GLOBO DE OURO 2004

26 de janeiro de 2004

 

É o único prêmio, cujas mudanças do Oscar (com datas e tudo o mais), prejudicou muito pouco. Ainda é o mais importante, influente e divertido de todos os prêmios. Ou de festas de prêmio. Por algumas razões:

1) Eles unem televisão e cinema, o que torna tudo mais interessante, com mais gente, mais astros, mais festa.

2) É um jantar com bebida, ou seja, na hora de agradecer todo mundo já está calibrado ou alegre ou descontraído. Sendo um acontecimento social e de menos responsabilidade, tem maior número de astros (todos os famosos comparecem, ao contrário do Oscar, que é esnobado).

3) Também é mais democrático (ao dar prêmios para comédia também) e simpático.

Há dez anos atrás havia um problema de credibilidade com o Globo de Ouro porque há um número pequeno de votantes (cerca de 90) e eles são jornalistas velhos (a maioria), influenciáveis e pouco conhecidos (escrevem para veículos pequenos, e nem críticos são). Mas tem feito um belo trabalho nos últimos anos, de forma que se reabilitaram e hoje estão conseguindo ser respeitados, até na área de televisão (onde têm descoberto os novos sucessos, antes do Emmy que era conservador).

Dito tudo isso, os erros das indicações do Globo de Ouro foram os normais, principalmente esquecer 21 Gramas (em particular na ânsia de dar uma indicação a Sean Penn, preferiram Sobre Meninos e Lobos, o que foi um erro. Mas havia o perigo de uma interpretação anular a outra, ou seja dividindo os votos, não entrava nenhuma). Mas as indicações do Oscar, que devem ser anunciadas na próxima terça (eu devo fazer o anúncio pelo SBT, lá pelas onze e pouco da manhã), não devem ser muito diferentes.

Vamos ao prêmio deste ano. Tudo começou perpetuando o grande equívoco do ano, que é Sobre Meninos e Lobos que, num lance de loucura coletiva, as pessoas ficam dizendo que é um grande filme, quando na verdade é um policial mediano, com elenco irregular e mal dirigido por Clint Eastwood. Mas só o tempo irá confirmar isso (ou me desmentir o que eu acho improvável). De qualquer forma, Tim Robbins é bom diretor, bom cidadão, boa pessoa. Mas mau ator e está muito fraco no filme, não merecendo ganhar como coadjuvante (mesmo que tenha dado uma alegria à sempre maravilhosa Susan Sarandon).

Os prêmios de televisão me parecerem mais corretos. Os dois primeiros premiados foram Frances Conroy, que é brilhante (apesar do Six Feet Under/A Sete Palmos ter derrapado e se perdido na última temporada. A nova ainda não estreou) e Anthony La Paglia, que também estava merecendo um prêmio, embora nunca tenha visto a série dele, Without a Trace).

Renée Zelwegger confirmou a impressão de que é a favorita para ganhar o Oscar de coadjuvante por Cold Mountain, até pelas indicações anteriores. Ainda gordinha (por causa do Bridget Jones II), ela é boa atriz mas sua interpretação é discutível. Mas isso deve suceder muito este ano, onde o padrão de interpretações foi muito alto (e olha que deixaram de lado Benicio Del Toro e Sean Astin!).

Todas as indicadas como Melhor Série - Comédia são boas, divertidas e inteligentes. Mas dizem que o último ano de Sex and the City é excelente. Não conheço direito porém a vencedora, a comédia inglesa The Office que os americanos têm adorado (deixei de comprar agora o DVD, que tem a primeira temporada, porque um amigo meu que a detesta fez minha cabeça). A frase de agradecimento deles foi genial: “Nós costumávamos mandar no mundo antes de vocês”.

Melhor minissérie: se não ganhasse Angels in América seria um escândalo, dizia eu. E não deu outra (aliás, deu para ver as costas de Rodrigo Santoro rapidamente, em Mrs. Stone). Ainda não o assisti, mas estou com o vídeo gravado da TV americana.

Melhor atriz em minissérie ou filme para TV: que time de indicadas, todas feras! E por fazer três papéis, e já a chamavam de tour de force quando a apresentaram, ganhou naturalmente Meryl Streep. O que só pode ser justo.

Atriz em série de humor: tem besteiras, como Alicia Silverstone que não é boa em nada. Mas ganhou mais uma vez Sarah Jessica Parker por Sexo e a Cidade (que é a minha menos favorita da série).

Melhor ator coadjuvante de TV: Jeffrey Wright, o único que veio da montagem teatral de Anjos na América e que todo mundo diz que rouba o filme. Acabo de lembrar que ele esteve aqui em São Paulo na estréia de Basquiat, na festa de abertura e era uma pessoa muito séria.

Melhor atriz em comédia (cinema): foi também, como esperado, Diane Keaton (que certamente será indicada ao Oscar) por Something Gotta Give. Todas as candidatas eram fortes, eu teria votado em Jamie Lee Curtis (Freaky Friday), mas não foi absurdo (até porque ela falou “Shit” em pleno agradecimento!).

Melhor ator em comédia (cinema): outro páreo duro, principalmente entre figuras excêntricas (todos eles). Mas levou o favorito, Bill Murray (Encontros e Desencontros), que é uma figuraça mas também um gosto adquirido (foi divertido ele agradecer a mulher por cuidar dos filhos enquanto está filmando, como agora quando roda uma fita em Roma, reclamar de que todo mundo está querendo se apossar da fita e finalmente falar dos atores dramáticos, “o que seria dos comediantes sem eles”).

