29
de novembro de
2004
O Natal
chegou mesmo muito cedo este ano que, aliás, passou rápido
demais (no meu caso, felizmente). Isso pode se perceber também
pelo lançamento de filmes como este O Anjo de
Vidro (Noel
- 2004), que giram sobre o tema (em São Paulo, davam um
anjinho de vidro para quem fosse ao Bristol que, aliás,
estava com uma projeção indecente!). Dirigida pelo
ator e roteirista Chazz Palminteri (que faz uma pontinha como
um bandido especialista em quebrar mãos e que se refugia
num cinema desativado), o filme mistura alguns clichês
do gênero com um elenco especialmente bom, que inclui até mesmo
Robin Williams (que não foi creditado). Mas que no final
não dá muito certo, talvez porque não souberam
lhe dar ritmo (a fita é lerda), humor, ou mesmo misturar
os diversos personagens e tramas paralelas. Na verdade, fica-se
esperando o lado mágico e fantástico, que iria
acontecer, sem dúvida. De todos, gostei mais justamente
do mais fraco, que é o loirinho galã Paul Walker,
que faz um policial ciumento demais de sua namorada latina (Penélope
Cruz está em seu melhor momento americano, muito bem maquiada,
alegre, com a voz menos esganiçada, ou seja, parece que
Palminteri a dirigiu e cuidou direito dela). Enfim, Paul acaba
sendo sincero no que faz, apesar de seu personagem não
ser nada verossímil. Ainda mais quando ele encontra um
velho (Alan Arkin, outro que envelheceu muito) que lhe diz achar
que ele é a reencarnação de sua falecida
mulher (todo mundo insiste em confundir o velho como uma investida
homossexual, que é uma piada de acaba virando de mau-gosto).
As outras histórias também ficam na corda bamba.
Susan Sarandon, sempre boa, faz uma mulher infeliz, divorciada,
que cuida da mãe que está em estado adiantado de
Alzenheimer. Embora recuse sair com um rapaz mulato e bonitão
(na hora de transar pula fora, o que não fica bem justificado),
ainda mais absurdamente acaba entrando no jantar da família
de Penélope (outra besteira do filme, que insiste em solidariedade
e bom mocismo em Nova York!). Eventualmente o milagre natalino
do título brasileiro é com ela (e Robin, que também
está caquético cedo demais). Mas não é só,
tem outra trama ainda mais absurda, com um sujeito traumatizado
(Marcus Thomas) que faz tudo para passar a noite na festa de
natal da Emergência do Pronto-socorro, porque quando criança
foi bem tratado numa situação dessas!
Essa é dura de engolir. Na verdade, é preciso
munir-se de toda sua boa vontade natalina para gostar do filme,
que não merece seu elenco e que nos EUA saiu simultaneamente
sem maior repercussão.
Por Rubens Ewald Filho
|