FALANDO EM FILMES

07 de outubro de 2004

Parece que ando preguiçoso. Nem tanto. Estou mesmo é fechando às pressas um novo guia de DVD e correndo, vendo tudo o que escapou de edições anteriores. Para se ter uma idéia, neste momento estou revendo Nós Jogamos Com os Hipopótamos, numa cópia toda amarelo-icterícia. E também tenho visto muita coisa nova em DVD, seja importada (bendita seja a Lasermania), seja pirateada (credo, ainda não cometi o crime, mas vi downloads alheios). E de vez em quando até arrisco uma sala. Vamos falar de alguns filmes em cartaz:

Passagem Azul (Blue Gate Crossing - Lanse da Men - China -2002), de Yee Chin-Yen: Sabia muito pouco do filme e só descobri ser de Taiwan pela paisagem (aliás, conforme confirmou o Prof. Hubert, que esteve lá, não é nada daquilo que aparece na tela: é cheia de gente, muito quente, trânsito impossível e regime paramilitar, o que dá para se sacar pelas escolas, onde os próprios alunos são obrigados a fazer a faxina. Já pensou se fosse assim aqui também? Estávamos perdidos).

Mas está se contando uma história de amor, então o filme procurou ser bonito, bem contadinho, sem a lentidão mortal que em geral derruba os filmes da antiga Formosa (da China não, alguém que descubra o porquê)... Bom, se puder vá ao Cine Sesc, (Rua Augusta, 2.075, tel.: [11] 3082-0213) muito bem conservado como tudo do Sesc, e se emocione com a história delicada de uma garota que gosta de garotas (a gente descobre no meio, mas não tem como comentar sem revelar isso) que tenta aproximar a melhor amiga (por quem ela é apaixonada) de um colega de escola (que pensa que é a própria que está dando em cima dele). Os dois tentam muito timidamente um romance (aos 17 anos, eles não transam, enquanto por aqui já têm até filhos) e a história é solucionada liricamente, de forma a não desagradar ninguém. A fita é distribuída pela já finada Mais Filmes, de Leon Cakoff, e deve ter passado em Mostras, que eu deixei passar.

Mea Culpa. Assistam e confirmem que o bom cinema atual vem do oriente mesmo.

Agente Teen 2 (Agent Cody Banks 2: Destination London - USA - 2004) de Kevin Allen: Parece por demais Spy Kids 2. Começa num acampamento de treinamento para espiões teen escondidos dos pais (aliás, a fita não dá para ser vista por adulto). Quando chegam tudo muda.

Cody é um ídolo para os menores e recebe a missão de ir para Londres ingressar num grupo de brilhantes estudantes de música para descobrir o bandido Lord, agente da CIA, que roubou um dispositivo secreto para controlar a mente da pessoa que o estiver usando. Piadas velhas, Frankie Muniz sem graça, a loirinha que faz par não é nada (ela também se revela spy) e as piadas ficam por conta do ajudante, Anthony Anderson (que se passa por chefe de cozinha dos meninos, e que hoje responde por dois casos de estupro!). Líderes do mundo cantam Guerra, Para Que Serve?

Mas ao menos na fita não matam ninguém. Enfim, muito fraco.

Show de Vizinha (The Girl Next Door - EUA - 2004 ) de Luke Greenfield: Antes de tudo, a menina é uma gracinha, e tem talento. Guarde o nome que é difícil: Elisha Cuthbert, e você deve conhecê-la como a filha de Kiefer Sutherland na série de TV 24 horas. O papel que lhe deram é impossível de convencer, mas ela faz uma bela tentativa. Na verdade, se trata de uma pornochanchada para adolescentes (é censura 14 anos, mas as piadinhas são bem fortes, girando tudo em torno de filmes pornográficos). A história é bem discutível: um adolescente CDF, e por isso infeliz, descobre que a vizinha nova é uma estrela pornô que se encantou com sua inocência, principalmente quando eles começam a namorar direitinho. Quando ela é forçada a voltar a trabalhar, em vez do filme virar policial, continua a ter soluções de comédia, até bem boladas. Já confessei que eu tenho um fraco por fitinhas de teens e esta me pareceu meio aberrante: é totalmente para o público masculino e ao mesmo tempo tenta fazer romance com pornografia! Para estes tempos moralistas de Bush, no mínimo é curioso.

