Armações do Amor (Failure to Launch)
 


18 de abril de 2006

AHá pouco tempo passou uma comédia francesa, que falava sobre esse tema, muito atual na Europa: filhos, principalmente na Itália, que relutam em deixar a casa paterna, porque são mimados pelas mães, porque a vida está difícil e cara, etc. É uma situação da cultura latina, onde a família é mais apegada, e onde não é um problema você viver com os pais (às vezes, até por necessidade) ou compartilhar uma casa.

Ou seja, somos mais afetivos e não temos vergonha disso. Os americanos são, por definição, mais frios (desculpem a generalização), e é comum desfazerem o quarto das crianças quando elas vão estudar na faculdade (na certeza de que nunca voltarão). Os exemplos são muitos: no Natal não se reúnem como aqui, nem no Ano Novo, a única festa familiar é o dia de Ação de Graças. Isso tudo é importante para explicar esta comédia, que na verdade força bastante a barra.

A situação de Tripp, um rapaz de 35 anos (Matthew McConaughey), ainda querer morar com os pais, é explicada porque ele usa isso para cortar os compromissos (as garotas se assustam e fogem), como se o fato fosse uma aberração, e não uma alternativa (não se explica onde ele vai quando quer transar normalmente). Enfim, a proposta do filme era tão evidentemente errada para o público americano, que o roteiro resolveu mudar o enfoque: deixou de ser uma história em cima de um herói (Matthew vinha de um grande sucesso no mesmo gênero, a comédia romântica Como Perder um Homem em Dez Dia), mas sim de seus amigos. Ou seja, vira uma espécie de coro grego, incluindo assim a amiga da heroína, Kit (Zooey Deschanel, filha do diretor e fotógrafo Caleb Deschanel, que tem um charme especial, como demonstrou em Guia do Mochileiro das Galáxias), e os dois melhores amigos de Tripp.

É uma grande sacada, que acaba salvando o filme, e tornando-o até bem divertido (também o torna mais acessível ao publico masculino, que geralmente esnoba esse tipo de filme). Tripp, que age como se já soubesse que foi votado o homem mais sexy do mundo (pela revista People), presunçoso e cheio de si, faz o vendedor de barcos (que profissão original! O cinema vive buscando coisas novas) que não quer compromissos (depois se explica que a noiva morreu e hoje ele cuida do filho dela, que é um garotinho negro). Junto com os amigos, se dedica a esportes radicais (e, invariavelmente, acaba mordido por algum bicho, uma piada recorrente que ajuda a salvar o filme).

Enquanto isso, os pais contratam uma mulher, Paula (Sarah Jessica Parker, que veio do sucesso da série de TV Sex and the City, tenta confirmar seu papel de estrela, agora na tela grande), que é especialista em convencer os filhos a saírem da casa da família (uma nova profissão, naturalmente inexistente, como a de Will Smith em “Hitch”). Ou seja, a confusão é provocada quando os dois realmente se envolvem, mas é tarde porque ela está contratada profissionalmente pelos pais dele.

O filme começa convencional (e difícil de acreditar), mas melhora muito quando começa a desenvolver as tramas paralelas, principalmente a dupla de amigos - a companheira de quarto, Zooey, e o nerd que gosta dela, Justin Bartha de A Lenda do Tesouro Perdido. A garota tem problemas com um mockingbird, um pássaro que a importuna (a melhor cena é quando tentam ressuscitá-lo, com primeiros socorros e respiração boca a boca!). Ou seja, quando o filme vira farsa e foge da comédia romântica é que tem melhores resultados. A ponto de dar para recomendá-lo como diversão para os feriados.

Por Rubens Ewald Filho

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