05
de agosto de 2005
Por
que o cinema argentino mantém tão alto padrão
de qualidade?
Com
certeza porque vemos apenas uma amostragem, o que eles fazem
de melhor. Mas eles estão abusando, acertando em quase
tudo e com grande freqüência. O que nos faz ter o
maior respeito por um filme como este, do diretor do bom Histórias
Mínimas que ganhou o prêmio da crítica
no festival de San Sebastian (o maior da Espanha) além
de ter sido indicado para 7 prêmios pelos críticos
argentinos. Inclusive porque só ao final descobrimos que
ele foi protagonizado por amadores (que são o tempo todo
convincentes e humanos).
Para
começar, é notável pela originalidade
da história. Embora a cinofilia seja um negócio
de milhões de dólares, não se fazem filmes
sobre o assunto (só me lembro da sátira Best
of Show). O interessante do filme é pegar um personagem
comum, um sujeito de 50 e poucos anos, que vive na Patagônia,
que perde o emprego num posto de gasolina e não consegue
outro (ele tenta vender facas cujo cabo ele mesmo faz, mas está perdendo
o espaço para as importadas do Brasil). Tudo vai de mal
a pior (vive com a filha numa casa pequena) quando de repente
ele ganha um cachorrão, da raça Dog Andino, um
bicho enorme que tem nome ridículo (Bombom Le Chien) mas
que é forte e violento. O cão é tão
vistoso que logo ele faz contato com um treinador de cachorros
para exposições, que o leva a competir pela primeira
vez em Bahia Blanca (eles ganhariam dinheiro não só do
prêmio, mas depois, em cruzamentos com cadelas).
Mas
há problemas sérios. O sócio é preso
depois de uma briga e o cachorro não quer transar. Ou
não sabe. Ou não gosta. Quando o filme tinha
tudo para ficar trágico, ainda mais melancólico,
consegue solucionar tudo de maneira muito limpa e digna. Uma
fita toda discreta, matizada, sensível, sobre gente comum,
sem cair em folclores ou clichês.
Não
sei como os argentinos fazem. Talvez seja resultado do padrão
cultural deles que é sem duvida mais
alto que o nosso.
O fato é que no momento seu cinema é dos
melhores do mundo. Melhor do que nosso.
Por Rubens Ewald Filho
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