Rios Vermelhos 2 - Anjos do Apocalipse (Les Rivières Pourpres 2 - Les Angels de l'Apocalypse -França / Itália / Reino Unido - 2004) de Olivier Dahan: Gostei mais do que do primeiro, que fez muito sucesso na França, mas foi mal por aqui.

Novamente é uma produção escrita e produzida por Luc Besson, o mais comercial e moderno realizador francês, e novamente estrelada por seu ator preferido, Jean Reno (que é carismático com sua cara de permanente mau-humor). Seu partner mudou (era o Mathieu Kassovitz, e melhorou com Benoig Magimel, de A Professora de Piano). Mas tenho que confessar um fraco: qualquer filme que tenha Christopher Lee eu já gosto de cara. A cara gótica dele fica melhor com a idade, ainda mais quando faz um bandidão daqueles antigos nazistas bem malvados. A idéia do filme é boa e pela primeira vez a gente penetra nos bastidores da célebre Linha Maginot, que serviu tão mal aos franceses na Segunda Guerra Mundial. Mas ali também existiriam outros subterrâneos que se coligam a uma abadia católica e uma antiga seita de fanáticos. É meio difícil resumir, mas basta dizer que a história do filme lembra um pouco o atual best-seller O Código Da Vinci, mexendo em segredos da história da Igreja (por sinal, recomendo o livro, ainda que não seja para ser totalmente levado a sério, é thriller antes de tudo).

O filme idem: tem clima de O Nome da Rosa, quando eles tentam entender porque estranhos crimes ocorrem nessa abadia, e porque outros mortos vão aparecendo emulando figuras da Santa Ceia.

Os americanos já tentaram fazer coisas parecidas (tipo aquele ridículo O Devorador de Pecados).

Mas este funciona melhor. Mas não esqueça que é fitinha de ação, de efeitos especiais (eficientes, os franceses estão adiantados nisso) e não pretende outra coisa do que divertir e entreter.

É pura ação, só que à moda francesa.

Rei Arthur (King Arthur - EUA / Irlanda - 2004) de Antoine Fuqua: Este confesso que fiquei com preguiça mesmo de escrever. Não achei tão ruim quanto se dizia lá fora, ao explicarem seu fracasso de bilheteria. É até uma fita de aventura razoável, lembrando outros filminhos parecidos (na verdade, mais aqueles italianos de halterofilistas do que outra coisa).

Pouco ou nada tem a ver com a lenda do Rei Arthur que a gente viu inúmeras vezes na tela, e acho que isso explica seu fracasso. É uma lenda tão absorvida por nós, que ver outra versão de Guinevere (pintada de roxo com biquíni de couro) sem se envolver com Lancelot, fica difícil de aceitar. Também o elenco não é dos melhores, principalmente o bendito Clive Owen que é totalmente transparente, não tem o menor carisma (parece o Mr. Celofane [John C. Reilly] de Chicago). Enquanto isso continuo a implicar com o queixo proeminente de Miss Keira Knightley que está mesmo virando estrela. Mas é outra fitinha de ação que eu veria melhor em casa, em DVD, do que nas salas. O diretor de Dia de Treinamento, o roteirista de Gladiador e o produtor de A Rocha, todos já tiveram melhores dias. Vale mais rever Excalibur em DVD. Será que não aprenderam com John Ford, que dizia que é melhor publicar a lenda do que a realidade?

De realidade francamente estou cheio, basta ligar a TV e ver a praia do Leblon inteira sendo assaltada.

Por Rubens Ewald Filho