22
de dezembro de 2005
É tanto
o prestígio atual do cinema argentino, que
outro dia no Artplex, só por olhar o cartaz,
uma senhora me disse: – Puxa, esse deve ser
bom.
Lamento,
mas o filme não cumpre o prometido
do título.
Não é nem uma daquelas comédias
de costumes divertidas, sobre crises familiares,
que deflagram durante uma viagem (de trailer adaptado,
no caso). Que os italianos fizeram muitas vezes.
Seu problema é que o roteirista / diretor
Trapero não quis realizar uma narrativa convencional,
contando uma história com diálogos
escritos e cenas marcadas. Preferiu um estilo semidocumental,
realista, quase como um voyeur, observando os personagens
que falam de forma espontânea (aparentemente,
de improviso).
Por
causa disso, temos dificuldade de primeiro identificá-los,
depois de gostar deles e achar alguma graça
no que poderia ser interessante. É como se
a gente estivesse se intrometendo, se metendo na
vida do vizinho, ao conhecer a heroína, uma
senhora de mais de 70 anos, que vive no subúrbio,
e que um dia recebe um telefonema de uma prima, convidando-a
para ser madrinha num casamento de uma prima que
mora em Missiones, distante mil quilômetros
de Buenos Aires.
E vai a família toda num fim de semana, num
carro adaptado, um “motor home”.
Acontecem os incidentes: o jovem casal de primos
que se experimenta sexualmente, ciúmes entre
casais, problemas com os guardas rodoviários,
peça do carro que quebra, e assim por diante.
Mas tudo nos deixa indiferente e distanciado.
Não é nem
comédia tradicional (aliás, não
sei se dá para classificá-lo assim),
nem tem profundidade dramática. Estranhamente
(nem tanto para quem conhece festivais e sabe como
são malucos esses júris), ganhou dois
prêmios em Gijon (atriz e diretor) e da crítica
em Guadalajara (vai ver os outros eram piores).
Mas
a mim não agradou ou convenceu.
Por
Rubens Ewald Filho