05 de maio de 2006
O titulo já faz pensar num filme de vanguarda, difícil. E na verdade, durante quase todo seu transcorrer, este novo filme do pernambuco Lírio Ferreira (que se revelou em 97 com O Baile Perfumado, co-dirigido com Paulo Caldas) é brilhante, divertido, inteligente, inquieto e original. Mas infelizmente se perde nos últimos 15 minutos, preferindo não solucionar as situações, partindo para um tom onírico estranho e insatisfatório.
Mesmo assim, influenciado ou não por Glauber Rocha, o filme tem grandes qualidades. Uma das maiores é a esplendida fotografia de Murilo Salles, que mesmo usando digital, conseguiu um visual impressionante e muito bonito. Talvez um pouco escuro até nos acostumarmos com a proposta para depois estourar quando chega ao vale do Rocha. Mas não é só com a luz que funciona, mas também na movimentação da camera, nos enquadramentos, ate porque alguns outros cineastas são derrubados pelas novas proporções e técnicas.
Como Terra em Transe, o filme começa saindo do mar, trazendo o herói, um homem do tempo da teve (o alto e curitibano Guilherme Weber) que retorna ao interior do Nordeste, no sertão onde seu pai (Pereio) foi assassinado. Vai de ônibus, mas acaba pegando carona no carro de uma jornalista que esta ali para interesse romântico (Giulia), mas também para entrevistar um velho místico (José Celso, muito contido e muito eficiente, em seu melhor momento). Como é filme de estrada, também vão até lá seus amigos (Gustavo, Selton, Mariana) que na verdade estão mais preocupados em fumarem maconha do que outra coisa (a maior parte das piadas é com eles, servindo também para revelar as plantações de maconha como um atividade importante naquelas plagas).
A situação mais séria é que a família do herói, mais precisamente sua avó, espera que ele vingue a morte, saindo atrás do matador chamado de índio (Vasconcelos), que por sua vez foi escondido pelo dono do bar (mais uma vez José Dumont dando show). Mas essa revelação chega tarde e acaba sendo descartada porque o filme envereda por outros caminhos, com o jornalista tomando alucinógenos e chegando até a mensagem ecológica.
Pode ter sido ate proposital, mas também prejudica o filme, que tem um excelente elenco (não acho que foi boa idéia Selton engordar muito e deixar uma enorme barriga a mostra. Porque isso só tira a concentração do publico que fica comentando isso e assim se afastando do personagem). Não é para grande consumo mas sem duvida é uma fita talentosa e especial.
Por
Rubens Ewald Filho