06
de dezembro de 2005
Nunca
fui fã de Jim Jarmusch, nem de seu estilo
minimalista que foi abraçado nos anos 80,
até por falta de opções. O tempo
fez ele se repetir em experiências não
mais que curiosas (os filmes que fez com Roberto
Begnini, a série de curtas com cigarros) que
acabaram deixando-o num segundo plano de importância,
interrompido ocasionalmente por fitas como esta,
que são badaladas pelos antigos fiéis.
Desta
vez ele foi escolher Bill Murray, justamente num
momento em que seu estrelato está cansando.
Houve um tempo em que o achava muito divertido, com
sua cara de pau, sua ausência de reflexos,
cada vez fazendo o mínimo possível.
Mas ele realmente está cansando e explorando
seu personagem até os limites.
Aqui, ao menos ele está cercado por mulheres
interessantes, numa história que é velha
(em 1980, Joan Tewsbury fez “Old Boyfriends”,
que tinha o mesmo ponto de partida, desde então
usado em outros telefilmes).
E muito mal concluída.
Bill
faz um cinquêntão
apático, num personagem escrito especialmente
para ele, chamado Don Johnston (piadinha recorrente
porque o confundem com o ator que é Johnson!).
Vive meio jogado, confraternizando com o vizinho
negro (o ótimo Jeffrey Wright) que o ajuda
num plano logístico quando ele desconfia que
tem um filho agora adulto, de uma das ex-namoradas.
Mas não sabe quem, nem quando.
E então sai pelos EUA buscando reencontros.
Julie Delpy está irreconhecível como
a namorada mais recente.
Sharon Stone funciona como a ex mais liberal (e que
tenha uma filha que faz jus ao nome de Lolita), Francês
Conroy (de A Sete Palmos) é uma
que casou e virou careta, nova cristã. Jéssica
Lange tem uma profissão inusitada, é psicólogo
de animais (diz que escuta os bichos). Tilda Swinton é a
que o recebe mais agressivamente vivendo numa comunidade
esquisita.
De
qualquer forma, o filme seria uma viagem de autodescobrimento.
Mas isso está mais no resumo da imprensa do
que na tela.
Porque Jarmusch usa muitas canções,
cria as situações mas nunca vai fundo,
nem muito adiante.
Tudo é engraçadinho, razoável,
mas mesmo do que se espera, menos do que o público
gosta de sentir e reagir.
Até por causa do final (não quero comentar
mais para não estragar o possível impacto).
Enfim,
o fato de ter ganhado o Grande Prêmio
do Júri no ultimo Festival de Cannes só demonstra
como o Festival foi fraco este ano.
.
Por
Rubens Ewald Filho