22
de setembro de 2005
Os
festivais brasileiros recentes têm confirmado
um fato: os filmes documentários estão
melhores do que os de ficção.
O que me parece na verdade uma tendência mundial.
Mas embora o gênero atraia um público
extremamente pequeno, quem sabe pode se expandir
através de tevês por assinatura (no
mundo todo), DVDs (até em escolas e palestras),
ou seja crie uma espécie de circuito paralelo.
Em
Gramado, o padrão de documentários
era tão bom, que não vi todos.
Mas apreciei particularmente este aqui, que foi um
projeto muito pessoal da diretora Mara Mourão
(“Alô?!” [1998] e o muito fraco “Avassaladoras” [2002]),
já que o marido dela Wellington Nogueira,
foi quem trouxe a idéia dos “Doutores
da Alegria” para o Brasil. Conheci Wellington
ainda no começo dos anos 80, quando ele me
convidou para um projeto que não deu certo.
Logo depois viajou para os EUA, onde foi estudar
teatro musical, o que no fundo era um pouco prematuro
para o nosso ambiente.
Acabou se apaixonando pela idéia dos “Doutores” que
o brasileiro conhecia apenas pelo filme “O
Amor é Contagioso” (“Patch Adams” [98])
de Tom Shadyack, com Robin Williams.
Vencedor
do prêmio do público e do júri, “Doutores” tem
uma estrutura bastante cuidada, já que ela
se preocupou sempre que os depoimentos nunca fossem
estáticos, que tanto em São Paulo quanto
no Rio, os participantes estivessem fazendo alguma
coisa, esteticamente curiosa (caminhando a beira
do Pão de Açúcar, andando de
bicicleta, andando de pernas de pau numa casa bem
iluminada, fazendo gestos num salão de festas
no alto de um prédio antigo etc).
Enquanto
cabe a Wellington falar sobre a parte histórica
e didática. Realmente o trabalho que eles
fazem - e de graça - é muito difícil.
Vestidos de palhaços, atores profissionais
(e pelo jeito, o grupo parece ter mais de 30) vão
aos hospitais onde fazem visitas aos pacientes terminais
(ou muito graves), em particular crianças,
tentando de alguma forma alegrá-las usando
técnicas milenares de palhaçada sem
esquecer porções enormes de improvisação
e intuição. Talvez o filme possa parecer
um pouco alongado da metade para o fim, mas não
há duvida
de que tem momentos tocantes, principalmente quando
registram o riso espontâneo das criancinhas
que nem tem o menor motivo para serem felizes.
E
por alguns instantes conseguem. Impossível
não se emocionar, não se envolver.
Procurem assisti-lo!.
Por
Rubens Ewald Filho