18
de agosto de 2003
Nunca
achei que este momento fosse acontecer, escrever sobre os mais
de 70 anos de Elizabeth Taylor. Até porque desde criança
que eu leio sobre as repetidas e inúmeras doenças
dela e o risco de vida que corria, portanto sua fragilidade e
a possibilidade de morrer cedo eram uma constante até de
seu próprio mito. Só não contávamos
que um dia ela ficasse velha. Por que imortal já saibamos
que era.
É
muito curiosa a trajetória de Elizabeth (ela odeia que
a chamem de Liz, só a imprensa faz isso, não os
amigos) que certamente foi a maior estrela da Segunda parte do
século 20 (bobagem contestar, Marilyn poderia ser páreo,
mas morrer cedo e no auge não é vantagem, quero
ver ela agora comemorando setenta anos em que estado estaria?
Seria uma velha gorda de que todo mundo já teria esquecido).
E uma das mulheres mais belas.
Eu a
vi pessoalmente três vezes (a quarta não conta,
foi em Cannes mas estava longe e ela era pouco mais que uma figura
na escadaria do palácio). A primeira foi quando estreou
na Broadway fazendo Little Foxes, um texto que Bette Davis tinha
imortalizado no cinema. Na noite que eu fui estava tão
Gina Lollobrigida e as pessoas estavam loucas (imagine ver duas
celebridades pelo preço de uma). Elizabeth nunca tinha
feito teatro e sua voz não era muito forte (isso foi antes
de tudo ser "microfonado"). Já estava gordinha,
mais ainda bela e cativante. A segunda foi novamente no palco,
quando ela fez Private Lives com Richard Burton. Já estavam
separados, mas eram ainda amigos (obviamente ela acha que Burton
foi o grande amor de sua vida, casaram-se duas vezes e foram
durante uma década o casal mais famoso do mundo). Mas
ele já estava em fim de carreira, tinha deixado de beber
e parecia um autômato, guiado pelo piloto automático
(fisicamente parecia exaurido, sem brilho). Dessa vez sentei
bem na frente e no fim do espetáculo fui esperar a saída
deles. Nunca tinha visto nada igual, o show não era um
sucesso, mas na rua havia uma multidão a espera deles,
com guardas, cavalaria, fãs gritando, limusines, uma festa
(mesmo com astros no palco, é raro suceder isso e com
freqüência você consegue autógrafo e
até umas palavras com os atores que quiser). Nas duas
vezes não me decepcionei.
A terceira
foi em Cannes há poucos anos (ela vai sempre
para uma famosa festa beneficente da Aids) quando ao lado de
Ian McKellen deu uma entrevista coletiva. Estava na primeira
fila e desta vez pude observar bem. Ela parecia que tinha uma
dor permanente, segurava sempre seu famoso cachorro de estimação
e parecia consciente de seu papel de Santa Madrinha das organizações.
Isso é curioso para se entender como as coisas mudam,
as opiniões. Ela havia sido execrada em publico quando
roubou o marido (Eddie Fisher) da melhor amiga (Debbie Reynolds)
no que foi um enorme escândalo no fim dos anos 50. (Hoje
as duas são amigas e fizeram um filme juntas há pouco,
ambas odeiam Eddie que escreveu um livro falando mal de Debbie.
Que por sinal também tem a mesma idade). Pior ainda foi
que tudo sucedeu de novo, quando ela começou o caso com
Burton durante as filmagens de Cleópatra e largou Eddie
por ele. Ou seja, não só rouba maridos (Burton
era casado há muitos anos) como faz isso duas vezes. No
meio tempo houve também um perdão oficial, quando
ela quase morreu durante a primeira fase da filmagem de Cleópatra.
A crise foi tão séria que ela levaria o Oscar® por
Disque Butterfield 8, uma fita que ela odiava.
Na verdade,
sobre Elizabeth poderia se escrever livros inteiros. Quero deixar
claro dois pontos. Um deles é o lado generoso,
amigo dela, que hoje está claro no trabalho intenso e
não remunerado que faz para organizações
de apoio a doentes e busca da cura para a Aids (tudo causado
pela morte do amigo Rock Hudson com a doença). Noutro
o mito de que não é boa atriz. Houve realmente
uma fase onde Elizabeth foi extraordinária. A partir de
Um Lugar ao Sol, onde as cenas de beijo são
clássicas
(e também começo de outra longa amizade com um
homossexual no caso Montgomery Clift) e depois ainda nos anos
50 numa sucessão de grandes filmes e papéis, Gata
em Teto de Zinco Quente, A Árvore da
Vida, De
Repente no Ultimo Verão (todos lhe deram indicações
ao Oscar®) e depois, no seu grande momento, que é Quem
Tem Medo de Virginia Woolf?, que lhe deu um segundo
e merecidíssimo
Oscar®, desta vez sem desculpas (eu gosto também
de outros filmes como X, Y e Z, onde ela se
auto-satiriza).
De qualquer
forma, se ninguém desconfiou ainda, sou fã de
Miss Taylor. Nem que seja por ela ter provado de que não é preciso
morrer jovem para ser mito.
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