termo comparativo. Como explicar que alguns títulos custem o triplo do preço de outros no mercado britânico? E por cá, como explicar que algumas editoras comercializem os seus títulos com um acréscimo sistemático de 20% relativamente a outras? Ganância.

Incompatibilidades

Temos o nosso leitor novinho em folha e sabemos que acabou de sair em DVD o nosso filme favorito. Corremos a comprar. Chegamos a casa trementes de ansiedade. Perfeito. Fechamos as luzes, ligamos o equipamento e colocamos o disco no leitor. E... o aparelho cospe o disco, abrindo a gaveta e recusando obstinadamente a sua leitura. Este é um cenário de pesadelo, mas que foi já vivido por demasiadas pessoas. Eu próprio acabei de receber a edição americana do filme Salvador, de Oliver Stone, editado pela MGM. Mas, como já adivinharam, ainda não pude vê-lo. Defeito no disco? Não. É lido na perfeição pela minha drive DVD-ROM. O meu leitor de sala Philips está avariado? Não. Todos os dias lê discos DVD sem qualquer problema. É apenas mais um caso de incompatibilidade. E alegrem-se todos, porque no início era pior. O ponto alto do problema foi atingido quando a Warner Brothers lançou o tão desejado Matrix, numa época em que a Samsung detinha um enorme share de mercado dos leitores. E sim, já adivinharam... os leitores Samsung da altura não se davam bem com a edição de Matrix. Actualmente é cada vez mais raro encontrar situações destas, felizmente para todos nós. Mas cuidem-se, porque acabei de provar com o meu Salvador que ainda sucede.

Picardias Comerciais

O mundo do DVD está cheio de elas. E são das principais responsáveis no adiamento de lançamentos anunciados, quando a editora tem que retirar um extra que já estava integrado no produto porque não obteve a autorização esperada para a sua inclusão. São também o motivo base para a existência de Regiões, e para o atraso europeu nas edições de títulos. Também é devido a picardias comerciais que continuamos impedidos de adicionar à nossa colecção títulos essenciais; não disponho de informações concretas mas muito me surpreenderia se a inexistência em DVD de filmes como The Mission e Once Upon the Time in America não estivesse relacionada com estas questões. Nalguns casos ninguém assume a responsabilidade pela edição (ou não edição): o realizador diz que os direitos estão na posse do estúdio, o estúdio alega que por isto ou por aquilo o produtor tem que autorizar, e assim, todos perdemos, enquanto aguardamos, até data incerta, pelo aparecimento de grandes filmes que ninguém esqueceu mas que persistem em se manter ausentes dos catálogos.