Estrela Solitária (Don´t Come Knocking)
 


04 de maio de 2006

Em 1984, Wim Wenders ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes com seu filme Paris, Texas, provavelmente sua obra-prima e que foi escrita justamente pelo dramaturgo e ator Sam Shepard, que recusou estrela-la. Agora eles voltaram a se encontrar com Shepard também como ator (e trazendo ainda sua esposa Jéssica Lange), neste Estrela Solitária (titulo infeliz que lembra 1) o estado do Texas que não tem nada a ver, se passa em Utah e Montana 2) o jogador Garrincha, o filme dele tinha esse nome, assim como o livro de Ruy Castro, quando vi pensei, ah esse já assisti).

E logicamente todos os críticos sem imaginação foram dizendo o óbvio, que o outro era melhor e malando este aqui. Não é bem assim. Melhor nem comparar apesar de algumas semelhanças também temáticas (lá um homem e uma criança procuram pela mulher e mãe desaparecida, aqui é um astro de cinema de faroestes, já meio decadente, meio Clint Eastwood, mas sem semelhanças no mundo atual já que não se fazem mais westerns como aquele que esta sendo produzido ali). Enfim, o ponto de partida parece algum fato real que Wenders ouvi de algum veterano diretor que conheceu, tipo John Ford. E pediu para Sam expandir. Assim, o cowboy chamado Howard Spence se enche da filmagem e foge dali, onde esta no deserto de Utah e vai procurar a mãe que não encontra há muitos anos e vive perto dali (Eva Marie Saint). Ela menciona o fato de que ele deve ter um filho já adulto em Montana e ele parte para Butte, procurando a ex-namorada (Jessica) que não quer mais nada com ele. Mas o filho realmente existe (Mann), que é músico e o recebe mal (custa a crer que ele não saberia quem é , já que no bar da mãe tem um pôster e fotos de Howard) , Enfim, de quebra tem também uma outra moça (a ótima Sarah Polley) que pode ser sua filha (essa relação é melhor tratada, de forma bem mais sutil).

Não é melodrama e as situações são tratadas de forma sutis e por vezes ate engraçadas. Não se fogem de clichês (todo filme atual tem alguém quebrando sua casa de raiva aqui ao menos a situação é usada dramaticamente depois). Mas se leva muito tempo na fase expositiva, com um personagem que é desagradável e antipático, sem qualidades redentoras (ele bebe, dorme com todas as mulheres, não liga para a mãe, nem para ninguém) o filme melhora muito numa cena espetacular tecnicamente. É na discussão na rua, com os moveis quando quase ao final passa uma nuvem e a luminosidade muda brutalmente. Em vez de refazer Wenders resolveu deixar, mostrar a origem daquilo (o céu chumbo) e ir adiante com a seqüência, que coloca Sam sentando no sofá, esperando o temo passar, ou seja, a noite chegando, tudo muito bonito e poético.

Dali em diante chegam os conflitos e o filme melhora, graças a algumas grandes figuras, como Tim Roth que dá ironia ao personagem do detetive do Seguro que vem atrás dele (o dialogo no carro onde ele diz que não houve radio porque as noticias são as mesmas, e exemplifica, como As Cruzadas, a Conquista do México etc). Concorrente em Cannes ano passado, o filme ganhou melhor fotografia no European Film Award, onde teve mais três indicações. Custou 11 milhões e estreou em abril nos EUA em poucas salas e nenhum sucesso. As canções interessantes são de T-Bone Burnett mas a que da titulo original do filme é de Bono e Andréa Carr. Ou seja, um filme interessante apesar de tudo (principalmente assistindo ele fora de Festival).

Por Rubens Ewald Filho

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