05
de novembro de 2005
Produzido
por Walter Salles e exibido em Cannes 2005, este
filme tem sido consagrado como um dos melhores brasileiros
de um ano difícil e decepcionante. Também
não é filme para Oscar®; está mais
para a sensibilidade européia (e também
não parece especialmente comercial). Mas é interessante
para demonstrar como uma história fraca e
previsível, já realizada inúmeras
vezes, em diversos lugares do mundo, pode ganhar
novo sabor e interesse graças à excelência
de seu elenco e ao realismo de sua realização
(em Salvador, já que o título obviamente
descreve aquela região da cidade).
No
papel ficaria difícil entender porque contar
mais uma vez a situação de dois amigos
e parceiros, que têm um pequeno barco que faz
viagens do interior para Salvador e se envolvem com
uma mesma jovem e bonita prostituta. Tudo é muito
fácil de prever, até mesmo a atração
entre os dois amigos. Mais ainda o envolvimento que
vão ter com a mulher, que inevitavelmente
irá levar ao conflito, à briga e a
uma possível tragédia (José Dumont
tem uma ponta bem marcante, como um sujeito briguento
com quem eles cruzam numa rinha de galos).
Na
verdade, no momento de escrever ficam mais claras
essas limitações, do que ao assistir
o filme, ainda sob o impacto da interpretação
carismática e brilhante dos atores. O filme
existe porque foi feito com os dois melhores atores
jovens do momento, ambos baianos e antigos parceiros
de palco e de set, ou seja, o fato de Wagner Moura
e Lázaro Ramos se conhecerem tanto ajuda demais
na composição dos tipos, no desenhar
das situações. O espantoso é que
seria muito arriscado para qualquer atriz entrar
no meio dessas duas feras, ainda mais quando se trata
de uma jovem de pouca experiência, como é o
caso de Alice Braga, vista em Cidade de Deus e
lembrada como sobrinha de Sonia Braga (mas a mãe
dela, Ana Maria Braga - não a apresentadora
- também foi atriz e talentosa).
Mas criando um tipo marcante, bem distante de sua
própria personalidade, Alice não apenas
impressiona, como convence e perturba.
Dá sentido ao triângulo. E força
ao filme, que deve transformar Alice em estrela (ela
já foi melhor atriz do Festival do Rio) e
novas oportunidades ao diretor estreante (que antes
foi roteirista de Abril Despedaçado e
Madame Satã).
Por
Rubens Ewald Filho