CHAMAS DA VINGANÇA

08 de outubro de 2004

Pensei que este tipo de filme já estava fora de moda, desde os tempos em que Charles Bronson parou de fazer a série Desejo de Matar. Mas eis que surge e faz até certo sucesso no exterior, esta fita violenta, grosseira, de moral duvidosa e sem qualquer escrúpulo em manipular o espectador para o efeito fácil e a conclusão precipitada. Advoga a justiça pelas próprias mãos, a proposta do chamado vigilante que sai por aí vingando injustiças com requintes de crueldade. Uma fita moralmente desprezível ainda que feita com o acabamento formal sempre competente do diretor Tony Scott, o irmão mais novo e menos talentoso de Ridley Scott. Na verdade, ela é refilmagem de uma fitinha B do mercado de home vídeo chamada também Man on Fire (Um homem em Fogo, 1967, franco- italiano de Elie Chouraqui com Scott Glenn, Brooke Adams e Danny Aiello) que tem o mesmo ponto de partida: guarda-costas americano é contratado por família rica (no caso europeus, aqui mexicano casado com americana) para proteger a filha do casal. Mas quando terroristas levam a menina, ela sai atrás. Ou seja, o resumo é o mesmo. O filme se bem me lembro era razoável mas não tinha maior pretensão e não se falava tão mal de uma cidade quanto aqui, onde a Cidade do México, parece pior do que Bogotá, São Paulo e Rio Juntos (no final dizem que é uma cidade especial entre aspas!). Tá... Parece ser o paraíso dos seqüestradores e policiais corruptos, para não ir muito longe.

A trama central, quer dizer quem está por trás de tudo não é muito difícil de descobrir até pela escolha do elenco que torna tudo mais obvio. Mas enfim, Denzel faz o papel com toda intensidade, sofre muito, tem traumas e sonhos horríveis, considerando que ele era um ex-matador da CIA ou coisa que o valha e não apenas guarda-costas. Esse é um bico já que esta com problemas de alcoolismo (no meio do filme se esquecem um pouco disso que nunca é usado dramaticamente, como também preparam uma fuga com a menina nadando o tempo todo e isso não sucede). Bom, o filme é tão pesado, tão grosseiro, tão modernoso (muitos closes, muito pulo de imagem, por favor não sente na frente como aconteceu comigo que podem passar mal). Que só me irritou. Até pela insistência em mostrar a amizade do Denzel conquistado pela simpatia da garota, que não é outra se não Dakota Fanning, que faz tudo que é filme, mas não conseguiu virar estrela. Mas é uma atriz suficiente, ou seja, faz tudo direitinho como adulta. Leva-se quase cinqüenta minutos para finalmente a história deslanchar e a garota ser seqüestrada e o drama finalmente suceder. Dali em diante, você vai adivinhar quase tudo, vai levar um susto quando descobrir o brasileiro Gero Camilo (Carandiru) fazendo o papel do irmão do chefe da quadrilha (fala pouco e fica todo ensangüentado, na parte final), mas é tanta crueldade, tanta frieza na condução das mortes (que, aliás, podem servir de inspiração também para o nosso crime organizado) que não deu para desculpar.

Curiosidade no elenco: quem faz o pai da criança é o cantor latino Marc Anthony, atual marido de Jennifer Lopez. Pouco homem para muita mulher.

Por Rubens Ewald Filho