15
de dezembro de 2005
Quando
aconteceu o fenômeno O Senhor dos Anéis,
todos os estúdios correram atrás de
uma franquia parecida, que tivesse o mesmo potencial
de continuações e um clima de fantasia
semelhante. Foi assim que a Disney chegou até esta
antiga história infantil, adaptada antes apenas
como animação, escrita justamente por
C.S.Lewis, que foi amigo e, depois rival do autor
de “Anéis” J.R. Tolkien.
Tanto, que a expectativa é de que a fita tenha
sete episódios (e não saia logo, porque
ao final tem um adendo que abre a porta para isso).
Antes de tudo, é bom dizer que a semelhança
com aquela trilogia é vaga e muito relativa.
O
apelo desta superprodução de 180
milhões de dólares, rodada também
na Nova Zelândia, é basicamente infantil.
Tem pouca ação, quase todos seus personagens
são bichos animados, e a história não
vai agradar ao público masculino adulto.
Não tem romance nenhum, o que também
deixa de fora o público feminino.
Tem muito pouco senso de humor (os únicos
personagens com essa função, a família
de castores, desaparecem).
E essa tentativa de vender o filme para as comunidades
cristãs, é uma balela. Apesar do autor
ser “cristão” fervoroso, o que
ele fez foi apenas criar algumas referências
vagas (o Leão, como o Leão de Judá,
a traição como Judas, a Ressurreição).
No fundo, é apenas uma antiquada história
de Bem versus Mal, não especialmente empolgante,
nem memorável.
Não acredito que alguém tenha saido
do cinema dizendo: “Mal posso esperar pela
continuação”, como tem sucedido
com Harry Potter.
A
ação se passa durante a Segunda Guerra
Mundial, quando 4 crianças inglesas são
deslocadas - por causa do bombardeamento em Londres
- para o interior, indo para um castelo de um cientista
professor (outro personagem mal desenvolvido) onde,
por acaso, entram por um armário para a terra
desconhecida de Nárnia.
A menina Lucy/Lucia (a melhor do elenco, a garotinha
Georgie Henley) é a primeira a atravessar
o mistério e fazer amizade com um fauno, que é contra
a Rainha da Neve, ou a Feiticeira (a inglesa Tilda
Swinton, que está menos marcante do que costume,
em papel que Nicole Kidman largou). Uma mulher fria
e cruel, que transforma os inimigos em estátuas
de gelo.
Aos poucos, os irmãos se reúnem a Lucy
e acabam tomando posição contra a tirana
já que, de acordo com uma antiga profecia
local, o dia em que 2 filhas de Eva e 2 filhos de
Adão, ou seja humanos, chegassem ao Reino,
haveria uma revolta.
O
mais interessante de toda a história (o
livro, na verdade, é muito sucinto) é o
desenvolvimento da relação entre irmãos,
já que o garoto mais novo, Edmundo é problemático,
tem rivalidade com o mais velho e sente a falta do
pai. Isso justificaria sua traição,
se tornando informante da Feiticeira, e depois causando
vários problemas.
Também é curioso colocar a irmã mais
velha como dona da verdade e, no fundo, uma chata.
Mas há poucos incidentes (uma fuga pelo gelo,
onde a água gelada parece não ter efeitos
sobre eles, um encontro fora de hora com Papai Noel
- que parece ter vindo de outro filme - e, finalmente,
uma batalha campal).
A figura mais imponente é a do Leão,
Aslam, chefe da oposição (voz de Liam
Neeson), que protagoniza o momento mais polêmico
do filme. Enfim, não dá para dizer
que o filme seja aborrecido.
O
trabalho do diretor Adamson (que veio de Shrek e
Shrek II!) é apenas
profissional, sem maior inspiração.
Resta ver se existe um público para ele, mas
a abundância de cópias dubladas confirma
para quem ele foi feito: menores de idade.
Por
Rubens Ewald Filho