25
de março de 2004
A primeira
impressão parecia ser que este era um Romeu e Julieta palestino.
Tem um pouco isso mas é totalmente secundário
na estrutura da historia. O filme dirigido e estrelado por Elia
Suleman foi uma boa surpresa, onde ganhou prêmio do Júri
e o prêmio da Critica (mais tarde foi indicado oficialmente
pela Palestina ao Oscar de filme estrangeiro de 2003). É uma
comédia quase de humor negro, claramente poética,
que parece as fitas de Jacques Tati e faz uma citação
de O Balão Vermelho (sobre que agora ele traz a efígie
de Arafat).
Num
tom de humor visual, com pouquíssimos
diálogos, retrata o absurdo da vida em Nazaré,
com vizinhos fazendo pequenas maldades e implicâncias com
os outros, todos passando pela humilhação das barreiras
israelenses e nisso tudo um amor sem palavras, porque não
sabem falar a língua um do outro, de um casal de raças
diferentes (e a moça numa seqüência meio boba
acaba virando uma ninja palestina). O interessante é que
o diretor/ ator Elia consegue encontrar o tom certo de humor,
tem a mão certa, sem ficar grosseiro ou vulgar ou apelativo
e nem sequer obvio. A narrativa que é lenta por natureza
(é preciso de tempo para construir as piadas) vai ficando
um pouco mais indignada ao final. Mas sem panfletarismo ou exageros
políticos. O final obviamente simbólico mostra
uma panela de pressão fervendo e a frase Pode desligar
agora.
E que
está tão atual quanto sempre.
Por Rubens Ewald Filho
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