30
de abril de 2004
Este
primeiro filme americano do brasileiro Walter Sallers (produzido
por Robert Redford e falado em espanhol), é um road-movie
com uma mensagem. Esta é uma estrada com algo a demonstrar,
uma jornada através da América Latina, que procura
nos convencer que somos latinos, que temos muito a ver com os
parceiros de Continente. Mas duvido que muita gente fica convencida.
Essa revelação serviu para o jovem doutor Ernesto
Guevara no começo dos anos 50, que durante uma viagem
de motocicleta da Patagônia até um hospital de leprosos
na Amazônia, teve sua consciência despertada para
os problemas sociais do continente, no que seria o começo
- bem remoto - de sua consciência política e luta
armada. A moto apelidada de A Poderosa é secundária,
porque depois de meia hora ela se estropia e eles continuam a
viagem a pé. Na verdade, se vê pouco do povo, da
gente, e mesmo da paisagem para chegar a emocionar ou ter qualquer
conclusão. Felizmente evitam qualquer discurso ou proselitismo.
Nem mesmo de Che ele ainda é chamado. É apenas
um jovem um pouco ingênuo, que não sabe mentir,
que tem ideais e comete besteiras (como uma simbólica
mas inútil travessia noturna do Rio Amazonas). Uma lição
curiosa e bem contada, mas que nunca empolga, transcende ou ilumina.
Por
acaso, eu li o livro há três anos atrás e
não vejo porque todos ficaram tão apaixonados pelo
projeto. Pouco acontece nele de interessante, aliás o
roteiro do filme tenta torná-lo mais intenso mas ainda
assim não encontram ninguém de interessante ou
de conseqüência, a não ser participar de alguns
bailinhos onde aprendem a dançar mambo ou tango. Melhor
dizendo, não aprende. Tem uma namoradinha que o larga
(uma cena tão discreta, o rompimento vem por carta, que
chega a deixar dúvidas), algumas garotas com quem conversa.
Mas o drama maior são eles andando e a moto quebrando.
Não são perseguidos, não se vê nada
especialmente turístico (fora Machu Pichu que na época
ainda não era muito conhecido). E mesmo a generosidade
com que trata os doentes no hospital fica no ar (pinta um conflito
com a madre superiora que não é levado adiante).
Já que
foi tão criticado por Abril
Despedaçado, onde teve
momentos de exuberância fotográfica, Waltinho desta
vez opta pela simplicidade, rodando em Super 16 mm e evitando
o mais estético. O que ele tem a favor é que está mexendo
com um mito inatacável, ninguém pode ou irá falar
mal de Che Guevara, ainda mais nesta encarnação
juvenil, de boas intenções e poucas propostas (o
mexicano Gael não compromete no papel, mas a melhor figura é mesmo
o argentino Rodrigo de la Serna, principalmente porque pessoalmente é muito
mais jovem. Aquilo que você na tela é composição
mesmo de ator).
Por Rubens Ewald Filho
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