22 de março de 2006
Há bastante tempo atrás, em 1998, o diretor romeno Radu Mihaileneau fez grande sucesso com O Trem da Vida, que muitos consideram superior ao algo semelhante A Vida é Bela, de Roberto Begnini. Só agora ele retorna, em grande estilo, com este filme, que recebeu um infeliz título nacional (que nada tem a ver), embora o original seja poético e sintomático (“Vá, Viva e Se Transforme”).
Chega também credenciado por prêmios (ganhou três prêmios em Berlim, inclusive o Ecumênico, e o César de Roteiro).
Mas, a gente sente que merecia até mais, porque tem cara de Oscar (será que não concorreu porque é uma produção multi-nacional?).
Dizem que Radu conheceu, num festival de cinema, um homem negro e judeu que o deixou intrigado.
Foi assim que resolveu contar esta história verdadeira - a primeira que vejo sobre os Falashas -, que o filme conta tão bem. Quando o Rei Salomão teve um romance com a Rainha de Sabá, teve filhos que acabaram originando uma etnia judaica, que vivia isolada nas montanhas da Etiópia. Mas, nos anos 60, quando eles estavam morrendo, dizimados pela seca, Israel mandou resgatar parte deles, levando-os para aquele país, onde continuaram sendo objeto de preconceito (por serem negros) e controvérsia (os mais radicais não os aceitavam como judeus, porque a mãe não era judia). Para complicar ainda mais, o herói, chamado Schlomo, na verdade não é judeu, mas um menino etíope que está morrendo de fome, quando a mãe dele vê uma oportunidade de salvá-lo (ela faz ele fingir que é filho de uma mulher falasha que perdeu seu filho e que o protege). Assim, ele vai para um país que desconhece, para viver sob uma religião que não entende (e que tem que aprender para conseguir sobreviver), tendo que guardar seu segredo para sempre.
Esta é a história comovente, original e verdadeira, essa farsa vivida em vários tempos e por atores, com o herói como menino, adolescente e finalmente adulto. Não chega a ser perfeita - com 140 minutos, o filme tem vários finais e poderia ser mais sucinto no final.
E quem não estiver familiarizado com a cultura judaica pode estranhar alguns detalhes.
Mas fora isso, é uma história forte, interessante, que não prega sermões (mas também, não deixa de criticar qualquer radicalismo ou preconceito). As figuras femininas são todas muito positivas (a mãe adotiva, a namorada fiel, a irmã adotiva), e não quero comentar mais detalhes da história, porque acho que este é um filme (ainda que de arte) que merece ser visto e recomendado.
Por
Rubens Ewald Filho