09
de dezembro de 2005
Shane
Black foi um dos roteiristas mais prestigiados e
bem pagos dos anos 80-90, estourando com o primeiro
roteiro de Máquina Mortífera (87),
seguido por O Ultimo Boy Scout (92), O Ultimo
grande Herói (93), Despertar
de um Pesadelo (The
Long Kiss Goodbye, 96). Todos mega filmes de ação.
Mas depois do fracasso deste ultimo, Shane resolveu
abandonar o cinema e se afastou durante quase uma
década. Retorna agora com seu primeiro filme
como diretor (e passou hors concours em Cannes 2005),
usando um titulo emprestado de um livro de criticas
de Pauline Kael.
Harrison
Ford ia fazer o papel central e o filme teria por
isso orçamento maior (junto com
Johnny Knoxville), já que custou apenas 15
milhões de dólares. Mas o problema
não é o elenco que funciona bem mas
o excesso de esperteza da narrativa, que é pura
meta linguagem, cheio de truques e sacadas. Como
por exemplo, dividir o filme em capítulos
(inspirados em títulos de obras do escritor
Raymond Chandler, mestre do film noir que o filme
pretende também emular). Há também
um narrador - no caso Downey Jr, o protagonista -
que interfere na ação (as vezes por
exemplo faz as coisas retornarem, e corrige rumo).
O que é bem
divertido mas também tem um problema , ele
distancia o espectador, faz a gente ficar sempre
de olhar critica, sem se envolver na história.
E o problema desse tipo de filme policial é que
sua trama é sempre muito complexa, por vezes
incompreensível. Sem ter muita lógica.
Como aqui. Mesmo que o ponto de partida seja uma
frase de Godard, que dizia “tudo que é preciso
para fazer um filme é um arma e uma garota”.
Ainda
assim, a fita é sempre criativa e interessante.
Começa de forma já curiosa mostrando
um ladrão que depois de um golpe ter falhado,
procura se esconder e entra por acaso num teste para
atores onde é aprovado e mandado para Hollywood
para novo teste (a sátira obviamente é dizer
que qualquer um pode ser ator), despistando a policia.
Em Los Angeles, com certo clima de Colateral, ele
encontra a garota de seus sonhos (Michelle), o que é bastante
complicado e o faz se envolver também com
um detetive veterano e gay assumido chamado Gay Perry
(Val Kilmer). Enquanto mortes e atentados se seguem.
Repleto
de citações e brincadeiras,
o filme é indicado para uma platéia
especial que conheça o gênero e tem
vocação para ser cult. E que aprecie
seu narcisismo exibicionista, que se diverte em bancar
inteligente e safado.
Por
Rubens Ewald Filho