02
de abril de
2004
Irrita
muito essa moda de colocarem títulos nos filmes, que não
são explicados nem nos letreiros, nem no contexto. Se
não fosse assinado por Gus Van Sant (My Own Private
Idaho, Gênio Indomável, Psicose - a refilmagem, Drugstore
Cowboy) este filme seria pichado em praça pública
e jamais aceito num festival.
Mas
esta produção original da HBO acabou misteriosamente
ganhando a Palma de Ouro do Festival de Cannes, justamente no
ano em que concorriam Invasões Bárbaras, e mesmo
Sobre Meninos e Lobos. O filme mesmo premiado chegou a estrear
nos EUA em outubro de 2003 e não passou de um milhão
e trezentos mil de renda.
A injustiça
do prêmio fica ainda mais flagrante
agora que já passou o choque dos atentados juvenis em
escolas americanas e já vimos Tiros
em Columbine.
Não
consigo levar a sério Gus Van Sant, para mim
um vigarista tão grande quanto David Lynch e com muito
menos talento. Ou seja, um enganador. Seu filme tem longas caminhadas
e o anterior, Gerry é apenas isso, uma longa caminhada
pelo deserto sem explicações (poderiam ser para
lembrar um vídeogame mas, na verdade, deve ter sido para
esticar a metragem) ao contar, por pontos de vistas diferentes,
pessoas que se cruzam, quando dois alunos de uma high school
de Portland, resolvem comprar armas e matar os colegas. É um
tema previsível e por demais explorado (e muito melhor
tratado até no telefilme Bang Bang, Você Morreu,
que saiu em DVD e está estreando este mês no Telecine
Premium). Também importante demais para ser tratado assim
com leviandade. Van Sant, que é gay assumido, chega ao
cúmulo de insinuar que os dois matadores são influenciados
pelo nazismo e transam no chuveiro antes de irem matar (porque
são virgens!). Seria muito forte se fosse o oposto, pessoas
comuns que chegam ao crime. O filme vai apresentando os personagens
se cruzando, a partir de um dos garotos (todos são amadores,
improvisaram suas cenas e usam seus nomes reais), que tem problemas
com o pai alcoólatra (o único conhecido do elenco,
Timothy Bottoms, de A Última Sessão de Cinema,
que é sósia do presidente Bush e deve ter sido
escolhido por isso). São tipos comuns (uma garota que
tem medo de tirar a roupa na ginástica, outro que tem
o hobby de fotografar, um casal de namoradas, três adolescentes
sem nada na cabeça, etc e tal). Mas tudo é muito
mal narrado, cheio de furos (não há segurança
na escola, não chega a polícia, em vez de fugir
pela janela vão se esconder na geladeira, e assim por
diante) e com mínimo de impacto (mal se vê a morte
de alguns dos protagonistas).
Acho
o filme estúpido da maneira que brinca com assuntos
importantes. Diane Keaton assina como produtora. Ah, chama-se
Elefante em homenagem a uma série de tevê inglesa
do mesmo nome (BBC, 1989) de Alan Clarke, sobre a violência
na Irlanda do Norte. O titulo se inspira na frase, Tão
fácil como ignorar um elefante que está na nossa
sala de jantar. A Palma de Ouro para ele só demonstra
como o Festival de Cannes perdeu seu rumo nos últimos
anos.
Vamos
torcer para que este ano, com Quentin Tarantino na presidência,
a coisa melhore.
Por Rubens Ewald Filho
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