17
de junho de
2005
Este é o
filme que a Warner devia ter feito há vinte anos atrás,
em vez de começar com os dois “Batmans” de
Tim Burton. Esta é a opinião geral dos fãs de quadrinhos
que estão vendo a nova versão de Batman, em que
o estúdio tenta salvar a franquia, retomando-a como se
as outras não existissem. E fazendo as coisas como se deve,
com respeito ao original (ainda que atualizando coisas, como não usar o filme “A
Marca do Zorro” como o filme que a família vai assistir.
Aqui foi substituída por uma ópera, que faz o garoto
lembrar os morcegos que o assustam).
Mas
nem tudo são flores. O problema já começa
no titulo nacional que não foi traduzido, continua em
inglês! Um absurdo, já que ninguém tem a
obrigação de saber que “Begins” quer
dizer “Começa”. Até porque vai se criar
a confusão. Começa tudo de novo? E os Batmans anteriores,
a gente tem que esquecer? O importante é saber
se o público vai embarcar novamente, deixando de lado
os filmes anteriores em que o herói foi feito por Michael
Keaton (duas vezes, embora tivesse sido o pior de todos), Val
Kilmer (considerado o melhor) e George Clooney (estranhamente
na época não gostei Batman e Robin, mas nunca pensei
que ele tivesse o feito de derrubar a série!). Tanto que
chamaram para dirigir um inglês que fazia fitas de arte,
Christopher Nolan (do famoso “Memento” / “Amnésia”).
Seguindo
a lição de Sam Raimi e “Homem Aranha”,
ele procura não inventar demais. Vai às fontes
e conta uma história bastante convincente, sobre o menino
rico que tem medo de morcegos (por que caiu num poço onde
havia um ninho deles), e que perde os pais num assalto (que pode
ser sido armação, já que nem os milionários
estão livres da ação dos gangsters em Gothan
City, uma cidade perigosa e corrupta). O herói então
resolve sumir, sai viajando pelo mundo até ser reencontrado
no Oriente, primeiro numa prisão onde é vitima
de ataques dos colegas (o filme começa assim com ação),
depois num mosteiro onde se aperfeiçoa em artes marciais.
Impulsionado pela figura de Henri Decard (Liam Neeson, que este
ano fez também “Cruzada” em papel de mentor).
Até que retorna à Gotham, reencontra sua namorada
de infância agora promotora honesta (Katie Holmes, de “Dawson´s
Creek”, sempre de boca torta mesmo sendo agora namorada
- dizem mas não provam - de Tom Cruise. No filme, está muito
fraca e como na vida real, o romance do casal não chega
a convencer) e finge ser um playboy fútil e vulgar (o
que poderia ter copiado de “Zorro!”). Enquanto aos
poucos enfrenta seu pior medo e cria a figura do homem morcego.
Aliás esta é a melhor parte do filme,
quando com a cumplicidade do mordomo Alfred - Michael Caine -,
vai criando as armas e detalhes que marcarão sua figura
e ação. Depois entra um inventor da firma do pai
(feito por Morgan Freeman) que o ajudará no resto, inclusive no Bat Móbile.
Já que
a história desta vez é tão
forte, os vilões ficam num segundo plano como aliás
sempre deveriam ter estado, o mais importante deles é o
Espantalho (feito pelo irlandês Cillian Murphy, de “28
Days Later”), que como médico vai agindo às
escondidas levando gangsters para seu sanatório. Também é bandido
o presidente da firma (Rutger Hauer, de volta envelhecido) e
uma outra figura que será surpresa.
A questão
chave porém, era escolher o ator certo
para fazer Batman. Infelizmente hoje no cinema atual, não
há boas opções e ficaram com uma sofrível,
o galês Christian Bale, que foi descoberto ainda garoto
por Spielberg, para “O Império do Sol” (87)
e depois acabou se tornando um ator cult de fitas de arte (como
o recente “O Mecânico”).
Até que é um
intérprete competente, tem
o porte e a altura adequados mas não o rosto. Seu nariz é fino
demais, praticamente não tem lábio superior (ou
seja, é mais indicado para fazer vilões, coisa
aliás que tem sido comum em sua carreira, incluindo o
melhor momento que foi em “American Psycho”). Ele
tenta resolver isso falando com biquinho (reparem é impagável)
e mudando a voz, com um jeito sussurrante estranho (tem outro
detalhe esquisito, ele tem uma verruga do lado do olho, no alto
do nariz, coisa que um Batman jamais poderia exibir). Ou seja,
não é a figura perfeita mas dá para
o gasto, não chega a comprometer. Não é melhor
porque o rapaz nasceu de luz apagada, não tem qualquer
carisma. Mas como a safra de homens atuais é horrível,
Bale é tolerável diante de um filme bem conduzido,
movimentado, sem exageros nem de violência, nem de efeitos,
muito bem provido de coadjuvantes.
Ou
seja, certamente o melhor da série (que já se
anuncia com um próximo vilão), ainda que não
de todo satisfatório.
Por Rubens Ewald Filho
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