13
de agosto de
2004
Fui-me
embora como cheguei, ouvindo notícias alarmantes
de terrorismo, e toda a mídia se comportando como lebres
assustadas, agora insinuando que chegou o momento de invadir
o Irã (porque estes anunciaram que têm mísseis
de longo alcance!). Ou seja, nada mudou, a não ser uma
grande chuvarada, que inundou as ruas e atrasou o avião,
igualzinho a São Paulo. De qualquer maneira, preparei
um pequeno roteiro de despedida, com um show teatral e um filme.
Os
Diários da Princesa II (Royal Engagement)
Como
todo filme da Disney estreou na quarta-feira (em vez da sexta
como todos os outros).
O primeiro filme de 2001 não fez grande sucesso no Brasil
embora fosse uma comédia divertida e adorável,
indicada para meninas (mas passou dublado em português,
ou seja, qualquer um com mais de 11 anos fugiu dele). Revelou
uma garota encantadora Anne Hathaway e trouxe de volta em papel
importante Julie Andrews, charmosa, bonitona e elegante. A história
era uma fantasia: a rainha de um pequeno principado europeu veio à América
procurar sua neta e herdeira do trono. Agora a moça já esta
lá e pronta para assumir o cargo quando um inimigo descobre
que ela precisa se casar para poder assumir a herança
e isso num prazo de trinta dias. Mas como achar um namorado?
Esse é um dilema que só mesmo pré-adolescentes
acharão interessante, já que o filme não
passa de uma série de vinhetas mostrando como a moça é desajeitada,
como o noivo que ela escolhe não lhe serve, e o rapaz
certo é o outro bonitinho que está por perto. Traz
de volta todo o elenco de apoio do original, dando mais destaque
para Julie (que tem uma trama romântica com o chefe da
segurança, Hector Elizondo e até canta uma canção
- embora ela tenha perdido sua famosa voz, ainda é capaz
de entoar com certa musicalidade). Mas como toda continuação é mais
fraquinha, sem novidades, e mesmo a estrelinha Anne está ficando
cada vez mais parecida com Liza Minnelli (grandes olhos, queixo
pequeno, o que não é elogio para ninguém).
Quem dirigiu foi novamente Garry Marshall, que entende do assunto
já que fez Uma Linda Mulher. De qualquer
forma, uma matinê adequada
para uma última tarde.
Let´s
Put on a Show
A
verdadeira despedida foi quando descobri que Mickey Rooney estava
estreando nesta sexta na Off-Broadway, com um show que
deram o nome de Let´s Put on a Show junto com sua mulher
Jan. Certamente é aquele show com que os dois circulam
pelo interior dos EUA, não duvido nada até em
asilo de velhos. Porque o público dele certamente está muito
idoso. Mickey tem atualmente 83 anos (completa mais um dia
7 de setembro) e continua a ser um Ham (um ator incansável
que adora representar e só se sente bem assim). O espetáculo
tem uma boa parte musical, mas é modesto (eu assisti à primeira
preview onde alguns acertos de som ainda estavam sendo feitos).
Já conhecia Mickey de Sugar Babies, de O
Mágico
de Oz e de uma entrevista que me deu em San Sebastian.
É daqueles
que basta fazer meia pergunta que ele já engata
e sai falando por meia hora. Claro que não tem mais quase
voz, parece que ficou ainda mais baixinho, mas tem enorme prazer
de estar ali, ainda mais cantando canções antigas
que cantou nas fitas da Metro ou que compôs para suas mulheres
(em homenagem a Judy e a Ava Gardner, que foi sua primeira mulher).
Aliás canções bem razoáveis. Ele
entra de smoking, e diz: Isto é o que sobrou de Mickey
Rooney. Depois anuncia alguns trechos de filmes antigos, conta
a história de sua vida (estreou no palco com 2 anos, aos
5 já fazia cinema e aos 7 era astro de setenta fitas mudas.
Depois na Metro, virou a atração número
um de bilheteria com a série Andy Hardy). E só sai
para entrar a esposa já de quase trinta anos (ele foi
casado muitas vezes, esta já é a oitava, o que é motivo
para piadas), que é uma loira gorda, que mais parece uma
barracuda. Explico: cabeça pequena, corpo grande, voz
apenas razoável. Jamais estaria se apresentando caso não
fosse a Sra. Rooney. O pior é que ela é péssima
no palco, não tem senso de humor, faz piadas grosseiras
e parece querer acabar com o marido, ficar com o palco só para
ela (os dois fazem alguns duetos de algumas canções
standards). Sai-se um pouco melhor quando canta canções
country de Patsy Cline. Mas não tem maior talento. O problema é que
o show se prolonga, não acaba nunca porque eles não
querem sair de cena. Depois, como velhos astros, vão para
a sala de espera, onde assinam fotos e CDs para os interessados.
Ou seja, eles se divertem mais do que nós. Mas foi certamente
a última chance que tive de ver uma lenda como ele contando
sua vida e relembrando seus êxitos.
Não é uma má maneira de se despedir de
Nova York neste verão de 2004.
Por Rubens Ewald Filho
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