A CHAVE MESTRA
 


10 de setembro de 2005

Quem visita New Orleans fica impressionado com a comercialização do mito dos zombies e do vodu. Em muitas esquinas, tem sempre uma lojinha vendendo pós, quinquilharias, amuletos, para tudo e qualquer coisa. Ou seja, o que seria uma religião, quase um candomblé local, acabou virando armadilha para turista. Mesmo assim, a região misteriosa ainda parece um lugar ideal para se fazer uma variação numa história de casa mal-assombrada, com velhas mansões sulistas, dialetos franceses, negros misteriosos e aquelas belas árvores, antigas, cheias de galhos sinistros. É lá que acontece este terror um pouco diferente da média, ao menos geograficamente.

Na verdade, ele não é ruim de assistir. É bem realizado por um inglês, Ian Softley, de fitas de arte (K-Pax) com um roteiro que tenta explicar o comportamento da heroína, Caroline (a sempre adorável Kate Hudson, cada vez mais parecida com a mãe, Goldie Hawn). Como ela sente-se culpada por não ter cuidado do pai que morreu cedo, agora se dedica a ser uma espécie de enfermeira para velhos. Quando um deles morre, aceita um emprego num lugar no meio dos pântanos, numa mansão decadente onde vive um velho que sofreu um derrame (John Hurt, num papel ingrato), que é cuidado por uma mulher forte (a grande Gena Rowlands, viúva de John Cassavetes, mas que parece que andou aplicando Botox nos lugares errados), e também por um jovem advogado testamenteiro (Peter Skasgaard), que parece se engraçar com a moça.

Como toda história de fantasma, a casa tem segredos, e um sótão onde eles começam a ser revelados (ao contrário de alguns críticos, não gosto de revelar surpresas da história). Mas a narrativa é construída aos poucos e, basicamente, se à primeira vista a solução parece curiosa, pensando bem ela acaba sendo racista, já que os culpados são vítimas e estariam procurando vingança dos que lhes fizeram mal. Não seriam espíritos ruins (não fica muito claro se estariam prejudicando as crianças). Enfim, parte da trama é muito fácil de adivinhar, já que são poucos os personagens e certamente ocorrerão ciladas e surpresas. Mais racismo.

E sabe que apesar de tudo o filme não é ruim? Até que prende a atenção, ajudado pela boa ambientação e o elenco competente (continuo a achar Gena, com botox e tudo, uma excelente atriz). Mas parece que o roteirista se perdeu um pouco no meio, e perdeu a moral e proposta da história. Ou foi o estúdio que forçou a mão, como acontece com tanta freqüência.

P.S.: - Assisti ao filme numa sessão de sexta à noite no Jardim Sul, em São Paulo, onde os espectadores se comportaram como se estivessem na sala de estar, vendo televisão. Não pararam de falar um minuto, numa total falta de respeito e concentração. Atrás de mim, tinha uma pré-adolescente, que chegou ao cúmulo de falar durante o filme uns cinco minutos ao celular, brigando com uma amiga - e de vez em quando dava uns gritinhos também de susto, tudo sem perder a conversação. E não havia ninguém para impor respeito ou ordem. Depois não sabem porque a freqüência nos cinemas está caindo e se tornando impossível! É assustador como as pessoas estão cada vez mais mal-educadas. Desse jeito, é melhor mesmo ficar em casa.

Por Rubens Ewald Filho

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