12
de fevereiro de 2004
Nunca
levei a sério o diretor Larry Clark, nem mesmo na época
em que procurou provocar escândalo com seu filme Kids (que
no fundo era moralista, para disfarçar sua má intenção).
Piorou quando o conheci pessoalmente. Ele é drogado tipo
junkie (tem os dentes todos podres), obviamente pedófilo
e sem qualquer moral ou escrúpulo. E um pouco de talento.
Muito pouco. Seus filmes posteriores confirmaram a impressão,
com Kids e Os Profissionais (onde eles se drogaram de verdade),
o interessante Bully (ainda o melhor que ele fez), um telefilme
mal-conhecido onde também explora o erotismo pré-adolescente
(Além da Escuridão/Teenage Caveman) e este agora,
Ken Park, de 2002, que até agora ainda não foi
lançado nos EUA por causa de suas cenas de sexo explícito
juvenil. Na Austrália está proibido. Obviamente é por
isso que o filme provoca certo interesse e curiosidade, porque
não dizer é mesmo uma ousadia, ainda mais quando
se sabe como os americanos são hipócritas e fundamentalistas.
Ken Park não é um parque, mas um adolescente que
logo na primeira seqüência do filme se mata com um
tiro na cabeça. Em vez de tentar explicar o porquê desse
gesto, o filme acompanha o comportamento de um grupo de jovens,
na sua maioria garotos em seu cotidiano. Todos eles são
desconhecidos, feiosos, magricelas, com caras de white trash.
As
histórias paralelas (mas todas se unem depois) são
contadas fazendo questão de provocar clima erótico
para concluir ao final com um triângulo amoroso explícito
entre os protagonistas.
Um
deles é um loirinho que namora uma colega de classe
mas na verdade ele vai à casa dela e transa com a mãe
(aliás, numa relação bastante satisfatória
para todos. Os outros de nada desconfiam).
Outra é uma jovem mestiça (com pai muito religioso,
depois que a mãe dela morreu) que é pega em flagrante
transando com o namorado na cama (ele apanha muito e ela tem
que sofrer com os sermões do pai). E o principal que é Peaches,
que anda de skateboard, que além de treinar e fumar maconha,
tem um problema com o pai (Julio Oscar Mechoso) que abusa dele,
no fundo porque tem desejos sexuais com o garoto (e na cena mais
forte tenta fazer sexo oral).
Se
um resumo dá a impressão de que a história é sexy
e o filme atraente, nem pense nisso.
A
gente tem a curiosidade de voyeur, fica um pouco perturbado com
a amoralidade das situações, até pela
naturalidade dos garotos (o roteiro é do mesmo Harmony
Korine de Kids e o filme é co-dirigido por um certo Edward
Lachman, que é um fotógrafo experimente de fitas
como Erin Brokovich, As Virgens Suicidas). A única atriz
conhecida é Amanda Plummer, que faz a mãe de Peaches.
O
diretor Clark faz rápida aparição ao final
como o dono da banca de cachorro quente.
Segundo
os autores tanto os pais quanto os garotos são
vítimas.
Não explicam bem do quê. Não nego que exista
o que o filme mostra, e o maior mérito da fita é tornar
repulsivo algo que poderia facilmente ser erótico. Mas
mesmo assim, ainda acho que é um golpe muito bem dado
por Clark, que assim consegue provocar escândalo e notoriedade.
O
que, pensando bem, não deixa de ser curioso e talvez
até importante. Se existe, por que não pode ser
mostrado? Enfim, minha impressão é ambígua.
Aberta a discussão.
Por Rubens Ewald Filho
|