Melhor série de TV dramática: eles lembraram da nova e divertida Nip e Tuck, mas o prêmio foi para 24, que já havia ganho no primeiro ano como ator (este foi pelo terceiro). Tem seus fãs mas eu não consegui me ligar nela. Deve ser erro meu.

Melhor ator em série comédia: ganhou o ator de The Office (claro que eu torcia para o Matt LeBlanc ou o Tony Shaloub) de quem agora eu tenho que guardar o nome: Ricky Gervais.

Melhor trilha musical: o amigo Gabriel Yared concorreu por Cold Mountain, mas ganhou Howard Shore, pelo Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei, no que parece ser um consenso (a Paula Aboul Jade, por exemplo, das melhores trilhas que já ouvi e olha que ela é compositora formada na UCLA). Ele concorreu antes pela Sociedade do Anel apenas (que lhe deu o Oscar).

Melhor canção: categoria cheia de celebridades, como Elton John, Annie Lennox, Bono, Sting. Ganhou novamente O Retorno do Rei (Into the West), ou seja, novamente Shore, junto com Annie Lennox e Frances Walsh.

Melhor roteiro (sem distinção de original ou adaptado): ganha Sofia Coppola, o que parece que irá acontecer também no Oscar (ela continua feia e mal vestida). O filme é basicamente um conto e, para mim, superestimado (embora seja uma fita que fique melhor com o tempo, pensando nela do que a assistindo).

Melhor atriz coadjuvante (TV): outro para Anjos na América, com Mary Louise Parker, até agora grande atriz de teatro (ganhou o Tony por Proof mas perdeu a versão para cinema para Gwyneth Paltrow!). E com senso de humor agradeceu seu bebê por deixá-la com os peitos grandes!

Dentre os filmes estrangeiros, estava ausente o nosso Carandiru e parecia ser o favorito o russo vencedor de Veneza, The Return (que tem distribuidor americano ativo). Embora estivessem concorrendo dois dos meus filmes favoritos recentes, Invasões Bárbaras e Adeus, Lênin, acabou ganhando surpreendentemente Osama, pelo Afeganistão, um bom filme aliás, que eu recomendei para a Imagem comprar para o Brasil (o que foi feito, que bom que dei a dica certa!). É uma fita interessante, sobre uma menina que é obrigada a se vestir de menino para sobreviver no auge do regime Talibã (tudo foi feito em locações autênticas de forma impressionante, discreta, humana e nada demagógica).

O prêmio pela carreira foi para Michael Douglas (que já chegou à idade para isso). Nada a dizer, boa gente, boa estirpe.

Fiquei contente com o Peter Jackson ganhando como melhor diretor, merecia.

Ator em Minissérie ou Telefilme: todos pareciam bem. Entre Banderas, Brolin (Sr. Streisand), Troy Garaty (filho de Jane Fonda, que aliás está ótimo no filme), Tom Wilkinson (que faz um transexual em Normal) ficaram com o favorito, Al Pacino por Anjos na América, que afinal tem o papel mais forte do filme.

Melhor ator em Drama: Crowe nem veio. Nem precisava. Cruise não percebeu ainda que é um canastrão. Mas por que Sean não apareceu? Clint Eastwood veio receber em seu lugar (diz que tinha problemas de família no Norte). Era o favorito como é também para o Oscar. Não acredito que sua posição contra Bush irá atrapalhar. É um filho querido de Hollywood, bom cidadão, boa pessoa e um ator que cresceu muito desde os tempos em que dava porrada em Madonna (e o tempo mostrou que vai ver ela que pedia isso!).

Melhor atriz em Drama: Estava torcendo por Charlize Theron (por Monster), embora gostasse de todas. E ela ganhou, merecidamente, provando mesmo que dá certo mulher bonita se enfear. Mas ela continua linda, charmosa, mesmo namorando Stuart Townsend (que estava lá).

Melhor comédia (cinema): só faltava não ganhar Procurando Nemo! E não é que ganhou Lost in Translation/Encontros e Desencontros. O que é absurdo e injustiça. Outro delírio coletivo.

Melhor filme (drama): Diante de tanta loucura, comecei a temer pela decisão, deixarem de premiar O Senhor dos Anéis. O que foi de qualquer forma um pouco de suspense para temperar uma noite de festa morna e sem grandes momentos. Felizmente foi só isso, ele acabou ganhando mesmo, como devia.

Houve poucos destaques. Fiquei chocado em ver como Marg Hengelberg estava vesga (ela não enxergava o teleprompter), num momento onde Kevin Costner não escondia seu orgulho pela filha estrelinha. Não me surpreendi que a Duquesa de York não soubesse nem falar, não tinha nada que estar ali. Achei simpático indicar a fita de sua prima Sofia Coppola (a gente sempre fala o nome na televisão errado, para não soar como cópula, que no Brasil lembrem-se, quer dizer transa sexual). Mas no geral a festa foi até mesmo cansativa. Está claro porém, obviamente, que O Senhor dos Anéis é mesmo o favorito ao Oscar. Junto com Sean e Charlize. E com justiça.

Por Rubens Ewald Filho