09
de dezembro de 2005
Sem
dúvida, King Kong é o
grande blockbuster do ano. Peter Jackson fazendo
seu primeiro trabalho depois da trilogia - e o Oscar
- O Senhor dos Anéis, não
decepciona. Dura três horas, mas isso não é um
problema. É
um show de direção, de efeitos digitais,
ao mesmo tempo fiel ao original e inovador. Sem dúvida,
muito superior à versão de 1976 com
Jessica Lange (que era ridícula, mostrando
um homem vestido de gorila). E uma revisão
fiel do original de 1933, ao qual Jackson presta
uma homenagem e faz reverência. Não
que o filme faça concessões.
Passa-se
uma hora inteira até que aconteça uma
primeira cena de ação (o navio batendo
na Ilha da Caveira), e mais meia hora até a
entrada em cena do monstro do título. Mas
nada disso importa, porque tudo funciona. O elenco é bem
escalado, a história, muito bem contada, e
a produção impecável. Toda a
fortuna gasta no projeto (calcula-se, por baixo,
U$ 210 milhões, sendo que o próprio
Jackson pagou do próprio bolso o orçamento
que estourou) esta lá na tela, inclusive com
uma recriação da Times Square de 1933
em estúdio (e depois em digital também).
Foi uma excelente decisão situar a história
nos anos 30, em plena Depressão - 1933, ano
do “Kong” original - o filme começa
com uma edição rápida, mostrando
a profissão da heroína, Naomi Watts,
atriz de vaudeville que logo ficará desempregada,
mas também a situação de pobreza
da época. Não apenas porque assim fica
mais fácil de acreditar que ainda existam
ilhas desconhecidas habitadas por monstros pré-históricos.
Mas também porque há um sentido maior
de aventura, de fantasia juvenil, sem ideologias.
Na
verdade, na adaptação há poucas
mudanças: o protagonista continua a ser um
diretor de cinema, meio Orson Welles, mas que o roteiro
tenta de todos os modos humanizar, e não apenas
retratar como um bandido egocêntrico.
O papel é feito por Jack Black, sem excessos.
Em vez do imediato do navio do original como interesse
romântico, foi criado um autor de teatro intelectual
(Adrien Brody), a quem ela já admira mesmo
antes de conhecer e que na hora certa agirá como
destemido cavalheiro.
O
fato é que o roteiro se esmera em citações
(eles pensam antes em chamar Fay Wray, que fez o “Kong” original,
mas dizem que ela esta ocupada, na RKO!), tem senso
de humor (por exemplo: “Ele é um homem
honrado? Claro, é produtor de cinema”).
Mas principalmente vai construindo cuidadosamente
o tema de “A Bela e a Fera”, ou a Bela
que mata a Fera.
Uma pena que Fay Wray tenha falecido antes, porque
o projeto original era que fosse ela a dizer a famosa
frase final.
Não há qualquer insinuação
erótica, como anteriormente (sinal dos tempos). É
um amor puro, muito bem caracterizado nos traços
do gorila gigante (novamente foi utilizada a técnica
de ter um ator como modelo para as expressões
faciais, no caso Andy Serkis, o mesmo que foi Gollum
em O Senhor dos Anéis.
Por sinal, ele também participa do filme com
seu próprio rosto, fazendo um papel forte,
o de Lumpy, o cozinheiro).
O
resultado é excelente, próximo daquilo
que o diretor pretendeu: uma releitura de “Kong”,
só que com efeitos do melhor da tecnologia
atual. Algumas coisas são propositais. Por
exemplo, a trilha musical quase contínua,
como se usava na época (Jackson recusou a
trilha que lhe foi entregue pelo compositor da trilogia,
Howard Shore; foi substituída às pressas
pela de James Newton Howard, que fez um trabalho
monumental ainda que não contenha canções
ou uma melodia mais memorável).
Se
a ação custa a chegar, depois não
pára. Tem a chegada à Ilha, o encontro
com os nativos e a oferta de Naomi como sacrifício
ao Kong. Quando vão tentar resgatá-la
começa o melhor da festa: uma sucessão
de perigos e sustos, que começa com um estouro
da manada de dinossauros e prossegue com ataques
contínuos de predadores, desde insetos gigantes
a morcegos, e o grande momento, de uma longa luta
entre Kong e três lagartos pré-históricos.
Jackson diz que fez o filme porque o “King
Kong” que ele assistiu aos 9 anos foi o que
fez ele se apaixonar por cinema (ele tentou realizar
o projeto antes de “O Senhor dos Anéis” também
na Universal, mas não foi adiante na época
porque havia outros filmes concorrentes sobre macacos
gigantes). E esse amor se percebe no carinho com
que conta a história, principalmente na famosa
parte final, quando Kong se liberta das correntes
e captura Naomi (há uma ligeira variação
na trama, que não vou contar), indo se refugiar
no Empire State onde, como manda a tradição,
ele luta contra o ataque dos aviões.
Talvez
nem tudo seja perfeito (há um visível
uso de miniaturas, um detalhe ou outro menos finalizado),
mas o resultado é nunca menos que espetacular.
E olha que não tenho o menor apreço
por macacos ou orangotangos. Mas tenho um fraco por
filme de monstro.
Se o velho “Kong” tinha tal força
para capturar a imaginação da garotada,
imagino o que este novo vai gerar e conseguir.
Foi
um filme que assisti com prazer e reverei sem problemas.
Tudo
indica que deve ser um grande sucesso e, possivelmente,
concorrente a Oscars (ao menos técnicos).
Por
Rubens Ewald Filho