O EXPRESSO POLAR

06 de dezembro de 2004

Este é provavelmente o filme mais caro de todos os tempos (tendo custado por volta de 300 milhões de dólares) e certamente dará prejuízo a Warner porque não foi bem nos EUA (onde estão funcionando apenas as cópias em Terceira Dimensão exibidas nas salas que tem IMAX, ou seja telas super gigantes). Curiosamente também é um filme infantil, endereçado a crianças bem pequenas, de preferência que ainda acreditam em Papai Noel e não sejam descrentes como o jovem herói da história. Adultos, fiquem prevenidos devem se aborrecer com o filme, com uma única exceção: os admiradores do cinema de animação. Já que basicamente este é um filme experimental, que expande as barreiras da tecnologia cinematográfica. Um filme praticamente sem atores. Onde eles, são apenas modelos cheio de pontos luminosos interpretando de um tela de projeção (no estilo do Cros Maquis da Televisão, ou Blue Screen como eles chamam). Prosseguindo o que o filme japonês Final Fantasy (2001) já havia tentando sem muito êxito.

Apesar de ter reunido novamente a dupla vitoriosa de Forrest Gump, o Contador de Histórias (que foi pioneiro no uso dramático dos efeitos digitais de computador) e Náufrago, o diretor Robert Zemeckis e o astro Tom Hanks, o projeto também é apenas relativamente bem sucedido. Deve funcionar muito bem para crianças que ficarão menos incomodadas com as falhas (os movimentos dos olhos são estranhos, eles ficam parecendo ETs, assim como o andar, a postura dos personagens também é desajeitada e truncada). Ou seja, é tudo muito bonito, luminoso, original, fica realmente parecendo pinturas a óleo em movimento. Mas cadê a história? Na verdade, é espantoso o que conseguiram fazer com um livro extremamente curto e sucinto (o livro na sua edição original com os desenhos que inspiraram o visual do filme está saindo no Brasil agora, pela editora Nova Fronteira). Se fossem fiéis, não dava nem um curta de cinco minutos. Mas rechearam a história de incidentes e personagens, de forma que não há um instante de tédio.

Igualmente espantoso é como Hanks se submeteu a esta experiência que deve ter sido exaustiva (ele também assina como co-produtor), já que ele faz cinco personagens. Alguns óbvios: o condutor do trem, Papai Noel, o pai do menino, um vagabundo que é meio Anjo da Guarda. Até aí, normal, já que todos têm seus traços fisionômicos. Mas interpretou também o herói, o menino, o que não é perceptível ao mal informado. O que não deveria ser tão estranho assim porque Hanks fez também algo parecido em Big - Quero ser Grande. As peripécias são curiosas porque incluem referencias (Zemeckis por exemplo faz aparecer Jessica Rabbit de seu filme Uma Cilada para Roger Rabbit, além do boneco de Scrooge, o sovina de Um Conto de Natal de Dickens. E preste atenção cinéfilos porque o vagabundo fantasma que anda no trem não é outro se não O Imperador do Norte feito por Lee Marvin no filme de Robert Aldrich (Emperor of the North de 73. O que tem tudo a ver com o titulo deste filme). Basicamente a história é sobre um garoto que já está descrendo de Papai Noel, até quando na véspera de Natal, para na porta de sua casa, um velho trem que o leva até o Pólo Norte para assistir a saída de Noel em seu trenó e dar para um dos garotos o primeiro presente. Inventam-se para o filme dois protagonistas infantis, um garoto pobre e uma menina negra com talentos de líder, dentro do politicamente e comercialmente correto.

Não falta nada: como uma ride de parque de diversões o filme tem ao menos três cenas que parecem descida de montanha russa. Há um numero musical moderno e coreografado (sobre chocolate quente), um par de canções (para serem finalistas para o Oscar) e até aparição roqueira de Steven Tyler e o Aerosmith. Sem esquecer praticamente todas as mais famosas canções natalinas na trilha musical incluindo Jingle Bells e White Christmas. Também tem bastante ação, com várias perseguições, fugas e trapalhadas, para manter as crianças atentas. No entanto, sua mensagem de boa vontade natalina acaba soando falso para qualquer um com mais de 12 anos.

É preciso então se deliciar com um festim visual sempre interessante.

Por Rubens Ewald Filho