AMAZON ADVENTURE FILM FESTIVAL

29 de novembro de 2004

Primeiro é preciso derrubar alguns mitos. Não chove todo dia às quatro da tarde em Manaus, como reza a lenda.

Nem está fazendo um calor de matar (dizem que é o começo do inverno local), nem o Teatro Amazonas é tudo aquilo que diziam. Três reformas desavisadas mexeram demais nele, tirando o kitsch (que lhe dava a originalidade), mexendo no saguão (que ficou pobre) descaracterizando-o. Não há dúvida que deve ter sido uma loucura construir um teatro de ópera numa cidade no meio da selva, ainda mais naquela época. Mas ainda que fotogênico, me decepcionou.

Até suas poltronas não são as originais (eram de palhinha e as atuais, feitas em São Paulo, são especialmente desconfortáveis). O teto é bonito, o ar condicionado resfria a gente ainda mais, porque a sede do Amazon Adventure Film Festival é lá. O problema é que ele fica há meia hora de carro do Hotel Tropical, onde estamos hospedados. Meia para ir, meia para voltar e pronto. Perdemos o dia. Não há dúvida de que a grande atração do Festival, porém, não são os filmes, mas a própria Amazônia. Hoje vamos passar uma noite num hotel na selva, demonstrando a vocação turística do projeto. Não vieram muitos atores famosos. Até porque o Festival coincidiu com o de Brasília. Leona Cavalli, Matheus Nachtergaele dentre os brasileiros, enquanto os conhecidos de fora fazem parte do juri: Pitof, diretor de Mulher-Gato, Valentina Cervi (estrela na Itália, neta de Gino Cervi), Lambert Wilson (Matrix), Roland Joffé (diretor de A Missão), Bob Swain (diretor de A Trapaça).

Nenhum deles cara conhecida do público, que está ignorando o festival (até porque, para estar na festa de abertura, tinha que pagar R$ 100,00 de ingresso! Um erro corrigido agora, quando o acesso ficou livre).

O filme de abertura foi Tainá 2, A Aventura Continua, que é mais bonito e melhor narrado do que o anterior. Só tem um problema: não tem história. O produtor Rovai montou o filme sozinho (o diretor nem apareceu aqui) e cortou muita coisa, reduzindo a participação de Cadu Moliterno a uma participação especial mínima, e eliminando quatro cenas da vilã Chris Couto. Menos Trapalhões que o anterior, o filme deve agradar às crianças, com muito bicho, um casal muito legal de pré-adolescentes (porque Tainá cresceu e ganhou um interesse amoroso, e outra indiazinha menor para sucedê-la). Será lançado em grande circuito pela Globo e Columbia, o que pode ou não dar certo. Fora disso, assisti dois concorrentes. Um da Coréia do Sul, chamada Irmandade da Guerra (que sairá em DVD pela Columbia), uma espécie de E o Vento Levou local, um dramalhão entre irmãos que participam da Guerra Civil de 50 (quando o Norte comunista invadiu o Sul, que foi ajudado pelos americanos). Altamente parcial (os comunistas são pintados como bandidos irremediáveis), o filme tem excelente produção, bons efeitos especiais digitais (violentos), mas uma trama sentimental como o cinema americano já não tem mais coragem de fazer. Que fez alguns chorar. O outro filme foi o sueco Três Sóis, uma fita de estrada medieval, passada no século XIV, quando uma mulher sai de casa para procurar o marido, que volta de uma Cruzada e se defronta com a peste. Por que ela não ficou sossegada esperando, nunca faz sentido.

Só para ter toda sorte de problemas (o marido volta drogado). É quase um Exército de Brancaleone levado a sério, pretensioso, mas previsível. A boa atriz Lena Endreé, casada com o diretor do filme Richard Hobert, está aqui com as filhas (ela fez aquele Infiel de Liv Ullman e Bergman). De Manaus, por enquanto, a impressão é boa.

São quase dois milhões de habitantes, que fizeram ela perder suas características (sobrou muito pouco do passado glorioso do ciclo da borracha). Está moderna e progressista, e igualzinha ao resto do Brasil (é mesmo Bye, Bye Brasil, tudo ficou igual, falando a mesma gíria, vestindo a mesma roupa). Não fiz ainda nada muito turístico, que mereça mencionar, fora que a comida do Hotel Tropical é muito ruim, desprezível mesmo. Mas o Djalma Batista, que é daqui, já me levou para comer uma caldeirada de Tambaqui, que valeu a pena. As frutas tropicais também são interessantes. Mas ainda falta o que ver para poder contar.

Até a próxima.

Por Rubens Ewald Filho