30
de junho de 2004
Fracasso
nos Estados Unidos, decepção em Cannes, este Matadores
de Velhinhas é um titulo infeliz para um filme infeliz.
Assim se perde o duplo sentindo (ladykiller seria também
um conquistador tipo Don Juan). Bom mesmo seria conservar o nome
da versão original Quinteto da Morte. Porque este filme
de 55 era uma obra-prima de humor negro da Ealing, dirigido por
Alexandre MacKendrick (Um Peixe Chamado Wanda) e estrelado por
Alec Guinness, Herbert Lom e o bem jovem Peter Sellers. A idéia
original é conservada. Um grupo de ladrões, disfarçados
de músicos, se hospeda na casa de uma velha excêntrica
(Katie Johnson no original) para poderem fazer um túnel
e assaltar um cofre vizinho. Quando a velha descobre e os obriga
a devolverem o dinheiro, o jeito é matá-la.
Só que é mais fácil falar do que fazer. É sempre
um erro refazer obras-primas, ainda mais quando recentes e coloridas.
Não há desculpa para os Irmãos Coen. Vergonha.
Não têm nada melhor a fazer? (além disso,
pela primeira vez os dois assinam a direção nos
créditos. É que, quando começaram, o sindicato
criava problemas e Ethan assinava sozinho. Agora já liberaram
e eles resolveram assumir a parceria). O primeiro grande erro é a
presença de Tom Hanks. É raro, mas ele também
erra. Ele faz o chefe do bando, um pedante professor que vive
recitando poesias de Edgar Allan Poe e usando palavras difíceis. É tudo
tão falso, que fiquei o filme todo esperando que ele arrancasse
o disfarce, o dentinho artificial, e revelasse alguma surpresa.
Mas isso não sucede. É certamente o pior momento
de toda a carreira de Hanks. Outro grande erro é que,
em vez da doce e adorável velhinha do original, colocaram
uma senhora negra (Irma P. Hall, veterana coadjuvante) de pernas
arqueadas e temperamento inflamado, que vive dando tapas nas
pessoas, é excessivamente religiosa e chata. E para agradar
mais o público negro, colocaram como um dos ladrões
o comediante Marlon Wayans, que fala uma gíria completamente
indecifrável. A ação agora parece ser contemporânea
(por causa das gírias e certas piadas), mas ao mesmo tempo às
vezes dá a impressão de ser de época. Ou
seja, fica num clima de faz de conta, com uma cidade sulista
do Missouri em vez de Londres e uma balsa de recolher lixo em
vez da linha férrea. Quando aproveita as idéias
do roteiro original o filme funciona bem, mas escorrega com freqüência
no absurdo (embora seja difícil deixar de rir em certos
momentos como, por exemplo, o cachorro que morre sufocado, o
gato que vive fugindo...). Como não é todo mundo
que embarca no humor negro, o filme não é para
qualquer publico. Dei algumas risadas, me irritei com outras
coisas e fiquei com a impressão geral de que este é o
pior filme dos Coen, em todos os tempos.
Por Rubens Ewald Filho
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