18
de novembro de
2004
De
vez em quando, o cinema italiano sai de sua má fase e
se reabilita com algum bonito filme, como é o caso deste
novo trabalho de Salvatores (que ganhou o Oscar por Mediterrâneo)
e onde por sinal, ele faz um elogio nos diálogos ao Brasil,
comentando que é uma terra distante mas bela e cheia de
oportunidades (onde um dos personagens se casou com uma mulata).
Extremamente bonito, muito bem realizado, poético, mas
também perturbador e atual, o filme corre o risco de passar
desapercebido nos cinemas mas depois sairá em DVD. Ai
faça questão de conhece-lo. Tudo é muito
bonito, passado no interior da Itália, numa região
do Sul, onde se planta trigo. Correndo pelos campos, um grupo
de garotos de dez anos e pouco, fazem suas brincadeiras. Até que
um deles, Michele (o novato e ótimo Giuseppe Christiano),
encontra um buraco onde está um menino acorrentado. Só aos
poucos ficamos sabendo que é um garoto que foi seqüestrado
e justamente pelo pai do garoto e seus amigos. Os dois vão
ficando amigos (Michele lhe traz comida, o leva para dar uma
volta no sol) enquanto tenta entender o comportamento de seu
pai (Dino Abbrescia) e da própria mãe (a ótima
espanhola Aitana Sanchez Gijon, ainda que sub-utilizada) que
ajuda no caso com relutância. Embora seja mais um outro
filme relatando os fatos pelo universo infantil, a relação
com os seqüestros atuais só aumenta seu impacto e
dramaticidade. Como se estivéssemos nos anos 60, tudo é de
primeira: a fotografia, a trilha musical, o elenco (mesmo o infantil)
e mesmo o final um pouco previsível mas que não
chega a cair no melodramático. Premiado com dois Davids
de Donatello (inclusive melhor foto e filme da juventude), concorrente
em Berlim, Eu não tenho Medo é uma obra de qualidade
que deve ser assistida.
Por Rubens Ewald Filho
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