CAPOTE (Capote)
 


26 de janeiro de 2006

Parece muito provável que Phillip Seymour Hoffman seja o vencedor do próximo Oscar® de ator, até porque ele vem acumulando citações de críticos e indicação ao Globo de Ouro®. Isso também é lógico depois que o ator vem acumulando uma série de bons trabalhos, em geral como coadjuvante em fitas como Magnólia, Quase Famosos, O Talentoso Ripley, Com Amor Liza e o próximo Missão Impossível III (onde será o vilão). Ou seja, não há a menor duvida sobre sua competência e versatilidade, o que fica comprovado aqui nesta biografia do momento mais importante da vida do escritor Truman Capote (1924-84), certamente o mais badalado de sua geração, autor de Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffanys) e ator de Assassinato por Morte (76).

Infelizmente para o brasileiro o filme tem alguns problemas já que nosso publico não teve acesso a presença constante de Capote na mídia e na televisão. Então não conhece nem sabe de seu jeito afetado de falar, sua voz fininha, seus gestos maneirosos e sua inteligência. Por isso não se consegue avaliar até que ponto o trabalho de composição de Hoffman é notável. Não fez uma caricatura ou mera imitação, é doutro daqueles exemplos de encarnar um personagem, quando vira cavalo, recebendo Capote. Além disso, o filme é extremamente lento, pausado e por vezes cansativo (embora sua maior qualidade é que não o esqueci, dias depois de tê-lo assistido ele continuou comigo).

Não me lembrava do diretor Bennett , nem do filme anterior dele o documentário The Cruise (98). Diz a pesquisa que ele foi colega de classe do roteirista deste filme, Dan Futterman (também não muito conhecido como ator, embora tenha feito filmes como Shooting Fish e a serie de teve Judging Amy). De qualquer forma, parece que a qualidade do projeto se divide entre estes dois, que adaptaram o livro de Gerald Clarke, que relata um dos momentos decisivos da vida do escritor, quando no final dos anos 50, ele foi para o interior do Kansas, investigar um caso de assassinato de uma família. E ao acompanhar as investigações, se relacionar com a policia e depois com a dupla de assassinos, conseguiu criar um novo tipo de literatura, o livro de Não-Ficção. O romance onde tudo é baseado em fatos reais (nisso ele foi ajudado por sua memória fotográfica). Chamou-se A Sangue Frio (foi filmado duas vezes, uma por Richard Brooks, outra para a teve) e hoje é considerado um clássico.

O notável da biografia é não apenas situar todo a ambientação com total rigor e usar locações autenticas, mas principalmente não fazer uma hagiografia, não esconde as falhas e defeitos de Capote (ele mente para os amigos dizendo que não escolheu ainda o titulo do livro, depois esquece deles). Ainda que basicamente e de forma discreta, o filme construa a situação como uma história de amor,não realizado nem mesmo consciente, entre Capote e um dos criminosos, Perry (há uma frase ótima quando o escritor explica porque se identifica com ele: nos dois fomos criados na mesma casa, só que ele saiu pela porta de trás e eu pela da frente).

Sem duvida, temos visto nos últimos anos uma tendência de termos atores acertando em fitas biografias como Nicole Kidman em As Horas, Jamie Foxx em Ray, Charlize Theron em Monster e o rival de Seymour este ano no Oscar®, que é Joaquin Phoenix como Johnny Cash em Walk the Line.

Rodado num colorido monocromático, o filme não pode ser um blockbuster, até por sua própria identidade. Mas traz um trabalho impressionante do ator. Fiquem de olho porque vem Oscar® por aí.

Por Rubens Ewald Filho

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