19
de novembro de
2004
Não é tudo
aquilo que podia-se esperar mas é um forte concorrente
para o titulo do filme mais inovador e interessante do ano.
Em
particular, para quem curte história em quadrinhos
e grafe novel. Seu visual é tão elaborado, tão
inusitado, que desculpa as possíveis falhas do entrecho,
a falta de emoção da história e mesmo o
pouco carisma do protagonista. Concebido como um festim visual
para testar os limites dos efeitos digitais, da computação
gráfica, foi quase todo ele representado diante de um
grande telão azul, onde depois foram colocados os backgrounds.
Essa é sua maior qualidade - as imagens são estarrecedoras
- e também o maior defeito (apesar da qualidade do elenco,
faltam melhor script, mais emoção na interpretação
e mais empatia. Numa palavra, falta o ser humano diminuído
diante do espetáculo visual de pouco conteúdo).
Mesmo sem empolgar, Capitão Sky é para ser descoberto,
nem que seja pelo seu papel inovador, pioneiro de um futuro incerto
onde possivelmente todos os filmes sejam feitos desta forma.
O ator contracena com o nada, que imagens que ele só verá depois
na finalização. Não em algumas cenas como
tem sido até agora em Star Wars ou semelhantes. Mas o
filme praticamente inteiro (com umas poucas exceções
em cenas interiores montadas em estúdio). É um
sonho realizado de um diretor estreante em longa chamado Kerry
Conran, que depois de estudar cinema passou quatro anos criando
um curta chamado O Mundo de amanhã, que depois usou como
port-folio para convencer os atores (Jude Law aceitou ser co-produtor)
e o estúdio a participarem do projeto. Se vocês
ainda não viram o trailer, fica difícil explicar
como é o filme. A ação se passa em 1939
(referenciado porque eles vão ver O Mágico de Oz no Radio City Music Hall e Over
the Rainbow é tocada nos
letreiros finais), mas é basicamente uma fantasia de um
futuro alternativo retrô. Onde as cores são esmaecidas
como nas revistas da época, os figurinos são estilizados
como personagens de quadrinhos (Buck Rogers é homenageado
numa cena). E os vilões e também os heróis “maiores
do que a vida”. Ou seja, estamos no terreno mágico
dos sonhos como só o cinema pode explorar.
Na
Nova York de 39, Gwyneth Paltrow faz a ambiciosa repórter
Polly que prefere dar furos jornalísticos do que ser fiel
ao homem que ama (mas que acha que a traiu), o Capitão
Sky (Jude). Quando o Zeppelin faz uma visita a cidade e estaciona
no Empire State, o capitão vem voando socorrer porque
estão sendo atacados por Robots voadores. Mas na verdade,
a história ou que passa por ela, é sobre cientistas
ilustres que estão sendo seqüestrados (ou mortos)
para participarem de um projeto secreto que é liderado
por uma figura estranhíssima chamada Totenkopf. E aí esta
outra novidade do filme. Quem faz o papel é Lord Laurence
Olivier, que morreu em 89 (naturalmente utilizam imagens de arquivo,
mas integradas na trama e na história, parece-me a primeira
vez que fazem isso fora de comerciais, ou seja, utilizar imagens
de astros mortos num novo conceito. O que abre as portas para
delírios infindáveis!). O ponto fraco do filme é justamente
ter uma trama previsível (embora os fãs de “comics” sejam
capazes de melhor do que eu, encontrar citações
e referencias) que não dá muita chance ao elenco.
Angelina Jolie, misteriosa como sempre, tem uma pequena participação
num papel de rival. Talvez a dupla central seja um pouco sem
sal para segurar o filme, talvez os personagens não tenham
brilho (a comparação mais próxima seria
com Indiana Jones que é mais interessante que este Capitão)
mas o fato é que eles são devorados pelo espetáculo.
Que por isso pode parecer um pouco frio e distante.
Ainda
assim, é o começo de um futuro que pode
ou não ser notável. Mas que me parece inevitável.
Por Rubens Ewald Filho
|