A LUTA PELA ESPERANÇA (Cinderella Man)
 


02 de outubro de 2005

Este era o filme que todos tinham esperança fosse um sucesso mesmo sendo lançado na época do verão americano, quando dominam os blockbusters. E que depois ficasse para o Oscar. Mas o público o rejeitou. Para um custo de 90 milhões até que chegou a 61 milhões de dólares. Sempre elogiado pela crítica. Criaram-se várias teorias para explicar a razão do fracasso. Mas a minha é mais simples. O público quase sempre está certo.

O filme é razoável, nada mais que isso. Não excepcional, nem merece qualquer prêmio. Para mim, a culpa é do diretor Ron Howard, que apesar do Oscar, por Uma Mente Brilhante - seu melhor trabalho - é um realizador medíocre, sem invenção, tímido, preguiçoso que não se dá ao trabalho de inventar sequer uma maneira diferente ou nova de se filmar uma luta de boxe (apesar das tecnologias recentes que poderiam lhe ajudar).

Apesar de ser uma história real, de ter todos os elementos de um Rocky não é especialmente emocionante. Não faz chorar, ou aplaudir. Não me entendam mal, é um filme Classe A. Com tudo no lugar certo, mas onde a melhor coisa é o trabalho de um coadjuvante Paul Giamatti, que faz o empresário do herói e que pode muito levar o Oscar (agora de coadjuvante) que lhe negaram em 2005 por Sideways. E até com mais justiça, porque é um trabalho mais completo e matizado.

Enfim, dizem que por trás deste inócuo titulo nacional se esconde uma lenda do boxe americano, a vida de Jim Braddock (Russell Crowe) que depois de ter tido uma boa carreira como peso médio entrou em decadência e acabou na miséria, perdendo tudo e trabalhando nas docas (quando dava) para trazer comida para casa e seus três filhos pequenos (um dos problemas do filme é que o roteiro simples, pula essa parte da decadência, uma hora ela esta por cima, na outra passando fome. Também o retrato da Depressão econômica não é suficientemente enfatizado ainda mais para uma geração desinformada como a atual. São apenas menções e problemas cotidianos, com uma novidade, a favela que se formaram no meio do Central Park.

Os problemas sociais e políticos também são tratados com superficialidade. De qualquer forma, Braddock está na pior quando consegue milagrosamente, depois de até pedir esmola, uma segunda chance, o que no sonho americano é muito raro. Por isso, a mesma imprensa que o destruiu, agora criou outro mito, o Cinderelo, o sujeito que deu a volta por cima depois de passar fome, ou seja, passa a ser um modelo e exemplo para o homem comum, os milhões que estavam como ele na mesma situação. Um exemplo e ídolo. O roteiro foi muito criticado por pintar um retrato cruel demais do campeão mundial de boxe Max Baer, que seria prepotente e até sanguinário (quem o interpreta tornando-se quase irreconhecível é Craig Bierko, que vi na Broadway estrelando “The Music Man”). Mas é para criar clima para o grande embate. Recomeçando do nada (o filme não deixa muito claro a idade que Braddock, está na hora da luta pelo titulo), ajudado também pela sorte e determinação teremos como clímax a luta final (não se revela o final porque brasileiro não sabe, nem lembra de um fato tão distante).

Outro problema: o sub-mundo do boxe, dominado por gangsters principalmente naquela época, é outra coisa que não se discute ou se mostra com maiores detalhes. Uma grande barreira para não gostar do filme foi a presença de Renee Zelwegger como a esposa do herói, já que a atriz continua fazendo biquinho, e foi uma escolha totalmente inadequada (qualquer atriz com cara de ser humano poderia tê-la substituído melhor mas claro que hoje tem botox na cara!). Já Russell Crowe é mesmo um ator na acepção da palavra, ele emagreceu, ficou até com o rosto diferente (nas cenas de boxe cheguei a achar que era um duble). Compôs um tipo convincente mas nunca me empolgou. Talvez culpa do script, talvez da direção que conta a história com fotografia muito escura (porque coisa velha tem que ser sombria?) e ângulos convencionais. (Crowe deslocou o ombro durante os treinos o que adiou o filme por dois meses. Sofreu também varias contusões e dentes quebrados). Penny Marshall e Lasse Hellstrom foram dois cineastas que estiveram para realizar o filme. Mas o tema talvez precisasse de alguém com mais garra, tutano, algum Scorsese que estivesse na melhor forma.

Este A Luta pela Esperança é um filme que se pode assistir mas não suporta comparações com outros grandes filmes que já foram feitos sobre boxe.

Por Rubens Ewald Filho

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