13
de junho de
2005
Fazia
tempo que não me divertia e tinha tanto prazer em ver
um filme quanto nesta comédia inglesa, que é das
mais originais, inteligentes e inesperadas dos últimos
tempos. Certamente não é para todo mundo. É preciso
gostar de ficção-cientÍfica, apreciar o
humor inglês, estar disposto a curtir monstrinhos (manipulados
pela turma de Jim Henson), robôs e figuras exóticas.
Estar aberto para rir das grandes questões da vida e
do universo. E não ter medo de fugir do esquemão
do gênero.
Na
verdade, a questão mais discutível do filme é a
idéia da distribuidora em dublar em português a
voz do narrador (Stephen Fry) substituindo-o por José Wilker
com a desculpa oficial de que “ainda que as cópias
sejam legendadas, a voz do Guia será dublada para evitar
um excesso de informação na tela. Isso porque toda
vez que o Guia explica algo surgem muitos efeitos gráficos,
o que acabaria conflitando com a legenda da narração.” Ou
seja, nada a ver. A narração não conflitaria
com nada, ao contrário, dá um efeito esquisito
de distanciamento. Não por causa do ator (ele tem que
correr um pouco na primeira parte, mas o resto faz com a competência
de sempre) mas por uma questão técnica, há uma
diferença clara na qualidade do áudio dublado e
do original, ficando com som de lata velha.
Atrapalhando
a sensação provocada pelo filme (um
detalhe: esperem pelos letreiros porque ao final tem um adendo
onde o guia explica mais uma coisa). Não conheço
nem o livro original, nem a série de TV inglesa que foi
extraída dele, escritas por Douglas Adams que também
colaborou no roteiro. Mas entendo perfeitamente porque se tornou
cult (parece que esta é a nona versão da história
que já foi videogame, show de radio, show de teatro, quadrinhos,
etc.). Embora eu desconfie que seja inteligente demais para um
publico preguiçoso que se desacostumou em pensar e só gosta
de consumir o que já vem consagrado de fora e super promovido
pelos americanos (ainda que seja blefe).Mas é louvável
que tenham feito o filme com um comediante britânico praticamente
desconhecido (Martin Freeman de Simplesmente
Amor e Ali
G Indahouse). O projeto já existia desde 1982
quando foi comprado por Ivan Reitman pensando em Dan Aykroyd
e Bill
Murray. Antes do autor Adams morrer, quase fechou com o diretor
Jay Roach (o nome dele está nos letreiros) para ser feito
com Jim Carrey, Hugh Laurie e Nigel Hawthorne. Hugh Grant era
a escolha do autor Adams. Depois Spike Jonze recusou o projeto
mas indicou a dupla de videomakers, especialistas em music vídeos,
Garth Jennings e Nick Goldsmith. E Garth acabou fazendo o filme,
que teve sucesso relativo nos EUA (custou 50 milhões e
rendeu até agora
42).
Mais
ou menos como os filmes e shows do falecido grupo Monty Python, O
Guia é repleto de citações
e detalhes que não vamos entender mesmo. Mas isso é para
o fã. Os simples mortais irão se identificar com
o herói Arthur Dent, que acorda certo dia para descobrir
que vão demolir a sua casa para construírem uma
via expressa. É salvo por um conhecido Ford Prefect (o
rapper Mos Def que tem se revelado ótimo ator) que lhe
conta ser um ET e que vão tentar pegar uma carona numa
nave espacial que justamente naquele momento esta para destruir
todo o planeta Terra (novamente para construírem uma outra
via expressa espacial!). Só que a nave pertence aos burocratas
e monstruosos inimigos e dali em diante eles tem que fugir, numa
sucessão de encontros esquisitos com figuras ainda mais
estranhas.
Tem
o presidente da Galáxia (Sam Rockwell, que tem duas
cabeças e parece fazer uma imitação de Tom
Cruise, prestem a atenção nisso). Tem o líder
religioso (John Malkovich [uma sátira a religião
organizada com grandes sacadas]). Tem a garota da Terra que o
herói não consegue esquecer (Zooey Deschanel).
E muitos outros achados que não vou mencionar, mas que
são brilhantes e impagáveis.
Ou
ao menos fazem pensar (o que é mais interessante é o
super computador que foi construído para encontrar as
respostas às grandes questões do universo. Ou
ao menos às grandes perguntas!). Sempre com O
Guia servindo
de condutor da história (com algumas animações
também engraçadas). O filme começa de
forma fulgurante e perde um pouco de fôlego quando tem
que contar uma história e apresentar personagens. Mas
isso sucede com quase todos os filmes, então não é novidade.
Só posso passar para vocês que eu gostei muito
do filme e pretendo assisti-lo de novo até para curtir
mais alguns diálogos e frases que acho que irão
virar clássicas (como a abertura com os golfinhos cantores).
Neste pouco espaço, mal tocamos em todas suas qualidades.
Confira.
Por Rubens Ewald Filho
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