10
de junho de
2005
Deve
ser um outro caso de alucinação individual ou coletiva.
Você resolve.
Ando
lendo por aí que este filme é a redenção
de Woody Allen e sua volta à forma. Mas não foi
esse o filme que eu vi. Nem o que se depreende no exterior, onde
a fita foi enorme fracasso (não chegou a quatro milhões
de renda nos EUA), também massacrado pela crítica.
Alguém
errou, ou vimos o filme diferente. Parece que Allen melhora novamente
no filme “Match Point “,
que passou agora em Cannes (não vi) e que ainda não
tem distribuidor porque estão pedindo muito caro. Mas
aqui consegue fazer um de seus piores trabalhos, a tal ponto
que, fica difícil entender a história. A proposta
do filme é, contar a mesma história de duas maneiras
diferentes, como drama e como comédia. Isso a partir de
uma mesa de bar onde um grupo de intelectuais, procura mostrar
que tudo na vida pode ser encarado de maneira diferente, como
tragédia ou comédia. E ilustram isso com a mesma
situação, com ligeiras mudanças. Mas tudo é tão
mal contado na tela, que por vezes você não consegue
diferenciar o que é para rir ou para chorar. Porque nenhuma
das duas versões tem qualquer graça.
Às
vezes, a única indicação é o
coitado do Will Ferrell tentando fazer uma imitação,
descarada e infeliz do jeitão de Allen (que não
esta no elenco). O que eu vi foi um exercício de estilo
inútil e mal feito , realizado com um orçamento
mínimo e tudo aquilo que antes parecia estilo mas que
Allen recusa evoluir : mesmo estilo de trilha musical, letreiros,
interpretação, sendo que este é o pior elenco
com que já trabalhou, praticamente todos são desconhecidos
ou quase. E a figura central é a australiana Radha Mitchell,
de “Em Busca da Terra do Nunca” que tem uma figura
interessante, mas não consegue deixar sua marca mesmo
sendo as duas Melindas.
O exercício
envolve dois casais a partir do mesmo ponto de conflito: uma
antiga amiga que chega
inesperadamente na casa
de um casal. No drama, ela chega numa noite de
chuva, e encontra a antiga amiga (Chloe Sevigny) que vive com
um ator alcoólatra
(Jonny Lee Miller). Na comédia, ela é vizinha do
casal, onde a mulher (Peet) é uma diretora de cinema que
procura financiamento e o marido também ator desempregado.
Nos dois casos, tudo vai terminar em adultério. Digo tudo
com tranqüilidade,
porque já fui admirador de Allen e fico triste em constatar
sua decadência. Provocada pelo excesso de trabalho (um
filme por ano acaba provocando um resultado irregular, vai faltando
inspiração) e por sua recusa de mudar ou evoluir,
refazendo sempre as mesmas situações e personagens
(embora agora já apareça menos como ator). Era
melhor voltar a ser seletivo, polir mais as piadas, talvez fugir
do ambiente nova-iorquino de sempre (em “Match” ele
rodou na Inglaterra e o próximo filme também será feito
lá, já que conseguiu patrocínio da BBC Filmes,
nos EUA ninguém mais quer saber dele).
Enfim,
se quiserem tirar a duvida, o risco é de vocês.
Mal consegui rir uma ou duas vezes na fita . O que se pode elogiar é o
fato dele insistir em fazer os filmes que gosta e que deseja,
sem fazer concessões de qualquer espécie. Mesmo
que o publico já o tenha abandonado.
Por Rubens Ewald Filho
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