AMAZON ADVENTURE FILM FESTIVAL - FINAL

03 de dezembro de 2004

O Festival que se encerrou com nova onda de celebridades: Christiane Torloni, Raul Gazzolla, Reynaldo Giannechini, um reforço para combater o esquadrão francês, que continuou pior do que nunca. Os atores e diretores, todos relativamente desconhecidos, continuaram tratando todo mundo de longe e com ar de superioridade. Fiquei sabendo que o Festival foi organizado por um grupo especializado em realizar festivais como os de Deauville, Marrakesh e Cognac. Ou seja, é um problema que tenham se comportado como neo-colonialistas, tratando nós, locais, como se fôssemos um bando de macaquitos. Essa impressão ficou ainda mais grave quando se viu o filme Amazon Forever, do diretor do festival, o belga Jean Pierre Dutilleux (Raoni), que eu não pude ver (era na hora do lançamento do meu livro), mas que foi considerado entre ingênuo e perigoso, porque chega a propor a internacionalização da Amazônia, o que é um disparate, ainda mais no contexto de um Festival como esse. A sensação que temos é que o Festival deveria prosseguir, mas anualmente e não bienal como estão pensando (o Secretário da Cultura do Amazonas, Robério Braga, disse que iria fazer uma avaliação e aprender com as sugestões, mas o fato é que não há verba para um outro festival ano que vem, até porque também realizam um festival de óperas por aqui muito bem-sucedido, e a idéia inicial é deles serem alternados).

Infelizmente, cinema não é ópera e, se não tiver periodicidade anual, o festival não vai pegar nunca. Primeira providência: mudar a data para não coincidir com o Festival de Brasília, já tradicional. Segunda: tirar o poder da mão dos franceses: o festival tem e deve ficar na mão dos amazonenses (cuidado com os predadores, quando ouvem falar em dinheiro disponível, há produtores que vêm correndo para cá em busca do dinheiro, e têm política de terra arrasada); terceira: investir no talento local, fazendo durante todo o ano workshops e preparação de técnicos e atores; quarta: criar infra-estrutura para receber produções estrangeiras, inclusive com segurança. Quinta: dar preferência para produções locais. Sexta: fazer jus ao nome festival de aventura, porque na seleção deste ano teve de tudo, e arranjaram a desculpa que era a “aventura da vida”, para desculpar as falhas. Não vi todos os filmes concorrentes, então comentar a decisão do júri seria fútil e errado. Assisti ao filme brasileiro Quase Dois Irmãos de uma diretora de que gosto muito, Lucia Murat. Mas o achei extremamente confuso na primeira parte (porque vários atores fazem o mesmo personagem em fases diferentes da vida), depois virando fita de prisão (à la Carandiru, ou ainda Cidade de Deus e perdendo na comparação). Revi também o Bocage de Djalma Batista, que é um filme belíssimo, um delírio total, erudito e gay, marca de um grande autor super-original (foi a primeira exibição aqui em Manaus, terra do diretor). Pessoalmente o Festival não poderia ter sido melhor. Tive uma acolhida excepcional e muito amigável (aliás, neste momento que escrevo, o presidente da Coca-Cola, patrocinadora do festival, me convida para retornar em junho para a Festa do Boi, em Paratins). A noite de autógrafos do meu livro, o novo Guia de DVD 2005, foi um enorme sucesso, esgotando os livros que eu tinha mandado vir (calculei mal a repercussão que teria em Manaus). E a Coleção Aplauso foi recebida, como sempre, com entusiasmo.

De ruim mesmo, só as noticias sobre Reginaldo Faria, que fizeram seu irmão, Roberto Farias, largar o festival antes do final (ainda tive o tempo de convidar Roberto para ser biografado também na Aplauso, assim como Lucia Murat). Ou seja, nota 10 para Manaus e 7 para o Festival (por causa dos filmes, apenas medianos). Ah, o Hotel Tropical (que pertence ao grupo Varig), que está sempre lotado, ainda é muito bom. Só a comida deixa bastante a desejar. Por que não contratam chefes em São Paulo, para dar uma incrementada? Curioso: o hotel é tão grande e tão complicado, que sempre se vê gente perdida pelos corredores, por onde se faz longas caminhadas. Mas é o lugar ideal para um evento desses.

Por Rubens Ewald Filho