07
de fevereiro de 2006
Os
filmes do Oscar® este ano tem várias coisas
em comum. Entre eles, o fato de serem todos eles
com temáticas polêmicas e políticas.
E todos são difíceis, para públicos
restritos e correm o risco de não serem compreendidos,
em particular pelo público brasileiro que
conhece muito pouco sobre Truman Capote (Capote)
e menos ainda sobre quem foi Edward R. Murrow que é o
biografado deste, Boa Noite e Boa Sorte. E para piorar,
este aqui ainda é em preto e branco, o que
o irá tornar um definitivo insucesso comercial
(mesmo porque os jovens têm um absurdo preconceito
contra o p&B, que mal conhecem). Um detalhe:
na verdade, foi rodado em cores e depois adaptado.
Foi concebido originalmente como um programa de teve
que seria mostrado ao vivo!
Mesmo
assim, o filme foi premiado em Veneza e tem dado
enorme prestígio ao seu “originador” George
Clooney (que faz um papel pequeno na fita e que não
ganhou nada para dirigi-lo). Na verdade, George é filho
de um jornalista que foi amigo de Murrow e então
entende do assunto. Que também tem conotações
mais próximas já que tudo que fala
e se passa nos anos cinqüenta, obviamente sucede
da mesma forma atualmente com o governo Bush (e com
Clooney que tem sido perseguido pela Direita americana,
os conservadores que zombam de sua constante militância).
O
titulo é a frase de despedida que o jornalista
Edward Murrow (1908-75) usava em seu programa de
teve nos anos 50. Brilhantemente interpretado por
David Straithairn (indicado ao Oscar®), ele é uma
figura sóbria, não especialmente simpática
que tem a credibilidade dos espectadores. A opção
de Clooney é usar cenas reais dos antigos
programas de teve (também por isso o preto
e branco) e principalmente as cenas do senador Joseph
McCarthy que naquela época usava o Congresso
para se promover com a desculpa de que havia infiltração
de comunistas na industria do cinema e televisão.
Foi a chamada Caça As Bruxas do McCarthismo quando se criou uma lista negra não oficial
onde se impedia o trabalho de qualquer pessoa que
fosse suspeita (não era necessário
provas) de ter tido alguma ligação
com o Partido Comunista. Certamente fruto da histeria
da Guerra Fria, isso foi uma mancha negra na Democracia
americana só comparável ao momento
atual onde os princípios da Constituição
tem sido pisoteados pelos atos do Governo.
Enfim,
ele conduzia um programa de entrevistas (ouvimos
uma de Liberace, famoso pianista gay enrustido) mas
foi um dos únicos a se insurgir contra os
métodos de McCarthy, ousando contestá-lo
, pagando um preço alto por isso (foi o começo
do declínio de sua carreira quando foi incompreendido
pelos patrocinadores e os diretores das redes de
televisão). Mas foi também o começo
do fim de McCarthy, que pela primeira vez perdeu
uma (em pouco tempo seria desmascarado como corrupto
e mentiroso).
É
uma época feia que infelizmente é mal
conhecida no Brasil e o filme tenta informar (mas
há muita resistência, a saber, algo
fora do trivial e do que sucede no Big Brother).
Nem sempre consegue empolgar o público comum.
Escolhido
para ser o filme de abertura da Mostra Internacional
de São Paulo, o filme é muito
especial e infelizmente para poucos. Um detalhe curioso:
nas sessões de teste do filme, muita gente
disse que o ator que representava McCarthy super
representava e era caricato. Sem imaginar que eram
gravações do próprio. Outro
achado do filme: toda a trilha musical é apenas
com canções standards da época
interpretados por uma mesma cantora, Diane Reeves
(e a banda é da tia do diretor, Rosemary Clooney). .
Por
Rubens Ewald Filho