14
de fevereiro de 2006
Reclamei
da preguiça do diretor Beto Brandt, que depois
de consagrado (ao menos pela critica) com Os
Matadores (97), foi repetindo a formula
(em Ação
Entre Amigos [98] e O Invasor [2002])
com resultados cada vez menores. Mas ninguém
pode se queixar da polêmica com este Crime
Delicado, um filme onde ele bota a cara
para bater, com notável ousadia, acertando
se não
em tudo, pelo menos assumindo sua posição
do mais talentoso diretor paulista de sua geração.
Mas já começaram as porradas contra
ele, e dá para entender porque, até por
conta do público feminino. Inclusive
por causa da temática, que é muito
polêmica.
Basicamente, é a
história
de um critico de teatro (Marco Ricca - cada vez melhor)
que se encanta com uma jovem desinibida, que é deficiente
física (não tem uma perna) mas que
mesmo assim, ou talvez por isso, serve de modelo
para um artista plástico. A atriz que faz
o papel, realmente tem esse problema (vítima
de um câncer) e se sai muito bem, convencendo
na cena mais importante (no tribunal), e sem ter
problemas de se mostrar nua. É uma imagem
muito forte, mas que nem todo mundo tem a naturalidade
de admirar.
Aliás Beto lida muito bem com a situação,
culminando com as fotos da modelo com o artista que
são sem dúvida, perturbadoras (mas,
não é essa também a função
do cinema?). Mas a questão básica é quando
o critico tenta seduzir a garota, e acaba tendo relações
sexuais com ela, também levado pelo ciúme,
embora aparentemente ela não o quisesse.
Logo depois ela abre um processo, acusando-o de estupro,
ou seja, relações sexuais não
consentidas.
Verdade ou não? Isso fica sujeito a discussões.
O que também é perturbador.
Fazendo
a maior parte do filme em preto e branco, cometendo
outras ousadias (como um depoimento do
artista plástico que ele deixa durar um tempo
a mais, demonstrando que era de verdade), Beto faz
um filme excepcional, que muita gente vem rejeitando.
Particularmente
fiquei conquistado pela plasticidade, pela ambigüidade, e até pelo clima doentio
(e erotizado).
Por
Rubens Ewald Filho