11
de agosto de
2004
Há uma
boa noticia para quem gosta de filmes clássicos em DVD:
eles baixaram de preço nos EUA. Não digo nem no
Brasil, porque as distribuidoras nem se esforçam para
colocá-los no mercado, deixando o espaço aberto
para os piratas. Assim, quase todos saem agora por 14 dólares
(18 no máximo) e se forem comprados na semana do lançamento
você geralmente os consegue por $ 9.99. Mas gostei mesmo
foi da Universal que teve a idéia de fazer edições
de clássicos em dois DVDs, trazendo de seis a oito filmes,
(conforme o tamanho deles). Assim comprei uma coleção
Deanna Durbin com seis filmes, outra do Abbot e Costello (com
oito) e sempre por 14 dólares. E lançaram outras
com Francis, o Mulo Falante e Ma e Pa Kettle. Ou seja, estão
trabalhando para baratear o produto e atrair o consumidor, sem
a loucura do lucro a qualquer custo. Até a Columbia que é mais
devagar lançou esta semana um pacote Gidget com os três
filmes da série juntos (só o primeiro com Sandra
Dee). Pura nostalgia dos anos 60! Foi esse capitalismo selvagem
que levou a hoje crise no mercado do CD, só compra disco
gente mais velha. E quem, como nós, tem um gosto um pouco
diferenciado.
Enfim,
vamos continuar com os filmes:
Collateral
Teve ótimas
criticas inclusive para Tom Cruise em seu primeiro papel de bandido
(em Magnólia, era só mau
caráter), que ele faz grisalho (aliás nada convincente),
melhor dizendo faz todo cinzento (também a roupa dele,
para ficar parecendo um homem de aço!). Dirigido por Michael
Mann (Ali, O Informante), o filme é um thriller policial,
rodado em Alta definição (segundo o diretor, porque
só assim conseguiu capturar algumas imagens que desejava
da cidade de Los Angeles). Isso não atrapalha nem um pouco,
a fotografia é esplendida, já que a ação
se passa numa única noite, do anoitecer até o amanhecer,
em Los Angeles, que pelo filme parece uma cidade que nunca dorme.
Começa com um chofer de táxi (Jamie Foxx no melhor
momento de sua carreira que eu não conheço tão
bem porque começou como humorista na teve na serie In
Living Color com Jim Carrey e os Irmãos Wayans). Ele leva
uma passageira promotora (Jada Pinkett Smith) com quem flerta,
quase sem perceber. Mas ao deixá-la quem entra no carro é um
homem bem vestido (Cruise) que lhe propõe conduzi-lo por
cinco lugares diferentes da cidade (que o herói já demonstrou
conhecer bem) onde tem negócios a realizar. Vão
até o Lado Leste, onde de repente cai um cadáver
no teto do táxi e Jamie percebe que foi o seu passageiro
quem o matou. Dali em diante, resistindo ao revólver,
e ainda assim forjando, se não uma amizade, um laço
afetivo com o assassino profissional, eles prosseguem pela cidade. É quase
um filme de estrada, ou de autovia, já que vão
ao hospital onde esta a mãe do taxista (feita pela mesma
atriz de Matador de Velhinhas) a uma casa de jazz (talvez a melhor
seqüência, inesperada) e até mesmo a boate
coreana latina onde está o pagante do crime (uma aparição
marcante de Javier Bardem). Não sei se gosto muito de
Cruise, depois de O Último Samurai perdi qualquer ilusão
sobre ele. É um ator limitado que não tem conhecimento
de suas fraquezas e faz sempre a mesma coisa, talvez ria um pouco
menos.
Não
me convence como frio assassino. Jamie usa a velha técnica
de fazer o mínimo possível e até funciona,
porque o filme é movimentado, bastante bem realizado.
Parece que o diretor Mann evitou fazer um thriller de suspense
tradicional (a edição poderia ser mais ajustada,
mais rápida) deixando ser um mergulho na noite, quase
no estilo do policial francês de Jean Pierre Melville.
Interessante.
Cat
Woman
Pois é.
Falaram tanto que acabei não achando tão
ruim assim. Quase todas as objeções são
verdadeiras: Halle Berry é frágil demais para feitos
atléticos (mas ninguém reclamou quando esteve em
James Bond!). Sua roupa realmente parece um delírio sadomasoquista
de um figurinista mal intencionado. Mas o que me incomoda mesmo é que
o filme foi transformado quase que numa animação,
num desenho animado digital (todos os exteriores são visivelmente
feitos em computador e nem tentam disfarçar como em Homem
Aranha, que é uma figura animada que está pulando
nos muros - aquele andar final dela então não podia
ser mais falso). Por outro lado, foi justamente essa a proposta
do diretor francês que se assina Pitof (Jean-Christophe
Comar) e que havia feito antes um curioso Vidocq com Gerard Depardieu. É para
ser estilizado mesmo, delirante, nada realista.
Talvez
as anteriores mulheres gatos da teve ou mesmo Michelle Pfeiffer
estivessem dentro de um contexto Batman (que não é mencionado
aqui, ao contrario há a preocupação de se
criar uma nova mitologia), o que tornava mais fácil aceitá-las.
Halle não convence como a desenhista gráfica que é tão
tímida (e mal-vestida!) que não consegue entregar
a tempo um trabalho (embora a melhor amiga passe o filme todo
encorajando-a e dizendo que ela é talentosa). Aliás
faz tudo errado, até mesmo acaba morrendo quando vai espionar
sem querer a fabrica e fica sabendo que o creme que irão
lançar deixaram as mulheres de rosto deformado e marcado
para sempre. Só que ressuscita através de um gato
egípcio mágico que a transforma justamente na Mulher
Gato, louca por sardinha e capaz de pular telhados. Para complicar
ela está sendo paquerada por um policial (Benjamin Bratt,
que ficou famoso por namorar Julia Roberts, mas é fraco
como tipo e ator e não tem qualquer química com
Halle). É importante também, a presença
dos bandidos, nem tanto o francês Lambert Wilson que mal
aparece, mas Sharon Stone, que com o tempo foi ficando uma atriz
falsa e auto- suficiente, sem qualquer verdade, e com pouco timing
de comédia. Nem consegue marcar como a pérfida
vilã, dona da fábrica de cosméticos, que
aproveita para se vingar do marido infiel acusando a Mulher Gato
(aliás, esta vive penetrando nas casas e procurando se
vingar de uma maneira bastante discutível). Por outro
lado, Sharon e Halle, aliás, todo o elenco e filme, sofrem
um banho digital que lhe tira marcas e rugas, dando-lhes aquele
tom artificial que o diretor procurava. Mas A Mulher
Gato é divertido
de assistir? Pouco. Principalmente porque as cenas de ação
são ruins. Mal se consegue enxergar alguma coisa (culpa
do CGI), tudo é acelerado, inconvincente, borrado demais.
Se não acerta como ação, nem como erotismo,
talvez consiga atingir os mais jovens. De fato, achei menos ruim
do que se previa.
Por Rubens Ewald Filho
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