22
de abril de 2004
Foi
até bom atrasar tanto porque este mais recente filme de
Tarantino acabou sendo a fita mais esperada da temporada. E não
deve decepcionar. Gostei muito. É esperto, divertido,
engraçado, violento mas não achei demasiado, já que
tudo é feito com humor e um certo gore (cenas de sangue
explícito) mas nada tão estarrecedor. Muita gente,
porém irá discordar de mim, porque não vai
achar graça no banho de sangue (e verdadeiros chafarizes
de sangue!).
Pois
isso é normal no cinema oriental e mostrado
aqui para rir. Esse é o conselho fundamental.
Não é comédia, é ação
para humor. Não tenha vergonha de rir, aplaudir, vaiar.
Essa é a proposta do filme. Seu problema maior é que
falta ao espectador atual o referencial, não se conhece
os filmes de Kung-fu de Hong-Kong que estão sendo homenageados.
Inclusive usando o logotipo da firma Shaw Bros (que fazia os
melhores deles), o estilo de arte e apresentação.
E principalmente a trilha musical que lembra os faroestes de
Ennio Morricone. É claro que eles faziam fitas assim por
50 mil dólares e Quentin Tarantino precisou de mais que
50 milhões. Mas quem estava com medo de ter se enganado
com seu talento, que o tinha transformado no cineasta mais influente
dos anos 90, pode descansar porque sem dúvida ele continua
um bom copiador. Ou reciclador. O talento é indiscutível.
Ele consegue, por exemplo, a melhor interpretação
da carreira de Uma Thurman.
A história é sobre vingança, sobrevivência,
narrativas picotadas (o Bill, que é feito por David Carradine
do antigo seriado de TV Kung Fu – em papel que Warren Beatty
largou na última hora - nunca aparece, ouve-se apenas
a voz. Será melhor explorado na continuação
que estreou nos EUA com grande sucesso e até melhores
críticas - seria mais denso, mais profundo psicologicamente
e igualmente bem realizado). Foi Bill quem mandou matar A Noiva/Black
Mamba/Uma que está grávida (aparentemente dele),
mas que sobreviveu, ficou anos em coma e agora procura vingança.
No final da primeira parte há uma revelação
inesperada. E como sempre, ídolos decadentes em tentativa
de comeback, como o astro chinês Sonny Chiba, Daryl Hannah,
Michael Parks (o Adão de A Bíblia de John Huston).
Revendo o filme (o que eu recomendo que façam os mais
fãs), foi que pude constatar melhor o talento de Tarantino
em narrar uma história. Ele divide a ação
em capítulos, iniciando com a luta que motiva a história,
mas narrando fora de ordem. Logo de cara, Uma entra numa casa
de subúrbio, onde atende uma negra (Vivica A. Fox) que
foi uma das assassinas, mas que agora se aposentou. Imediatamente
as duas começam a lutar e quebrar a casa toda (ação
que é interrompida pela chegada da filha pequena dela).
E quando Uma risca o nome dela, repare que já houve outra
morte antes. Só que antes vamos para o hospital onde a
heroína ficou em coma. Para azar de alguns, ela desperta
justamente a tempo de descobrir que há um enfermeiro que
aluga as pacientes para serem objetos sexuais de clientes (imaginem
como será a vingança). Depois vem o aprendizado
na ilha de Okinawa e finalmente o clímax da história
que é quando ela enfrenta O-Ren-Ishi /Lucy Liu (As Panteras),
que virou a sanguinária chefe dos yakuzas locais. É aí que
Tarantino se diverte, fazendo longos movimentos de câmera,
usando truques de luta, criando vilões memoráveis
e realizando sua última batalha num cenário fake
e branco de neve. Destaque especial também para as duas
asseclas: a bela Sofie Fatale (a francesa Julie Dreyfus) e Gogo
(Chiaki Kuriyama). Tem mais o que falar, o filme é repleto
de referências e sacadas, um deleite para cinéfilo.
Curti tanto da segunda vez quanto da primeira e sou capaz de
assistir de novo. É muito divertido. Mal posso esperar
a continuação.
Por Rubens Ewald Filho
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