23
de maio de
2005
A lista
de produtores reúne o que há de melhor na área:
Globo Filmes (assina Daniel Filho), Luciano Huck, Lucy e Luiz
Carlos Barreto, Conspiração, Columbia, Walter Salles.
O que nos leva a perguntar: será que nenhum deles foi
capaz de dizer que havia algo errado com o filme, antes dele
ficar pronto? Será que ninguém foi capaz de dizer que era uma
má idéia misturar as duas Fernandas, mãe
e filha, alternando papéis? Que isso iria provocar uma enorme
confusão na cabeça
do espectador comum, que já não anda muito esperto
mesmo.
Deixa
eu tentar explicar. Fernandinha faz a heroína,
que é casada com um português (Ruy Guerra), que
compra terras num areal, mudando-se para lá grávida
(de uma menina que irá nascer depois) com a mãe
dela (Fernanda mãe, para não ser indelicado e chamar
de Fernandona). Só que o marido morre num acidente, os
empregados fogem e as duas ficam sozinhas e ilhadas naquele lugar,
sem conseguir escapar ou fugir. A sensação que
se tem é que, trata-se de uma alegoria porque obviamente:
1-
Ninguém vai morar em areal onde tem somente dunas;
2-
Como não se trata do deserto do Sahara, não é possível
que alguém não consiga fugir de um lugar desses
simplesmente seguindo o litoral. Isso leva a crer que se trata
de um drama alegórico sobre a árida existência
humana, condenada a viver num lugar onde as areias são
mutáveis (não se vê ventos ou tempestades).
Até lembrando um filme famoso, o japonês A
Mulher de Areia (1964) de Hiroshi Teshigahara.
De
qualquer forma, não há uma
cronologia clara, nem uma passagem de tempo marcada. No meio
do filme, aparentemente a mãe morre (não
se vê) e se troca o elenco. Fernanda mãe assume
o papel que era da filha e Fernadinha passa a interpretar sua
filha (que antes era de uma garotinha). Como se não fosse suficientemente confuso, o filme culmina
com Fernandona contracenando com Fernandona (que assume logo
os dois papéis). O mais irônico de tudo é que
nenhum deles lhe dá maior chance de um desempenho memorável.
Certamente
incômodo de filmar. Mas não marcante.
O que é complicado, porque se trata de um projeto em família,
pois o diretor Andrucha Waddington é casado com Fernandinha
e sócio do outro filho de Fernanda, Cláudio Torres.
Mas essas mudanças irão causar estranheza na platéia
e eventualmente o fracasso do filme, que por sua vez acumula
outros problemas: uma narrativa lenta e sem ritmo, trilha musical
inexistente (a heroína diz que sente falta de música
e no final, traz um gravador com uma música clássica
tocada em piano, que irá encerrar a fita). Mesmo a fotografia
(belas imagens dos Lençóis Maranhenses) poderia
ser mais requintada e apurada.
O
resultado acaba sendo um filme penoso, mal-resolvido, prejudicado
também por um trailer
nada atraente.
Foi
programado para estrear junto com uma possível exibição
em Cannes (mas o festival não quis a fita).
Por Rubens Ewald Filho
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