03
de outubro de 2005
Todo
mundo que viu o filme antes de mim dizia “Parece
Sessão da Tarde” e “as mulheres
gostam”. Bom, o fato é que nem a “Sessão
da Tarde” (da Globo) é mais como antigamente.
E adaptar séries de TV para longa-metragem
de cinema é um grande erro, já que
praticamente todas as vezes algo sai errado (as exceções
só confirmam a regra). Neste caso, é mais
triste porque o filme nem chega a ser ruim. É bobinho,
tolinho, engraçadinho, fraquinho.
Não é nada, apenas uma oportunidade
- boa idéia - desperdiçada.
Até porque a série original com Elizabeth
Montgomery, Dick York e Agnes Moorehead, de 1964
a 72, é das mais queridas e reprisadas da
televisão brasileira (e a primeira temporada
acabou de sair em DVD, ainda que colorizada!).
Levaram
anos pensando em como transpô-la para
o cinema e tudo que conseguiram, depois de tanto
tempo, foi chamar para a direção Nora
Ephron (Sintonia de Amor) que, junto
com a irmã Delia Ephron, inventou um roteiro
extremamente insosso, sobre uma feiticeira de verdade
(Nicole Kidman, linda, mas recendendo Botox por todos
os poros) que deseja ser normal (o pai Michael Caine
não aprova isso) e por acaso é descoberta
por um astro de cinema em crise (Will Ferrell) que
aceitou refazer a série de TV e procura uma
desconhecida (que não lhe faça sombra)
para contracenar. Por razões inteiramente
improváveis e inviáveis, ela se apaixona
pelo astro, que é vaidoso, burro, pretensioso
e tem uma ex-mulher que fugiu com outro. E, nas gravações,
tem suas dúvidas sobre exercer ou não
seus poderes.
Mentira
dizer que não se dá umas risadinhas.
Mas poucas e insuficientes para sustentar todo um
filme, que faz personagens aparecerem e desaparecerem
sem razão (por exemplo, a vizinha feita pela
estrela da Broadaway, Kristin Chenowith, que justamente
fez uma bruxa no show “Wicked”, surge
do nada simplesmente porque Nicole precisa de alguém
para trocar idéias, para lhe servir de escada.
Depois some da mesma forma). Outro absurdo: a tia Clara,
que poderia ser uma personagem divertida, é desperdiçada
com uma atriz abaixo da crítica. E mesmo Shirley
MacLaine nunca esteve tão mal, como a atriz
que faz Endora, que também se revela feiticeira
(outro detalhe muito mal aproveitado). É o
ponto mais baixo de sua longa carreira. Há mais
absurdos como, por exemplo, o roteiro que utiliza
a presença do tio Arthur para resolver a parte
final da história. Só que como o ator
que o interpretava já morreu faz tempo, arranjaram
um pobre imitador (quando o certo seria chamar um
Ator Convidado famoso, que faria mais sentido).
E assim por diante. Ferrell tem um certo charme infantil,
mas não é todo mundo que vai tolerá-lo
(a trilha usa canções que falam em
feitiçaria inclusive de Sinatra, mas eles
dançando só deixam claro que isso não é o
forte da dupla).
O
mais irritante de tudo é que o filme acaba
sendo mais uma declaração de amor de
Hollywood a si própria, fazendo piadas que
só eles entendem e acham graça. Novamente
giram em torno do próprio umbigo.
Dizem que agora vão fazer a versão
para o cinema da série de TV Jeannie é um
Gênio ("I Dream of Jeannie" -
1965 /1970). Por favor, não façam a
mesma besteira. O fracasso de bilheteria foi merecido.
Uma fita inócua dessas só vai deixar
os fãs da série irritados.
Por
Rubens Ewald Filho