08
de julho de
2004
Ainda
não assistiram Homem Aranha 2 ?
O que
estão esperando?
Hollywood
finalmente parece ter dominado a técnica de fazer continuações
e, como em poucos outros casos (X-Men 2; O
Império Contra-Ataca;
O Senhor dos Anéis) melhorou na segunda vez, corrigiu
defeitos e expandiu as qualidades. Na verdade, a grande sacada
parece ser escolher o diretor certo. No caso, Sam Raimi não é apenas
experiente em fitas de gênero (foi ele quem criou a série
Evil Dead/Uma Noite Alucinante), como um apaixonado por histórias
em quadrinhos em geral, e pelo personagem em particular. Vai
contra as regras do blockbuster (por exemplo, durante o chamado
Primeiro Ato, os primeiros quarenta minutos, não tem nenhuma
cena de ação, a não ser uma piadinha com
o personagem entregando pizzas). E, no entanto, acerta em cheio.
Por estranho que pareça, Homem Aranha 2 tem várias
cenas que não tem outra função a não
ser aprofundar os personagens, acentuar características
de seu caráter. Não tem medo inclusive de fazer
referências diretas ao filme original, mesmo que após
dois anos dele não esteja tão fresco na memória,
inclusive com aparições inesperadas e não
creditadas de Cliff Robertson (o Tio) e Willem Dafoe (O Duende
Verde). O enfoque
agora é totalmente em cima do protagonista
Peter Parker (Tobey Maguire, mais uma vez confirmando o acerto
de sua escolha), acentuando não apenas o fato dele ser
um jovem nerd universitário, mas principalmente suas inseguranças,
culpas e deficiências. Pode-se dizer que o filme é basicamente
um pequeno Hamlet, ser ou não ser, assumir ou não,
ter consciência de que existe uma escolha e que nenhuma
delas trará a felicidade definitiva e sem riscos. É assunto
até pesado, que é desenvolvido inclusive em monólogos
(o vilão, que será chamado Dr. Octopus/Dr. Polvo,
ou apenas Doc Ock) num roteiro creditado ao veterano Alvin Sargent
(mais conhecido por filmes dito sérios como Lua
de Papel,
Julia e Gente como a Gente - que lhe deram Oscars). Certamente
o chamaram para dar mais substância ao roteiro, que realiza
o sonho de muito fã de quadrinhos (que espera isso, por
exemplo, do novo Batman): ou seja, não é apenas
um super-herói banal, mas um ser humano, que não
sabe o que fazer de seus acidentais super-poderes, da sua culpa
pela morte do tio e pelo seu crônico atraso. E principalmente
está vivendo sua história de amor. Peter passa
o filme todo sofrendo porque não consegue se entender
com Mary-Jane (Kirsten Dunst) que se tornou uma festejada estrela
da Broadway. São tantos os conflitos, os problemas, a
concorrência (Mary Jane fica noiva de um astronauta - e
como nada é perfeito, o ator um certo Daniel Gillies é o
pior do elenco, o que é grave porque ele potencialmente
voltará como o vilão Wolf Man). De tal forma, que é impossível
não se identificar com a dupla, torcer para que eles fiquem
juntos no final. Principalmente porque também não
faltaram as grandes cenas de ação, que ganharam
um toque de Superman (a melhor certamente é quando ele
tenta interromper um trem descontrolado com a cumplicidade dos
passageiros).
Este é outro fator fundamental do filme:
não lhe falta senso de humor. Seja em piadinhas que nem
todos vão pegar (como a referência aos problemas
de costas do ator Tobey, que quase o deixaram fora do filme),
até inúmeras citações para os fãs,
como a aparição do ator fetiche de Raimi, Bruce
Campbell (que aqui faz o porteiro do teatro que não o
deixa entrar), uma rápida ponta do criador do personagem
Stan Lee (tem que ficar atento, é o sujeito que salva
uma moça na rua, quando cai entulho nela); o astro da
série Queer as Folk/Os Assumidos, Hal Sparks, aparecendo
no elevador; o diretor John Landis como médico. E assim
por diante.
O fato é que os 45 milhões foram bem
gastos nos efeitos especiais (ainda que a princípio a
figura dele pareça artificial). Também funciona
Alfred Molina como Dr. Polvo (novamente porque também
ele é humano e tem conflitos, além de um interesse
romântico, a mulher que ama e perde, a estrela da Broadway
Donna Murphy). O fato é que o filme funciona, é empolgante,
divertido, emocionante.
Esperamos
ansiosamente pelo terceiro, sem mexer no time.
Por Rubens Ewald Filho
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