A ILHA

5 de agosto de 2005

Nem todo filme que fracassa nos Estados Unidos, é por conseqüência ruim. Vejam o caso deste novo trabalho de Michael Bay, que em cinco fitas anteriores nunca errou nas bilheterias, todas sempre foram estouro (de “Bad Boys” a “Pearl Harbor”, ainda que quase todas tenham sido com o produtor Bruckenheimer, ausente aqui). Mas mesmo com a experiência de mais de um bilhão de dólares de bilheteria em todo o mundo, ele errou a mão ao aceitar um projeto da Dreamworks (talvez porque tenha sido o próprio Steven Spielberg quem o convidou ainda que limitando o orçamento a um máximo de 120 milhões.

Muito se considerando que em duas semanas não rendeu mais de 32! Por causa disso, se fala até que a NBC irá comprar o estúdio). Difícil dizer porque. Embora tenha vários clichês de roteiro, algumas besteiras, sua trama é interessante e contém algumas cenas espetaculares de ação, como o público do diretor exige. Será que foi a história de clones que ficou difícil demais para o público? Ou há excesso de ficções-ciêntificas e fantasias nesta temporada? Ou simplesmente o título é ruim?

Talvez tenha sido um problema o fato de que o trailer revele qual é a história (mas hoje em dia todo trailer conta demais). Não confunda esta Ilha com uma fita homônima de Michael Ritchie de 1980, com Michael Caine, sobre piratas que vivem em ilha do Caribe. São parecidos apenas no nome. Esta é uma fantasia passada num futuro bastante próximo em que a clonagem será uma pratica normal e aceita, ainda que com riscos. Por uns meros cinco milhões de dólares, uma pessoa poderá encomendar uma espécie de seguro de vida: um clone, que estará a disposição para quando precisar de transplantes seja de órgãos quanto de pele. Ainda que isso crie um dilema moral: será que esses clones são humanos, gente como a gente, mesmo nascendo já adultos (através de um processo aperfeiçoado)?

Mas como sempre, viver mais uns 50, 60 anos, não tem preço, nem moral (é melhor, portanto eles nem ficarem sabendo do que se passa nos bastidores). Aqui se conta a história de um sujeito, Lincoln Six-Echo (o escocês Ewan McGregor), que vive num lugar isolado, ultramoderno, numa sociedade muito vigiada e controlada. Acontece que ele tem pesadelos e está insatisfeito, sente que deve ter algo mais na vida. Começa a fazer pesquisas, e aos poucos vai descobrindo que o mundo não está contaminado.

E que a história da ilha é conversa fiada (para manter a esperança, inventaram que certas pessoas seriam sorteadas para irem para uma ilha paradisíaca, a única que teria sobrevivido a um desastre. Eles não sabem que na verdade, os sorteados são aqueles cujos “donos” estão precisando do corpo para alguma coisa. E que serão exterminados. A ilha é uma mentira). Lincoln mantém também um romance, ainda que púdico com Jordan 2-Delta (Scarlett Johansson, outra vez inexpressiva) que justamente foi eleita para a ilha. Diante da crise e das descobertas, ele não tem jeito se não tentar escapar dali, levando Jordan e procurando uma saída. A surpresa não é tanta quando descobrimos que, o local é uma espécie de fábrica subterrânea escondida no deserto.

Como é filme de ação, com a ajuda de um amigo (Steve Buscemi, a melhor figura do filme, conseguindo compor um personagem bastante humano), eles escapam para a cidade grande, no caso Los Angeles, onde a idéia é descobrir e falar com seus donos. Em particular, o de Lincoln que é um rico e sofisticado criador de iates, que aparentemente quer colaborar com seu sósia (Ewan faz os dois papéis mudando ligeiramente os sotaques). Se começa como ficção cientifica, logo a fita se transformará em pura ação, com algumas seqüências fortes de perseguição nos arranha céus da cidade ou mesmo em estradas, onde ocorrerão várias trombadas e confusões.

Tudo muito movimentado, eficiente, como era de se esperar de Bay. As tolices (os romances, coincidências, reviravoltas muito esperadas) são desculpáveis e não comprometem nem o lado divertido, nem o lado sério. Este parecia um momento apropriado para discutir a questão moral da clonagem numa fita grande como esta.

A rejeição do público me parece mal sinal do emburrecimento geral.

Por Rubens Ewald Filho