20
de dezembro de
2004
Nunca é boa
idéia re-filmar um clássico.
Mas
não é o caso desta nova versão do pouco
conhecido Como Conquistar as Mulheres (Alfie de 66 direção
de Lewis Gilbert, com Michael Caine e Shelley Winters), que chegou
a dar uma indicação ao Oscar para o ator (não
disponível em DVD no Brasil). O original era famoso por
seu cinismo em relação às mulheres, por
algumas ousadias para a época (como mencionar aborto)
e principalmente pela técnica bem rara então, de
fazer seu protagonista Alfie falar para a câmera, dirigindo-se
diretamente para o espectador. Havia também um componente
social importante, já que o herói era um cockney
(ou seja, um britânico pobre que falava com sotaque) acentuando
o lado de luta de classes que se perde inteiramente aqui, onde
tudo está recoberto pelo glamour hollywoodiano. Na verdade
de clássico mesmo só tinha a musica-tema de Burt
Bacharach (que o filme destaca mesmo antes do pré-letreiros
e depois nos créditos finais).
A canção
também havia sido indicada ao
Oscar assim como o roteiro adaptado (de peça de Bill Naughton),
coadjuvante Vivien Merchant e curiosamente de melhor filme!).
Quem agora faz Alfie é o galã do momento, votado
o Homem mais Sexy do Mundo (revista People), o inglês Jude
Law. E aí começa o problema. O moço é bonito
demais, bom ator ainda por cima (dá ao personagem um tom
mimado). Impossível qualquer homem se identificar com
ele, Ao contrário, se fica até com inveja. E má vontade
(chega-se a pensar: será que ele não está desmunhecando
demais?).
Enfim,
não parece boa idéia transpor Alfie para
a Nova York da atualidade, onde seu comportamento de inveterado
conquistador com medo de se comprometer, não tem maior
novidade. É difícil acreditar que com o salário
de motorista ele pudesse ter uma vida tão luxuosa, vestir-se
tão bem e transar na alta roda. Mas são coisas
do cinema. Na história, ele é um bon vivant (fala
sua: eu subscrevo a filosofia européia de vida: vinho,
mulheres e... bem, isso já basta). Tem uma relação
mais ou menos fixa com Marisa Tomei (por causa do filho pequeno
dela a quem se afeiçoou), mas isso não impede que
transe com a namorada do melhor amigo, uma bela negra (que ficou
grávida dele). Seu caso mais longo é com uma loira
bi-polar (Sienna Miller, atual namorada de Jude que teria provocado
seu divórcio) e o mais interessante com uma milionária
cinquentona (Susan Sarandon). Apesar de tudo isso, a refilmagem
resultou banal, irregular e desnecessária. Pode agradar
ao público feminino simplesmente porque Jude é o
astro do momento (está em seis filmes este ano) e um colírio
para os olhos delas.
Por Rubens Ewald Filho
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