COISA DE MULHER
 


10 de setembro de 2005

Era uma coisa lógica: já que existe a Globo Filmes, cabia a outras redes de TV criarem também sua produtora/distribuidora de filmes nacionais, aproveitando o poder de marketing que têm, através de chamadas e comerciais. Também era de se esperar que elas fossem incompetentes e metessem os pés pelas mãos, como já sucedeu com a Record e o filme de Eliana (que ainda não consegui ver, mas as referências são pavorosas). Agora chegou a vez do SBT Filmes errar, com esta pornochanchada que faz lembrar uma antiga tentativa de Silvio Santos fazer cinema (chamava-se Ninguém Segura Essas Mulheres, de 76) e que, considerando a época e diferenças técnicas, era até melhor que esta. Ao menos mais digna.

Não tenho a menor simpatia pelo grupo chamado Grelo Falante (palavra que, de outra maneira, seria censurada num veiculo de comunicação) que, parece, fez um mal-sucedido programa na Globo, “Garotas do Programa”. Basta constatar que tudo no filme tem duplo sentido, toda frase contém uma besteira que, supostamente, tem alguma graça. Tentei anotar algumas, por exemplo: Bem Adotado, em vez de Bem Dotado, Você já está pensando Grande!, Que Cabeça, Que Tronco, Que Membro! Há outras pérolas que preferi esquecer, porque estava ocupado demais em tentar achar alguma qualidade, numa comédia totalmente rodada em locações, em ambientes apertados, que são tão horrivelmente decorados, que parecem as novelas mexicanas que justamente o SBT exibe (o da Galisteu com aquelas listas amarelas é o campeão). Ou seja, o mau-gosto impera em tudo. E, francamente, as quatro senhoras que compõem o grupo não têm tipo para cinema, ao menos não para fazerem mocinhas e heroínas.

Na verdade, nem tudo é horrível. Evandro Mesquita é sempre muito esforçado, tentando fazer um personagem completamente absurdo, ainda mais para quem conhece como funciona uma revista. Ele é um jornalista que vive de escrever uma coluna para uma revista feminina, usando o pseudônimo de Cassandra (claro que uma coluna paga tão mal que ele tinha mesmo que estar morrendo de fome). Não está dando certo até quando ele se muda para um apartamento e passa a gravar as conversas das mulheres e transcrever suas idéias. Fica tão famoso que acaba indo ao programa da Hebe, onde tem que aparecer vestido de mulher (o travesti é óbvio) e acaba defendendo os direitos femininos. Está certo que é comédia e a gente não pede realismo. Mas exige risadas. Teve um ou outro momento de pastelão em que até abri um sorriso, mas o nível era tão baixo (mas não rasteiro, não chega a ser grosseiro), que ficou difícil encarar o filme. Para Adriane Galisteu, uma pessoa que eu gosto e acho talentosa, bastava a diretora dizer uma coisa: menos, menos. Ela simplesmente não combina com as outras.

Enfim, é uma tentativa equivocada de penetrar no universo de “Sex and the City”. E um mau começo para o SBT Filmes.

Por Rubens Ewald Filho

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