03
de novembro de
2004
Já acusei
Omar Sharif de muitas coisas, mas nunca de ser bom ator. Claro
que é um homem de charme, elegância, presença,
até carisma. Mas talvez até por causa de seu tipo
sorumbático, sinistro, ficou limitado a interpretar playboys
e árabes (embora tenha sido até oficial nazista
em A Noite dos Generais, um dos grandes erros de escolha de elenco
de todos os tempos). E com o tempo foi se desinteressando, preferindo
o jogo ao cinema.
Seu
retorno agora num bom personagem e num filme - que faz tempo
ameaçava estrear - Uma Amizade sem Fronteiras - é bem-vindo
principalmente porque traz a melhor interpretação
de sua carreira, num filme que faltou pouco para ser excepcional.
Os elementos estão ali no que parece ser, a adaptação
de uma história real.
Um
garoto judeu (Pierre Boulanger), já adolescente, que
mora numa rua pobre de Paris, onde há muita prostituição.
Vive com o pai infeliz, tentando quebrar o galho para sobreviver
e fazer a comida de casa.
Por
isso, aos poucos vai ficando amigo de um mulçumano,
na verdade turco (Sharif) que é o dono de uma lojinha
de conveniências como se chama hoje, no bairro. Passa pelos
problemas de sempre (a namoradinha que o despreza por outro,
a iniciação com uma prostituta simpática),
mas aos poucos os dois, apesar das origens diferentes, acabam
ficando amigos. Quase pai e filho, de tal maneira que vão
juntos numa viagem até a Terra Natal do velho Ibrahim.
Sem nunca ser sentimental, o filme tem um final meio melancólico
(esperava ao menos que o garoto tivesse um destino mais ambicioso)
mas se defende bem, contando uma história humana com algumas
curiosidades (como por exemplo, uma aparição de
amiga de Isabelle Adjani, que fazia um tipo estrela dos anos
50, meio BB, que rodava cena no bairro). Vale por ver Sharif
melhor do que nunca.
Por Rubens Ewald Filho
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